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“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 18 de dezembro de 2021

Pelourinhos 38 - Passô (Moimenta da Beira) e Penedono

 * Victor Nogueira


2021 12 18 Fotos victor nogueira- Pelourinhos - Passô (Moimenta da Beira) e Penedono


«O couto de Pallatiollo (palacete), ou Paçô, existia já em 1152, sob jurisdição do Bispo de Lamego. Foi doado por D. Afonso Henriques, ainda Infante, aos irmãos Mem e Egas Moniz, sendo este último o seu antigo aio. Teve desde então vários senhores, chegando a pertencer aos cónegos de Vila Boa do Bispo, de Marco de Canaveses. Embora não se lhe conheça foral, o Cadastro da População do Reino de 1527 já o indica como concelho. Foi extinto em 1834, e incorporado em Leomil; por extinção desde último, em 1855, ambos foram finalmente integrados em Moimenta da Beira. A freguesia conserva um velho pelourinho, atestando da sua anterior autonomia.

O pelourinho ergue-se sobre um grande afloramento granítico, em posição destacada, mas que cauza alguma estranheza. A plataforma consta de um único degrau quadrangular, de aresta, no qual assenta directamente a coluna. Esta tem fuste de secção quadrada na base e no topo, com arestas chanfradas na maior parte da sua altura, de forma a tomar a secção oitavada. Não existe capitel. O remate é constituído por um bloco com base talhada em tabuleiro quadrangular saliente, encimado por quatro colunelos cantonais, em redor de uma pirâmide quadrada de topo truncado e arredondado. Cada colunelo é rematado por um pequena esfera. Todos os elementos são lisos, à excepção de uma das faces da pirâmide do remate, onde se podem ver as armas do reino, na versão anterior à reforma de D. João II, de 1495 (ou seja, com os escudetes laterais deitados).

O pelourinho é muito singelo, e da factura algo rude, sendo possível encontrar outros monumentos com a mesma tipologia entre os séculos XV e XVII. As armas régias são de facto a única indicação cronológica de que dispomos. Estas terras foram doadas por D. Afonso V a Gonçalo Pinto, em 1465, sendo provável que a construção do pelourinho date de então, provavelmente na sequência de carta de foral dada pelo seu novo donatário.» (Sílvia Leite – DGPC)



«O primeiro sinal de inequívoca vitalidade concelhia de Penedono data de 1195 e corresponde ao foral passado por D. Sancho I, que reconheceu o município. As origens do povoamento de "Pena de Domus" (como a localidade era conhecida na Idade Média) são, todavia, anteriores e identificam-se nos meados do século X, quando um primitivo reduto defensivo fazia parte de uma linha de fortificações doadas por D. Chamôa Rodrigues ao Mosteiro de Guimarães, em 960.

D. Afonso II confirmou o foral sanchino em 1217, mas os séculos finais da Idade Média foram conturbados. No reinado de D. Fernando, vivendo o país uma séria crise económica em consequência das guerras travadas pelo monarca contra Castela, Penedono foi integrado no concelho de Trancoso, mas recuperou rapidamente a sua autonomia, sendo então doado à família Coutinho, estirpe que deixou a sua marca no castelo-paço então reformulado.

O pelourinho que se conhece foi construído nos inícios do século XVI e resulta do novo foral passado a 27 de Novembro de 1512 pelo rei D. Manuel. Implanta-se na praça principal da vila, no caminho que conduzia ao castelo e fronteiro à antiga casa da câmara. Pelo acentuado declive da via, foi necessário erguer-se uma plataforma de cotas diferenciadas, de base quadrangular, onde assentam oito degraus oitavados, de faces boleadas, sendo o último de maiores proporções que os restantes.

O pelourinho propriamente dito possui base chanfrada e compõe-se de esguio fuste monolítico, de perfil octogonal, onde assenta o coroamento. Este é em forma de gaiola, definido por ábaco octogonal a partir do qual se elevam oito colunelos (alternadamente quadrangulares e cilíndricos), encimados por pináculos. No interior da gaiola existe coluna que sustenta o remate, em forma de coruchéu cilíndrico onde se apoia grimpa de ferro.

Estas características diferenciam este pelourinho da generalidade dos que se construíram em solo nacional pelos inícios do século XVI, reconhecidamente de menor exuberância. No inventário dos pelourinhos quinhentistas, os de gaiola são minoritários e testemunham a vontade dos concelhos em ostentar a sua municipalidade, numa época de reforço de poderes e de desenvolvimento do reino - Penedono deveria contar, por 1527, com cerca de 1500 habitantes. Esta ideia teve grande eco em regiões teoricamente mais afastadas dos principais centros, como no caso do pelourinho de Vila Nova de Foz Côa, ou mesmo no de Sernancelhe, com o qual o de Penedono mantém assinaláveis analogias.

Em 1895, o concelho foi extinto, mas recuperou o seu estatuto municipal em 1898, por decreto de 13 de Janeiro, assim se mantendo na actualidade.»  (PAF – DGPC)


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