Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Setúbal - Muralhas Seiscentista e Medieval


* Victor Nogueira

A cintura de muralhas seiscentistas englobava a vila propriamente dita e os arrabaldes de Troino e Palhais (a poente e nascente, respectivamente). Era provida de baluartes (Nossa Senhora da Conceo, Nossa Senhora do Livramento, de São Brás, de Santo Amaro, de Nossa Senhora da Saúde, de Nossa Senhora da Anunciada, de Jesus, do Socorro, de Santo António e de São João), de meios baluartes (S. Domingos e Fontainhas) e do Hornaveque do Convento de Jesus.



Planta da Fortificação de Setúbal, de autor desconhecido,possivelmente resultante de espionagem (BNP.Iconografia, E.A. 214 P)

Dos baluartes que ainda subsistem destaca-se o de Nossa Senhora da Conceição ou do Cais onde esteve instalado um aquartelamento militar e presentemente a Escola Superior de Hotelaria e Turismo.. Este edifício é constituído por duas partes: o baluarte propriamente dito e construções mais recentes. No seu pórtico está uma inscrição a partir da qual se fica a saber que foi concluído em 1696 por ordem do duque do Cadaval.

Um baluarte ou bastião - em arquitectura militar - é uma obra defensiva, situada nas esquinas e avançada em relação à estrutura principal de uma fortificação abaluartada. O baluarte surgiu pela primeira vez na Itália, em fins do século XV, tendo alcançado a sua máxima expressão com o marquês de Vauban, em França, na segunda metade do século XVII. Era utilizado como plataforma de artilharia, para cruzar fogos com os baluartes vizinhos, impedindo o assalto inimigo às cortinas situadas entre eles. O baluarte tem, normalmente, um formato pentagonal, apresentando duas faces, dois flancos e uma gola (linha pela qual está ligado à estrutura principal). Normalmente, é sustentado por muralhas de alvenaria e preenchido com terra apiloada. (in Os Baluartes, sec. XVII (Setúbal) https://www.geocaching.com/geocache/GC35C87_os-baluartes-sec-xvii-setubal?guid=7064dd57-ea51-493a-af8c-de1970896803



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Mas a defesa de Setúbal e do Estuário do Sado faziam-se com recurso a embarcações, como consta de documento esistente em  PSS/APAC Arquivo Pessoal de Almeida Carvalho 1550/1912 que refere a "Ordem emitida à Câmara de Setúbal, para que seja reforçada a defesa do Sado, através de uma barca artilhada posicionada na Ponta do Adoxa. Contém referência datada de 1832." (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1412063)

 BORSANO, Ambrósio. Plantas da Praça de Setubal. 1663. Arquivo Militar de Estocolmo









Planta das muralhas de Setúbal:
1) Burgo e muralha medieval (séc. XIV)
2) Muralha do séc. XVII
3) Reforço da muralha do séc. XVII (nunca foi concluído)
4) Forte da Estrela (actualmente desaparecido)
5) Forte Velho (vestígios)
A) Igreja da Anunciada
B) Igreja de S. Julião
C) Igreja de Stª Maria


Baluarte do Cais, assinalada por círculo, em planta da Praça e Vila de Setúbal, levantada em 1805 por Maximiano José da Serra, Coronel do Real Corpo de Engenheiros, desenhada por Caetano José Vaz Parreiras, 2º Tenente do mesmo Corpo, e publicada em 1820. Gabinete dos Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (in Quintas, 2003)




Planta de cidade de Setúbal, num  desdobrável do Guia de Portugal, de Raúl Brandão (1921)

A linha azul é a Ribeira do Paraíso, que actualmente não corre a céu aberto. Na Ladeira de S. Sebastião corria a Ribeira de Palhais, não representada na planta. À esquerda uma linha de água que iria desaguar na Praia da Saúde


O Terramoto de 1755 causou grandes danos na Vila de Setúbal referidos em “Setúbal após o terramoto de 1755”,  informações paroquiais de 1758 da autoria do “Prior da freguesia de Santa Maria da Graça, matrix da villa de Setúbal” cuja cuja primeira edição é de Rogério Claro, em 1957,  editara no já longínquo ano de 1957,  reeditada pelo Centro de Estudos Bocageanos. A transcrição é da parte referente aos estragos então sofridos pelas muralhas.

