Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Paço de Arcos no antigamente

`Victor Nogueira

Sempre gostei de Paço de Arcos, naquele tempo em que o Centro Histórico tinha a dimensão e a comvivialidade duma pequena aldeia, onde todos se conheciam e cumprimentavam, ficando para norte da via férrea a zona das vivendas, no tempo em que o único "arranha-céus" era o prédio do J. Pimenta, defronte à estação ferroviária, com miradouro sobre o Tejo. Mas havia outros prédios construídos pelo J. Pimenta, na Avenida do Senhor Jesus dos Navegantes e mais adiante, junto à Escola Náutica. A ligação entre as duas "Paço de Arcos", a norte e a sul, era feita através duma passagem de nível com guarda e respectivo funcionário com a sua bandeirola, no tempo em que o Chefe da Estação apitava exclamando  Partida" e o comboio retomava a marcha, quer para o Cais do Sodré em Lisboa, quer para Cascais.  

Dois pequenos jardins sombreavam a zona histórica: o que teria sido o Passeio Público da burguesia que outrora vinha a banhos à Vila, antes de trocá-la pelos Estoris, e a  Praceta Dionísio Martins. no centro da qual estava o mercado municipal, ladeada por edifícios estilo "português suave", característico do chamado Estado Novo, que morreu de velho.

A Livraria e Papelaria Dany, a Papelaria e Tabacaria Palácio, a Esplanada do Jardim à beira-rio, o Quartel dos Bombeiros Voluntários no piso térreo dum degradado palacete, a Leitaria Estrela (e Restaurante A Marítima), a Pastelaria Oceania com aquela moça ruiva e sardenta, o Cine Chaplin,  a Casa da Avó, o Minimercado na Avenida Patrão Joaquim Lopes ... eram pontos de referência ou de paragem e estadia. Eram famosos os "cacetes de Paço de Arcos" e os "mimosos", ambos da Casa Bonvalot e os "sticks", da Oceania.   Não me recordo de alguma vez ter ouvido tocar música no coreto. Nalgumas fotos aparece um "calhambeque", taxi há muito desaparecido das ruas da urbe.

Nesse tempo as praias de Paço de Arcos como aliás muitas delas na linha do Estoril para montante eram poluídas, devido à descarga dos esgotos no areal, pleo que raramente lá ia e nunca tomava banho. Hoje a situação mudou radicalmente.

Raramente cortava o cabelo em Paço de Arcos, mas nas minhas notas registo a ida a duas barbearias, uma na Rua dos Fornos (a Barbearia Azul), e outra na Costa Pinto, cujos artistas eram velhotes que executavam a sua tarefa com uma exasperante lentidão. O fígaro da Azul retorquiu-me que trabalho perfeito requer lentidão. Enfim ...

As fotos na sua maioria são dos anos  '70 a '90 do século XX e os comentários reportam-se a um texto escrito em 2013, republicado em  A vida é um pass(e)ar sem retorno !


Palácio dos Arcos




Rua Costa Pinto





Rua costa pinto nº 120 - na porta da direita - onde actualmente é a "Raquel, Cabeleireiro" -  ficava outra barbearia, com dois barbeiros, um dos quais idoso e também muito vagaroso. Por detrás vêm-se os edifícios J. Pimenta, no Largo da estação ferroviária (Largo Leonor Faria Gomes). Para lá e à direita da esquina entrevê-se o edifício da "Casa da Avó", vizinho do Chafariz da Praça da Republica 


Papelaria e Tabacaria Palácio



. Casa Dany (Livraria, papelaria e tabacaria)




Leitaria Estrela (Porto Salvo, Lda) 

 



Rua Costa Pinto, onde era a Pastelaria Estrela Porto Salvo Lda e hoje a Padaria / Pastelaria Apapol. Naquele estabelecimento frequentemente comprava pão no tempo em que ficava em casa da minha tia avó, Esperança Luís,  na Avenida Conde S. Januário 


O prédio da padaria, foi reconstruído e nele já não figuram o letreiro "Rola" nem o anúncio do estabelecimento Porto Salvo, Lda, onde se vendiam "vinhos finos, comuns, engarrafados e licores, águas minerais, pastelaria, manteigas e queijos, tabacos" com o "telefone _4304_"


Casa dos Cacetes (Bonvalot)



Neste recanto na rua Costa Pinto nº 111 ficava a Casa dos Cacetes Bonvalot onde muitas vezes fui lanchar, só ou acompanhado.As especialidades em doçaria eram os "cacetes de Paço de Arcos" e os "mimosos". Calcula-se que os "cacetes" tenham origem francesa, tal como o proprietário da Casa Bonvalot, que o lançou por volta de 1890. Em 1926 e 1934 a marca foi registada pelo novo proprietário, Manuel Pinhanços como um exclusivo da Casa dos Cacetes.

Rua dos Fornos



´

Nesta Rua dos Fornos [de cal] estava a Mercearia Aveirense e ao lado uma barbearia, salvo erro o "Salão Azul", já decadente na altura em que lá fui cortar o cabelo.


Travessa da Ermida, Praça da República e Avenida Patrão Joaquim Lopes


(foto MNS)




(antiga Casa da Avó)





(antiga Estação Ferroviária)

Rua da Vista Alegre



Beco do Moreira


Traseiras do edifício da Rua Costa Pinto 195 visto do Beco do Moreira, com a chaminé da antiga padaria, hoje Padaria / Pastelaria Apapol   



Cercanias do Jardim Público 


(ao fundo, os prédios do J. Pimenta)



Parque infantil


Cine Chaplin em obras, que apenas mantiveram o casco do edifício



Clube Desportivo, o edifício do antigo Casino  (foto inferior - jj castro ferreira)

Um dos antigos chalet


Esplanada (anos '60 - foto jj castro ferreira)


O Miradouro do J. Pimenta, no Largo Leonor Faria Gomes


 



Avenida Conde S. Januário e Rua de Macau


O prédio amarelo é a Vivenda das Rosas

Esta vivenda há muito foi demolida e substituída por outra.





Nesta vivenda, no 1º andar,  morava a minha tia-avó Esperança Luís. Os senhorios (Manuela Ataíde e marido) residiam no piso térreo

Fonte de Maio


Rua Fonte de Maio



Miscelânea




Rua Costa Pinto cerca do nº 148, onde foi o quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros de Paço de Arcos. No palacete havia uma pensão que conheci também já decadente numa das vezes em que lá fiquei hospedado.  O edifício foi remodelado mas o "azulejo" perdeu-se.


Na Rua Costa Pinto, no edifício destes azulejos funciona a Casa Franca, de pronto-a-vestir, onde outrora comprava vestuário. O edifício azulejado com uma placa da "Tranquilidade" (Seguradora)  ainda existe.


Capela do Senhor Jesus dos Navegantes


Janela na Rua Costa Pinto, em edifício já demolido. Nesta correnteza havia um alfarrabista que vendia livros ao preço da chuva, pois não sabia o valor deles. Como eu nunca regateava, passou a pedir uma exorbitância por aqueles que me  interessavam, perdendo assim um cliente.



Murais de Abril









fotos nos anos '70 a '90 do século XX


VER

Sem comentários: