Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Pelourinhos 40 / Municípios 22 - Pederneira (Coutos de Alcobaça)

 * Victor Nogueira


2021 12 20 Fotos victor nogueria Pederneira (Coutos de Alcobaça) - Torre do Relógio, Casa da Câmara e pelourinho

Aqui, no cimo do promontório a sul, esteve a primitiva povoação, com o edifício da antiga câmara - com torre sineira e brasão de armas - e o pelourinho, entretanto roubado e substituído pelo tronco petrificado duma árvore. Estes e a Igreja matriz, situam-se na arborizada Praça Bastião Fernandes, filho da terra e companheiro de Vasco da Gama na Viagem à Índia. A Igreja Matriz, de N. Sra. das Areias, tem o interior coberto de azulejos não figurativos, e uma lápide recordando os nomes dos três filhos da terra mortos na I Grande Guerra.   Outra Igreja é a da Misericórdia, com cemitério adjacente, e um miradouro donde se avista a vila, lá em baixo, e o Sítio, no promontório a norte. 

Como Alfeizerão, a Pederneira foi outrora um importante estaleiro naval e porto de mar, onde vinha desaguar o rio Alcobaça.

Registo alguns nomes das ruas, como a dos  Fornos, da Fonte, do  Santíssimo, da  Misericórdia, da Belavista e das  Oliveiras, para além das travessas das Laranjeiras, do Mirante, do Nascente ou do  Postiguinho e dos largos da Fonte e do Alto Romão. As casas têm nas fachadas azulejos de santos protectores, como aliás também no Sítio. (Notas de Viagem, 1997.10.31)

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«O pelourinho da Pederneira é um dos mais insólitos monumentos relacionados com o estatuto concelhio de localidades portuguesas. É um tronco silicificado de uma conífera cretácica, colocado sobre a base do antigo pelourinho em 1886, quando aquele já havia desaparecido. Implanta-se no principal largo do aglomerado, na Praça Bastião Fernandes, junto da antiga casa da Câmara e muito perto da Igreja Matriz.

Na origem, a Pederneira foi uma das catorze vilas dos coutos de Alcobaça, datando a primeira notícia acerca da sua existência do reinado de D. Sancho I, em documento onde o monarca condenou algumas atitudes menos próprias por parte dos habitantes da localidade contra o prior do mosteiro cisterciense, que detinha a tutela sobre o território.

A 1 de Outubro de 1514, D. Manuel I concedeu-lhe foral novo, o que prova a importância da vila no quadro quinhentista do Oeste. Durante os três séculos seguintes, Pederneira foi sede de município, até ser integrada no concelho da Nazaré já no século XIX.

Desconhece-se a configuração do pelourinho manuelino. Dele apenas resta a plataforma que serviu de base de sustentação, composta por quatro degraus de secção octogonal, tipologia que é característica dos primeiros anos do século XVI.

Não estão igualmente clarificadas as razões que levaram ao desaparecimento do monumento construído no século XVI, nem tão pouco o porquê da opção por tão insólita substituição, sendo certo que o tronco de árvore que hoje serve de fuste tosco e irregular estaria num local de certa relevância simbólica, a ponto de ser integrado no imaginário dos habitantes da vila. » (PAF – DGPC)


«O edifício dos antigos Paços do Concelho da Pederneira situa-se na Praça Bastião Fernandes, principal espaço público deste lugar. Em 1886 foi colocado no centro da praça um tronco fossilizado trazido do cemitério, e que simbolicamente substituiu o pelourinho manuelino de que subsistiam alguns vestígios, então destruídos. No lado sul da praça está a Igreja Matriz de Santa Maria das Areias cuja construção/adaptação se poderá datar de 1591 (FIDALGO: 2012, p. 82).

Apresenta planta retangular, com dois pisos, e cobertura com telhado de quatro águas. Na fachada destaca-se sobre a porta principal o brasão real, do qual subsiste o escudo tendo sido picada a coroa, e uma torre quadrangular com o relógio e o sino.

O edifício atual resulta da reconstrução efetuada após a destruição ocasionada pelo terremoto de 1755: "Nesta vasta zona do Centro e do Sudoeste de Portugal, várias foram as casas da câmara destruídas. Os edifícios camarários reconstruídos na Época Pombalina e Pós-Pombalina ilustram bem o tamanho da catástrofe, de que são um índice muito seguro, particularmente bem ilustrado justamente nos casos da Pederneira, de Cascais, de Lisboa, de Almada, de Setúbal ou de Grândola, localidades que se viram forçadas a erigir notabilíssimas casas da câmara na Época Pombalina ou Pós-Pombalina" (CAETANO: 2011, p. 149). No piso térreo situava-se a cadeia (CAETANO: 2011, pp. 769, 783), e o primeiro piso era utilizado pela vereação. Atualmente o interior está totalmente descaracterizado, e em 2006 o quintal foi ocupado com a construção de um espaço polivalente, cultural e recreativo (FIDALGO: 2015).

A fundação do concelho da Pederneira é muito antiga, tendo D. Manuel dado um novo foral em 1514. A povoação foi perdendo importância devido ao progressivo assoreamento da lagoa da Pederneira, e nos séculos XVII e XVIII pelo desenvolvimento de um novo assentamento junto ao porto, e que deu origem à Nazaré atual (HENRIQUES). Em 1836 o concelho foi integrado no de Alcobaça, e finalmente em 1912 no da Nazaré, então criado (CAETANO: 2011, p. 693).» (Maria Helena Ribeiro dos Santos, DGPC, 2015 - Colaboração de Carlos Fidalgo, Câmara Municipal de Nazaré, 2015)


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