Fortificação nova

“O recinto, ou fortificação nova, foi feito em circuito da antiga debaixo da direcção do Principe Dom Theodosio, e amplificado de modo, que compreende da parte do Occidente todo o bairro de Troino, e da parte do Oriente o bairro de Palhaes, que estavam fora do muro antigo. Tem des baluartes, e tres meios baluartes, a saber, da parte do Sul o meio baluarte de São Domingos, o meio baluarte das Fontaínhas, o baluarte de nossa Senhora da Conceição, ou Caes velho, o baluarte de nossa Senhora do Livramento, ou Caes novo, o baluarte de São Braz: inclinando para o Occidente o baluarte de São Francisco: em rectidão para o Occidente o baluarte de Santo Amaro: da parte do Norte o baluarte de nossa Senhora da Saude, o baluarte de nossa Senhora da Annunciada, e em frente delle hum hornaveque, no qual está o convento de JESUS; o baluarte de JESUS, tambem chamado do Buraco de agoa; o baluarte do Soccorro; o balurte de Santo Antonio; o baluarte de São João. Esta fortificação está na maior parte imperfeita, e por acabar, por isso não tem portas, de que hajamos de fazer memoria. Padeceo algumas fendas, rachas, ou leves aberturas pela parte do Norte com o terramoto de 1755. Mas a sua maio ruina foi pela parte do Sul, donde a inundação impetuosa do mar no dia do terramoto a arrazou quasi totalmente: e o que se não pode sem admiração he, que o veemente impulso das agoas lançasse muitos passos para a terra pedaços, ou porções de muro de 25 palmos de comprido, 13 de fundo, e 10 de largo.

Obras exteriores

Da parte do Oriente huma obra coroada, só delimiada: da parte do Norte em pouca distancia da villa o forte da Estrella, obra, segundo parece, antiga, e também só delimiada; e o hornaveque já mensionado, onde está o Convento de JESUS: da parte do Occidente não muito distante da villa o forte de São Luis Gonzaga, ou castello velho não acabado; e hum piqueno hornaveque só delimiado de fronte da face do baluarte de Santo  Amaro em huma altura, que he padrasto  do mesmo baluarte. Mais da parte do Occidente declinando para o Sul hum quarto de legoa distante da praça em huma eminencia está o castello de São Felippe, talhado em hum rochedo com a sua plataforma pela parte de baixo. He este castello obra verdadeiramente digna de memoria. Quasi mea legoa  distante da praça para a mesma parte está o forte da Albarquel ao nivel do mar com huma só plataforma, onde se dá o signal com hum tiro de artelharia, para que os navios, que entram dem fundo, ate que sejam visitados pela Saude. Huma legoa apartada da praça também para o Occidente com inclinação para Sul está a torre de Outão na entrada da barra: cifra-se em varias batarias acrescentadas á torre em diversos tempos. Padeceo bastantemente no terramoto de 1755, e ainda não está reparada, antes em perigo de se precipitar totalmente (…)”

Em FORTALEZA DE S. LUÍS GONZAGA (CASTELO VELHO); FORTE DA ESTRELA; FORTE "BARRETE DO CLÉRIGO" - BRANCANES; FORTIFICAÇÃO MODERNA DA VILA (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1334304) a várias fortificações (ÂMBITO E CONTEÚDO Fortificações internas e externas de Setúbal, e localização dos seus baluartes e muralhas. Contém referências datadas de 1641 a 1834.



