Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Fotos de capa em dezembro 31

  * Victor Nogueira


2021 12 31 Fotos victor nogueira - Vila Nova de Cerveira (pelourinho, antiga Casa da Câmara e Paços do Concelho) e Vila Real  (pelourinho)

VER     Pelourinhos 51 / Municípios 25 - Vila Nova de Cerveira e Vila Real


2021 12 31 Uma brevíssima passagem para desejar-vos um 2022 com muita "fartidão" e "fartoso", que vos dê os  donairosos dons da fala, da escrita e da retribuição,  E para quem quiser, recebam os moços um abraço e as moças um beijo, se mal não parecer. (No grupo dos Antigos Alunos do Instituto Superior Económico e Social de Evora ou ISESE)



E não são necessárias mais palavras. Façam tudo isso com destemor e muita saúde e terão um bom ano de 2022. Que assim seja para todos os amigos e amigas, com humor/amor/amizade, alegria e fantasia, sem esquecer alguns trocos para os gastos !


2020 12 31 - Volpedo - o 4º Estado


2020 12 31 A vida dos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel – cartum [Al-Arabya] in https://www.monitordooriente.com/20191004-o-isolamento.../



2020 12 31 Alexandre O’Neill - Perfilados de Medo

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…


2019 12 31 foto victor nogueira - autocarro na Belavista, em Setúbal (2019.12.17)

VER   Nocturnos em Setúbal, decembristas


2017 12 31 Cumprindo o ritual, um bom ano, com saúde, soalheiros dias e românticas noites
🙂
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
© EUGéNIO DE ANDRADE
In Os Amantes sem Dinheiro, 1950
·
foto victor nogueira - setúbal - pormenor da estátua do actor setubalense Carlos Rodrigues (Manuel Bola), da autoria do escultor Jorge Pé Curto, inaugurado em 2016.12.11




2017 12 31


2016 12 31 Carlos Drummond de Andrade, RECEITA DE ANO NOVO


2015 12 31 cartoon de Luís Afonso in Público 2015.12.31


2015 12 31 Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano Novo


Susan Branch
Feliz ano de 2015. ❤
 
2014 12 31 Cecília Barata






2014 12 31

2013 12 31



Pelourinhos 51 / Municípios 30 - Vila Nova de Cerveira e Vila Real

 * Victor Nogueira



2021 12 31 Fotos victor nogueira e Carolina Figueiredo - Vila Nova de Cerveira (pelourinho, antiga Casa da Câmara e Paços do Concelho) e Vila Real (pelourinho)

Bordejando a estrada segue o rio Minho para montante, por entre o aprazível arvoredo e o cintilar das águas. Vila Nova de Cerveira é palco da bienal de arte, que não visitamos. Ruas estreitas, as muralhas dum castelo à beira-rio. Um vasto e aprazível passeio arborizado, as embarcações esguias presas a varapaus na margem portuguesa, eis a imagem que perdura na minha lembrança

Tal como o castelo com alguma imponência em terreno chão, junto ao rio Minho. Ferry boats ligam as duas margens: portuguesa e espanhola.  (Notas de Viagens, 1997.08.21)

Vila Nova de Cerveira -À beira do rio Minho. Largo com esplanadas e muita gente, obelisco e canhões. Castelo/pousada (pequeno, com casas, igreja, pelourinho e antiga casa da Câmara no interior). Catedral barroca. Bienal de Artes. (Notas de Viagens 1998.06.11)


«A fundação de Vila Nova de Cerveira é geralmente atribuída a D. Dinis, cujo esforço povoador, a par da construção do actual castelo, ampliou muito o número de moradores da pequena localidade pré-existente. No entanto, a povoação de Cerveira existiria já desde os alvores da nacionalidade, inclusivamente como burgo fortificado, de acordo com a sua situação fronteiriça. Assim, terá existido uma torre, ou mesmo um primitivo castelo, ainda na época de D. Afonso III, quando urgia fazer frente às ainda frequentes incursões leonesas. A "pobra", ou póvoa, de Vila Nova de Cerveira, possivelmente numa zona distinta do aglomerado inicial, é por fim fundada por D. Dinis, que lhe outorga o primeiro foral em 1321. A vila recebe Foral Novo de D. Manuel, em 1521; no entanto, o actual pelourinho terá sido levantado apenas em 1547, de acordo com a data inscrita no mesmo monumento.


A Casa da Câmara construía um dos símbolos do poder municipal, dando corpo ao poder da assembleia dos homens bons, enquanto representantes do concelho. A primeira fase deste edifício é do século XVI, embora tenha amplas reformas no século XVIII, altura em que foi colocado o escudo barroco na fachada. Mais antigo é o escudo que contém a heráldica concelhia: o cervo sustendo o escudo real.

Ergue-se este pelourinho naquela que foi certamente a sua implantação original, no interior das muralhas do castelo, diante do edifício que foi o da antiga cadeia e Paços do Concelho, reconstruído em 1598 e alterado em 1768. Possui aspecto muito rústico, para o que contribui o facto de o fuste parecer assentar directamente sobre o soco. Este é constituído por uma plataforma de três degraus quadrangulares, em pedra toscamente aparelhada, sendo o degrau térreo mais semelhante a uma plataforma elevada, destinada a vencer o desnível do pavimento. Sobre este soco assenta um largo plinto, dando a impressão de um outro degrau, distinto apenas no talhe biselado das arestas. O fuste, esguio e liso, é de planta octogonal, mas remata num troço de planta quadrada, ao modo de ábaco. Sustenta um capitel paralelepipédico ornamentado com quatro escudetes, exibindo as armas de Portugal e as armas dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira, em faces alternadas. Conserva ainda a data de execução, 1547, respeitante ao senhorio de D. Francisco de Lima, 5º visconde. Entre o topo do fuste e o capitel estão os quatro ferros de sujeição, em cruz, terminados por serpes. Falta apenas a golilha, instrumento de sujeição dos condenados à exposição pública, que foi arrancada por volta de 1850. O capitel é rematado com um "chapéu" cónico, com oito faces, encimado por um boleado. Todo o conjunto é em granito.»  (SML – DGPC)

Paços do Concelho (Foto Carolna Figueiredo)



Paços do Concelho - Arquitectura civil política e administrativa, novecentista e revivalista.  O carácter rústico que envolve o portal principal, aponta para um gosto clássico, surgindo alguns elementos revivalistas neobarrocos, nos pormenores decorativos das consolas e fechos dos arcos. O andar nobre é marcado por janelas de sacada na fachada principal, as da sala de sessões abertas para sacada única, assente em consolas.  

Em   1909 o Governo Civil aprovou o projecto para um novo edifício, assinado pelo arquitecto Carlos Fernando Leituga. Em 2015 é aberto um concurso publico para adjudicação da construção dos novos paços do concelho, segundo um novo projecto, mais reduzido Em 1921 a obra ´r dada por concluída com a inauguração do novo edifício.  (Paulo Amaral 2004 in    Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira - Monumentos.p


Vila Real - Largo do Pelourinho


A saída de Amarante pela IP 4 tem uma vista muito bonita, mas não sem podem tirar fotos. O caminho é muito montanhoso e verdejante, com videiras e pinheiros e casas espalhadas pelas encostas; de vez em quando avista-se o campanário duma igreja. Nalguns troços árvores queimadas testemunham pretéritos incêndios.

Atravessamos o rio Ovelha (?) a 27 km de Vila Real e os vales lá ao fundo são profundos, mal se distinguindo por entre a neblina. 

As encostas já não são de cultivo, estando cobertas de erva rasteira, nem sempre uniformemente. Os nossos ouvidos zunem por causa da altitude e das diferenças de pressão; estamos na serra do Marão. Há um dito popular: “Para cá do Marão mandam os que cá estão”.

A neblina é cada vez maior; são 17h 40m e estamos a 17 km de Vila Real. Dois km depois começa uma íngreme descida e a visibilidade aumenta.

Vila Real - Cena: mulher chamando pelo “amarelinho”, que se descobre ser um gato, para dar-lhe de comer.

Rua pedonal com casas de dois pisos e varandas de sacada em ferro forjado. Muito comércio.   Rua Sarmento Pelotas, herói da I Guerra Mundial, que vai dar ao rio. Varandas de madeira e cruz em madeira do Senhor dos Desamparados. Portal com almofadas e ombreira superior trabalhadas.

