Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 12 de dezembro de 2021

Municípios 16 - Guimarães e Viana do Castelo

* Victor Nogueira 


Viana do Castelo (Igreja da Misericórdia e Casa da Câmara) -  Foto jj castro ferreira - Guimarães (Casa da Câmara) - Fotos victor nogueira  

Viana do Castelo - «O primitivo edifício dos Paços do Concelho de Viana da Foz do Lima ficava situado na praça velha, espaço fronteiro ao local onde foi posteriormente construída a igreja matriz. Com a expansão do perímetro urbano da vila a partir de meados do século XV houve necessidade de criar um novo centro para a vida política e comercial da vila, mais adequado ao ambiente de prosperidade que então se vivia. Progressivamente, o centro da urbe transferiu-se para o Campo do Forno, situado a oeste da matriz. Assim, na primeira década do século XVI, era edificado o novo edifício dos Paços do Concelho, por ordem de D. Manuel.

De planta rectangular simples, o edifício dos Paços do Concelho de Viana possui alçados de dois pisos, rematados com merlões. A fachada é rasgada no primeiro registo por três arcos quebrados, sendo o central menor, e no segundo por janelas de sacada de moldura estriada, com balaustrada de ferro, assentes em modilhões. Sobre as janelas podemos ver três símbolos heráldicos, à esquerda a caravela, do escudo de Viana, ao centro o escudo de Portugal com elmo como timbre, dentro de uma moldura encimada pela Cruz de Cristo, e à direita a esfera armilar. As fachadas laterais apresentam o mesmo esquema, com arco quebrado no primeiro registo, encimado por janela de sacada com balaustrada de ferro. Nas arcadas do edifício era realizado o mercado do pão e da farinha, sendo o espaço empedrado e dotado de acentos e bancas em 1526 para servir os vendedores, enquanto no segundo piso funcionava a sala das sessões camarárias, que servia também de tribunal (MOREIRA, Manuel, 1986, p. 101). 

A fachada posterior apresenta uma porta de moldura recta no segundo registo, à qual se tem acesso por escadaria de pedra. Frente à entrada posterior foi colocado um pórtico mandado edificar em 1687 pelo regedor Manuel Mexia Galvão, que dava acesso à antiga cadeia, cujo edifício foi construído nas traseiras da Câmara cerca de 1510.

A tipologia do edifício apresenta muitas semelhanças com outras construções camarárias feitas na mesma época, nomeadamente na Alemanha, destacando-se pela ausência da torre sineira que decora muitos paços do concelho, como acontece no Norte de Itália e nos Países Baixos.» (Catarina Oliveira – DGPC)

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Guimarães - «Este é um edifício singular, implantado em pleno centro nevrálgico da cidade, cujas características arquitectónicas marcam mesmo parte do imaginário medieval vimaranense. Trata-se, todavia, de uma construção integrável num restrito conjunto de edifícios municipais, característico de algumas vilas e cidades do Noroeste do país, em plena voga nos finais da Idade Média.

Com efeito, as semelhanças entre o edifício da Câmara de Guimarães e os de idêntica função de Barcelos e de Viana do Castelo não têm passado despercebidas (BARROCA, 2002, p.148) e permitem, mesmo, considerar a existência de um modelo de sucesso aplicado a estes monumentos durante grande parte do século XV e primeiros anos do século XVI.

Tipologicamente, organizam-se a dois andares, sendo o primeiro definido por uma longa arcada ogival (neste caso constituída por uma sucessão de quatro arcos), a toda a largura do edifício, cujo espaço interior, amplo e destituído de compartimentação arquitectónica, era reservado normalmente para o mercado, ou parte dele. O segundo andar, fechado por janelas (bastante adulteradas na época moderna - século XVII -, que lhe conferiram o aspecto actual), compunha-se de uma câmara única, salão de reuniões para os vereadores municipais e também para o tribunal.

Nos inícios do século XVI, na sequência de uma reforma parcial, o Paço municipal de Guimarães foi coroado por ameias, à semelhança do que então se fez com a construção de raiz do Paço de Viana do Castelo. Este facto é bastante importante, na medida em que se transpôs, para a arquitectura municipal, um dos elementos que até há escassas décadas era exclusivo da arquitectura militar. Por esta via, nobilitaram-se paços concelhios e outras edificações privadas, num processo particularmente interessante na arquitectura do reinado de D. Manuel, monarca que liberalizou o uso de merlões e de ameias (ALMEIDA, 2002, p.149).

Mais tarde, já no século XVIII, procedeu-se ao primeiro verdadeiro restauro do imóvel, campanha a cargo de "dez mestres pedreiros portuenses que trabalhavam nas obras (...) do mosteiro de Santa Rosa de Lima (OLIVEIRA, 1998). Do século XIX é a escultura ao centro da fachada principal, junto das ameias, uma representação proveniente do antigo edifício da alfândega, demolido em 1876. Já no século XX, teve lugar uma campanha de restauro, da responsabilidade da DGEMN, que dotou o imóvel de funcionalidade pública, nele se instalando sucessivamente o Arquivo Municipal, a Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian e o actual Museu de Arte Primitiva Moderna.» (PAF – DGPC)


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