Bibliografia:

* Muralhas Medievais de Setúbal - Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal

* Muralhas de Setúbal


* Baluarte de N. Sra da Conceição (Baluarte do Cais) 

 in http://maeds.amrs.pt/baluarte_nsconceicao.html


 * Da traça de Terzi ao plano Aguiar: quatro séculos de estratégia urbana

in http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/14308.pdf

* A Fortificação Abaluartada da Praça de Setúbal: a evolução construtiva vista a partir da iconografia 

in   https://www.academia.edu/27236436/A_Fortifica%C3%A7%C3%A3o_Abaluartada_da_Pra%C3%A7a_de_Set%C3%BAbal_a_evolu%C3%A7%C3%A3o


* Núcleo urbano da cidade de Setúbal / núcleo intramuros de Setúbal


*  Sistema defensivo de Setúbal e sua protecção 

in

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/patrimonio_imovel/classificacao_do_patrimonio/consultaspublicasanoemcurso/centrohistoricosetubal/eri.pdf

.


Publicações nos meus blogs
CLICAR NOS TÍTULOS PARA ACEDER AO RESPECTIVO CONTEÚDO:

** Muralhas de Setúbal - Baluartes de S. Domingos e das Fontaínhas

** Muralhas de Setúbal - Baluarte de S. João

** Muralhas de Setúbal - Baluarte de N. Sra da Conceição ou do Cais




Muralhas de Setúbal - Forte de Albarquel 02 no Google Earth

* Victor Nogueira





Google Earth


Forte de Albarquel [Material cartográfico] / Diogo Corr[eia] da Motta, ca[pit]am de inf[antari]a em exerc[íci]o da Engenh[ari]a. - Escala [ca 1:90], 100 Palmos = [25,10 cm] Junho de 1792. - 1 planta : manuscrita, aguarelada ; 42,30x55,50, em folha de 46,50x60,40 cm. in Biblioteca Nacional Digital (http://purl.pt/3942) in http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1392&muda_idioma=PT


Desenho do Forte de Albarquel in  PT-ADSTB-PSS-APAC-J-0081_m0014_derivada PSS/APAC Arquivo Pessoal de Almeida Carvalho 1550/1912 SecçãoJ  Defesa 1801/1903-12-17 



Muralhas de Setúbal - Forte das Vieiras (Outão) ou de S. Pedro das Areias Brancas

* Victor Nogueira

Encontro referência ao Forte das Vieiras em Mappa de Portugal antigo et moderno escrito por João Bautista de (Le P.) Castro (1763) e presumo que seja a fortificação na encosta e sobranceira ao Forte de Santiago do Outão que na segunda metade do século XX teria sido ocupada pela 7ª Bataria do Regimento de Artilharia de Costa (RAC) Ou o Forte ds Vieras seria o de Santa Maria da Arrábida, no Portinho da Arrábida  ? Considerando a listagem (ordenada) que a seguir é reproduzida, não seria. Até melhor esclarecimento fica a dúvida.


A Fortaleza da Arrábida ou Fortaleza de S. Pedro das Areias Brancas ou da Praia das Vieiras é referida em  Fortaleza da Arrábida ou Fortaleza de S. Pedro das Areias Brancas, PSS/APAC Arquivo Pessoal de Almeida Carvalho 1550/1912 SecçãoJ  Defesa 1801/1903-12-17  "Construção da fortaleza de S. Pedro das Areias da Arrábida ou da Praia das Vieiras por D. João IV, em 1641. Sua localização, descrição, efectivos e armamento. Contém referências datadas de 1641 a 1864." (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1334161)  

Muralhas de Setúbal - Forte do Outão 02 no Google Earth

* Victor Nogueira

FORTALEZA DA SERRA OTÃ - Construção da fortaleza da Serra Otã da foz de Setúbal, por D. João I. Fortificação dos portos de Lisboa e de Setúbal, por D. João I. Obrigação por parte dos privilegiados, de não serem escusos das fintas que os concelhos lançavam para afortalezar e guarnecer os castelos. Limitações dos muros e fortificações de Setúbal aos ataques do fogo da pólvora. Contém referências datadas de 1398 a 1580.  (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1334267)









Google Earth


Fortaleza De Outtão Portugal Desenho aguarelado CORREIA João Tomás (c 1667-175_) Livro de varias plantas deste Reino e de Castela (entre 1699 e 1743) in http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1516  


Mappa de Portugal antigo et moderno in 





O Ocidente - 21 de Setembro de 1890




Muralhas de Setúbal - Baluarte de S. Francisco

* Victor Nogueira


Encontrar este Baluarte de S. Francisco cotejando o Google Maps e Cartas da Vila de Setúbal foi obra, tanto mais quanto na Reboreda há alguns quarteirões com traçado simlar ao de um baluarte.  Contudo e posteriormente em BALUARTE DE S. FRANCISCO (À SABOARIA) - SÉCULO XIX  (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1334302) as minhas dúvidas ficaram definitivamente sanadas.