Placa central ajardinada, com fonte e igreja num dos topos. A meio a Catedral e a casa de Diogo Cão. (Notas de Viagens 1999.09.02)


Vila Real, a cerca de 425 m de altitude. Nesta cidade, lá no fundo do vale, passa o rio Cabril, subafluente do Corgo, desaguando este no Rio Douro. Começa a chover copiosamente. A caminho de Chaves o arvoredo é mais variado e com verde de muitos matizes. Nesta zona há muitos castanheiros.

Vila Real Foto a uma ponte. Carro que chocou com a placa central, cujo motorista ia bêbado ou na “marmelada”. (Notas de Viagem 1999.10.24)


De Lamego à Régua pela estrada velha, cheia de curvinhas e postes de electricidade com fios de alta tensão atravessando o espaço. Muitas barreiras nas curvas estão partidas por vários acidentes de automóveis que foram parar lá abaixo.[Numa das vezes em que pelo IP4 fomos a Vila Real estava um nevoeiro cerrado, mal se vendo um palmo á frente do nariz. Mas, apesar disso havia automóveis que nos ultrapassavam a uma velocidade “louca”, como e a estrada fosse retilínea e a vista desimpedida)  Cultura do trigo em socalcos. Qual será a sensação dos ocupantes dos carros que se precipitam no abismo? Ponte do caminho de ferro desactivada. Há várias pontes que atravessam o rio Douro. Passamos na Régua pela 2ª vez.

A caminho de Vila Real encontramos um cavalo branco a pastar na montanha (foto)

Vila Real - Fotos à casa onde nasceu Diogo Cão, descobridor de Angola, ao palácio dos Condes de Vila Real. Igreja de Nasoni ou Clérigos, anjo e tecto.  Fotos: igreja de Nasoni (onde Fátima noutra vez ficou no exterior) – altar mor Igreja de S. Pedro – anjo (talha dourada) e tecto (pintura) – foto ao altar-mor Igreja de S. Domingos – fotos ao vitral e pormenor da porta lateral.

Saída de Vila Real – 1354 km. (Notas de Viagens 1999.10.30)


«Vila Real, como o nome indica, é localidade de fundação régia, tendo recebido o primeiro foral em 1272, pela mão de D. Afonso III, e renovação dada por D. Dinis em finais do século. com a denominação de Vila Real de Panóias. Teve foral novo, manuelino, em 1515. Do pelourinho que então terá sido erguido, à semelhança do que então se fazia por todo o país, restavam apenas alguns fragmentos guardados na Câmara Municipal, entre 1865 (quando a vereação deliberou apeá-lo, por dificultar a passagem das carruagens) e meados do século XX. Terá sido a partir destes vestígios, bem como de antigas fotografias e gravuras, que a vereação mandou fazer o actual monumento, aparentemente cópia do original. De acordo com o testemunho de alguns autores, o actual pelourinho aproveita ainda a coluna quinhentista octogonal, ou parte desta, e algumas cantarias avulsas (Correia de AZEVEDO, 1972).


O monumento manuelino foi levantado na antiga Rua da Praça, hoje Largo do Pelourinho, onde a réplica se encontra igualmente na actualidade, embora não tenha sido sempre assim. Quando as pedras foram remontadas, em 1939 - 40, o pelourinho passou a levantar-se diante do edifício dos Paços do Concelho, onde ficou até 1996, data na qual regressou à primeira localização. Consta de um soco formado por três degraus oitavados, de parapeito, o primeiro destes ficando semi-enterrado na calçada; sobre este soco ergue-se o fuste oitavado, assente num paralelepípedo ainda octogonal, de faces lisas. O fuste é rematado por uma gaiola, pequena peça de arquitectura de planta oitavada, vazada em quatro faces por aberturas em arco redondo, e integrando micro-contrafortes cilíndricos, rematados por florões, nas faces intermédias. Assenta num capitel em forma de cúpula invertida, de oito faces. O conjunto é coroado por uma cúpula rematada em florão, sobre o qual se fixa uma cruz em ferro com bandeirola.

A reconstituição data da mesma altura em que outros pelourinhos do país foram feitos de novo ou recolocados nos locais originais, participando de um entusiasmo revivalista que servia igualmente a vontade de afirmação dos municípios. » (SML – DGPC)

VER

Vila Nova de Cerveira (1)

Vila Nova de Cerveira (2) e rio Minho

Entre Caminha e Vila Nova de Cerveira, passando por Vilar de Mouros, em 1998

Templos religiosos 37 - Vila Praia de Âncora, Vilar de Mouros e Vila Nova de Cerveira

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Fotos de capa em dezembro 30

 * Victor Nogueira


2021 12 30 - Turquel (Coutos de Alcobaça) e Vila do Touro (Sabugal) -pelourinhos



Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano Novo


2020 12 30


2020 12 30 Carta ao filho  

Não vivas sobre a terra como um estranho
Um turista no meio da natureza.
Habita o mundo como a casa do teu pai.
Crê na semente, na terra, no mar.
mas acima de tudo crê nas pessoas.
Ama as nuvens,
as máquinas,
os livros,
mas acima de tudo ama o homem.
Sente a tristeza do ramo que murcha,
do astro que se extingue,
do animal ferido que agoniza,
mas acima de tudo
Sente a tristeza e a dor das pessoas.
Alegra-te com todos os bens da terra,
Com a sombra e a luz,
com as quatro estações,
mas acima de tudo e a mãos cheias
alegra-te com as pessoas.
.
Nazim Hikmet, (1902 - 1963) c. 1960.
Traduzido do inglês por Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
.
Escritor e poeta turco nascido em Salonica, Grécia, então parte do império otomano, que, perseguido por suas idéias políticas, marcou profundamente a literatura turca ao romper com a tradição islâmica e sob a influência dos futuristas russos, propôs a despoetização da poesia. Pensando seguir uma carreira militar, entrou para a academia naval de Istambul e serviu na Marinha, da qual foi expulso (1919) por atividades revolucionárias. Partiu para Moscou, onde estudou ciências políticas e sociais por cinco anos, na Universidade Comunista de Moscou. Regressou à Turquia (1924), após a proclamação da república e tornou-se conhecido com seus primeiros poemas, de cunho patriótico. Condenado (1938) pela suposta participação num complô, após ser posto em liberdade (1950) por força de uma intensa campanha internacional, radicou-se então em Moscou, onde morreu. Publicou as coletâneas 835 satir (1929) e 1 + 1 = 2 (1930), os poemas históricos Sesini kaybeden sehir (1931) e Benerci kendini niçin öldürdü? (1932), as peças para teatro Kofatos (1932) e Unutulan adam (1935) e lançou uma autobiografia em Berlim (1961).


2020 12 30


2020 12 30 fotos victor nogueira e rui pedro - o trio dos caçulas



2019 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade


2019 12 30  foto victor nogueira - Setúbal - Bairro da Belavista - Escultura "5 Continentes", do Núcleo Museológico Urbano da Bela Vista denominado “O Museu está na Rua”, do escultor João Limpinho, que pode ser vista em Estatuária em Setúbal 11 - Belavista - “O Museu está na Rua”
 

2016 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade 



2015 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade 


2014 12 30


2014 06 21 foto victor nogueira - em Lisboa (Alfama)



2014 23 30 - isto dos calendários e dos ciclos anuais tem que se lhe diga. Já não se diz 2015 dC (depois de Cristo) mas 2015 dEC (da era comum). Só que a era comum que se pretende impor continua a ser a Cristã/Católica Gregoriana, pois maometanos, judeus e chineses entre outros têm diferentes calendários. Tal como cada um de  nós, cujo ciclo de vida inicia a contagem a partir do dia do nascimento.

OPINIÃO - Mudar tudo para que tudo mude - JOSÉ VÍTOR MALHEIROS 30/12/2014 -

ESCREVE O ARTICULISTA
Feliz Natal. Bom Ano Novo. Repetimos as fórmulas, escrevemo-las em cartões, em mensagens de mail. Por que o fazemos? Para exprimir os nossos desejos. Para que aqueles a quem endereçamos os nossos votos saibam que nos preocupamos com eles e que lhes desejamos alegria, felicidade, saúde, bem-estar, amor. Para que serve isso, além de cumprir um ritual, de manter uma tradição? Apenas para manter a cola social que faz de nós uma sociedade em vez de seres isolados? (...)

Não só. Há nestes votos uma superstição implícita. Dizemos “Feliz Natal” como um conjuro, como se as nossas palavras pudessem invocar os lares e os penates e forçá-los a conceder as suas bençãos. Como quando desejamos “as melhoras” a um doente. Não é apenas um desejo pessoal, um sentimento interno e secreto, mas um voto público, um desejo anunciado, quase uma imprecação, quase uma oração. É verdade que dizemos e escrevemos tudo isso mecanicamente, sem pensar, mas as raízes do gesto e das palavras estão por aí. No lançamento de cada “Bom Ano Novo” há uma esperança demiúrgica. Há um eu primitivo que convoca os deuses, que acende uma fogueira na noite e que levanta os braços ao céu, que sonha que os poderes da terra e do fogo estão ao seu alcance.




2014 12 30 - ISTO NÃO É UM POEMA MAS SIMPLES DESALINHAVADO

quem responde ao meu apelo
não será quem eu quero
e
quem eu quero não sei quem seja
.
os dias e as noites liquefazem-se
e o meu sorriso é uma máscara que se me colou à pele
.
dentro da máscara e para lá do sorriso
uma crisálida moribunda
na busca do desassombro das portas e janelas abertas
ao sol, ao vento, à maresia, ao viandante sem arnês, andarilho ou maltês ....
.
na ressaca das ondas vem um país pequenino
vazio, frio e cinzento
um país de meias tintas e lantejoulas de pechisbeque
e salamaleques com mil reverências a suas "insolências"
preso a séculos de sujeição, de inquisição e de pinas maniques
com o passado como tiques
e, mesmo na penumbra, com medo da própria sombra !.
Resta-me a recusa
de não ser capacho ou mata-borrão
e a afirmação
da não sujeição!
Dói e rói esta solidão pela recusa em ser a formiga no carreiro !

Mindelo 2014.12.30


2013 12 30 O PCP e as ditaduras

Pelourinhos 50 - Turquel (Coutos de Alcobaça) e Vila do Touro (Sabugal)

 * Victor Nogueira



021 12 30 - Turquel (Coutos de Alcobaça) e Vila do Touro (Sabugal) 

Turquel - Prosseguindo a viagem a corta mato, para sul, deparamos com Turquel, outrora denominada Villa Nova de Turquel, com prédios modernos, altos,  e com mais vida, nos cafés - parece uma povoação mais cosmopolita e modernaça, até no trajar das pessoas. Contudo é uma povoação menos simpática que a anterior [Évora de Alcobaça], com o pelourinho perdido no meio de casas sem história. A Igreja matriz de N. Sra. da Conceição, mandada edificar pelo Cardeal D. Henrique, tem um portal manuelino mais pobre e não conseguimos nela entrar, apesar dos cânticos que se ouvem, pois as portas interiores encontram se aferrolhadas. Entre esta e o largo do Pelourinho situa-se a Capela do Senhor do Hospital, da antiga Misericórdia. Nela existe um crucifixo carbonizado que segundo a lenda teria sido deixado por um mendigo que por uma noite se albergara e desaparecera sem deixar rasto. Aliás lendas não faltam na região, relacionadas com mouras.

Na íngreme calcetada rua da Neta persistem algumas casas rurais, duas delas com escadaria exterior. Registo outros nomes como o do largo do Pelourinho e as ruas do Relego, Principal, do Lagar e do Outão.

Daqui seguimos de novo para norte, rumo a Alcobaça. (Notas de Viagem, 1998.02.08)


Turquel foi vila e sede de concelho entre 1352 e 1836.. «D. Afonso Henriques outorgou o termo de Turquel à Ordem de Cister, no século XII, e a povoação veio a constituir a determinada altura a mais importante das 14 vilas dos Coutos de Alcobaça, cujo donatário era o Abade do Mosteiro de Santa Maria. O seu primeiro foral foi dado por D. Frei Pedro Nunes, Abade de Alcobaça, em 1352. Teve ainda foral novo dado por D. Manuel, em 1512, na sequência do qual se terá erguido o pelourinho que ainda hoje se conserva na povoação. O antigo conselho de Turquel foi extinto no século XIX, e é hoje freguesia de Alcobaça. Em data incerta, ainda que após a extinção do município, o pelourinho foi retirado da sua implantação pública e guardado no Museu do Carmo, de onde regressou em 1947, para ser recolocado, de acordo com as informações disponíveis, no local primitivo.

O pelourinho assenta em três amplos degraus circulares, de rebordo boleado, e de factura moderna. É constituído por base, coluna, capitel e remate, nem todos elementos originais. A base da coluna é circular, em cesto invertido, com decoração tardo-gótica de botões entre nervuras espiraladas. O fuste é cilíndrico, constituído por dois troços unidos por anel medial moldurado, sendo cada troço decorado com caneluras espiraladas à esquerda, entremeadas por séries de florões quadrifoliados. O conjunto é rematado por capitel de secção quadrangular, decorado com folhagens centradas nas arestas, e assente em estreito astrágalo circular. É encimado por ábaco quadrangular em molduras crescentes, no qual assenta o remate. Este é composto por uma pirâmide quadrangular com decoração de cogulhos em três registos sobrepostos, coroada por um peça esferóide achatada. Numa das faces do remate destaca-se ainda uma figura humana relevada, vestida com um manto, que tem sido interpretada como Nossa Senhora da Conceição, padroeira da freguesia, ou ainda uma evoçação dos Abades de Alcobaça, senhores de Turquel. » (SML – DGPC)


Vila do Touro Fotos: castelo ao longe, janelas manuelinas, igreja românica, pelourinho. Nas casas em pedra existem muitas janelas manuelinas.

Bicas com ditos: “A união faz a força” e “Venha e vá com Deus”. Do castelo só restam a porta e pedras.

A Câmara [do Sabugal] não deixa a velha vender a janela manuelina e noutra, rebocada, os velhotes dizem-se arrependidos e que se fosse agora não o teriam feito, pois a pedra não rebocada tem hoje mais valor. Outro velhote diz que se fosse hoje também não teriam deitado abaixo o castelo, pois são coisas que dão valor mas noutro tempo não era assim. Muitas das janelas manuelinas foram outrora compradas por americanos que as levaram para os EUA, ao que me dizem. (Notas de Viagens 1998.07.12)


Vila do Touro foi vila e sede de concelho entre o início do século XIII e o início do século XIX. «Com um topónimo - "Touro" - a denunciar uma fundação remota, desde, pelo menos, o século XII, ainda que supostamente derivado do nome próprio Taurus ou de características geográficas da região, Vila do Touro ostenta inúmeros vestígios arqueológicos que evidenciam bem a diversidade e a excelência dos recursos cinegéticos que desde sempre dispôs às comunidades humanas que percorriam o seu território e nele procuravam sobreviver e fixar-se, e à qual não foi, certamente, estranha a existência de várias linhas de água que o atravessam, irrigando e fertilizando os seus campos.

Inserido numa paisagem dotada de inegável beleza natural, o actual termo de Vila do Touro dispõe de um posicionamento estratégico que permitiu às suas gentes disporem de um domínio visual sobre os terrenos circundantes, uma particularidade essencial em termos defensivos.

Potencialidades que foram rapidamente aproveitadas ao tempo da reconquista cristã, quando do repovoamento de toda a região do Alto Côa, edificando-se, então, o castelo de Vila do Touro, povoação então situada numa zona de profunda instabilidade política decorrente da indefinição do traçado fronteiriço, razão pela qual a sua jurisdição foi entregue, por D. Afonso II (1185-1223), que a fundou, à Ordem dos Templários, cujo Mestre, D. Pedro Alvites, lhe outorgou foral, decorria o ano de 1220.

Entretanto, e à semelhança do que sucedia com a Vila de Sortelha, a assinatura do Tratado de Alcanizes, em 1297, ditou o declínio da importância outrora fruída pelo seu sistema defensivo que nunca chegaria a ser ultimado, numa realidade reforçada pela ausência de confirmação do anterior (vide supra) foral, por parte de D. Dinis (1261-1325), contrariamente ao que ocorreu em Sortelha. Uma situação somente ultrapassada com D. Manuel I (1469-1521), que lhe outorgou novo foral, em 1510, como forma de incentivar o seu desenvolvimento económico e, por inerência, o seu povoamento.

É justamente a esta última etapa que remonta o "Pelourinho de Vila do Touro", erguido no largo da igreja matriz, construção de igual modo quinhentista.

É sobre soco formado por três degraus de planta circular que assenta a coluna de fuste com a mesma configuração - com base quadrangular - e capitel de secção circular coroado por peça de igual secção e uma segunda em forma de ábaco curvado, elementos estes encimados por pinha cónica.» (AMartins – DGPC)