Planta da Vila de Setúbal feita em 1810 (pormenor) - Convento de S Feancisco e Baluartes de S. Francisco (D), de Santo Amaro (E) e S. Brás (C)




Na Rua Amália Rodrigues, isto será o que resta do Baluarte de S. Francisco, ns Quinta da Saboaria



Forte de S Filipe, Convento de S Francisco e Baluartes de Santo Amaro e N. Sra da Saúde 





Baluarte de S. Francisco (Quinta da Saboaria)



Convento de S. Ftancisco



Google Earth




terça-feira, 30 de maio de 2017

Muralhas de Setúbal - Forte de S. João da Ajuda ou de N. Sra da Ajuda

* Victor Nogueira

O Palácio da Comenda, projecto do arquitecto  Raúl Lino, substituiu um anterior, ambos erguidos em cima duma fortificação (baluarte), visível nas fotos, que seia a pataforma de S. João. Vejamos o que a rspeito disto se regista em A Casa da Comenda de Raul Lino - Arquivo Municipal de Lisboa  http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/Cadernos/2serie/cad6/artigo04.pdf

Em 2005 uma profunda investigação sobre Comenda de Mouguelas, pertencente à Ordem de Santiago, num artigo publicado nas atas do IV Encontro sobre Ordens Militares10, o qualnos trouxe informação detalhada sobre a “torre” ou “fortaleza” de Mouguelas, conjunto edificado que, mais tarde, no âmbito das obras de reforço defensivo da Restauração, terá sido transformada na plataforma de S. João da Ajuda.

Em 1290 o mestre da Ordem de Santiago doa a fortaleza e lugar de Mouguelas a Pedro Salgado, tesoureiro-mor de D. Dinis, que, durante mais de 20 anos recebe os rendimentos da Comenda. No início do século XIV, os bens de Mouguelas incluíam “uma torre-fortaleza, casas, vinhas, gado, entre outros bens de natureza agrícola”

Em 1327, numa listagem dos bens que integravam o património da Ordem de Santiago, Mouguelas consta entre as comendas referidas. Quase em meados do mesmo século, a sua Torre constitui-se já como um dos principais postos de vigia e defesa do porto de Setúbal, a par da torre do Outão, localizada a jusante.

Em 1534, nova visitação dá-nos informação ainda mais pormenorizada: Está na dita torre um portal de pedra, pelo que se entra a ela, de nove palmos, com suas portas boas. E à entrada da dita porta está logo uma casa térrea na dita torre, com outra logo além desta, e assim está uma escada de madeira, entrando pela dita porta da banda do sul, por que se sobe ao sobrado da dita torre. E no dito sobrado está uma só casa da grandura da dita torre, a qual está guarnecida e bem madeirada e encaniçada. E tem esta casa uma chaminé de tijolo e uma janela para o norte e outra para o sul. [...] está outra casa fora desta torre, térrea, por onde vai um pátio ladrilhado e ainda outra grande casa térrea que se chama o aço [...] uma estrebaria e palheiro que está pegado com esta [...] e um forno de cozer pão.



Esta mesma visitação refere-se também à ermida de Nossa Senhora da Ajuda, implantada em local muito próximo à Torre de Mouguelas. Esta ermida foi sede da freguesia com o mesmo nome, a qual era capelania e curato na Mesa da Consciência. 

No âmbito do quadro de estratégia nacional de defesa levado a cabo após a restauração da independência (1640) e a par com a construção do perímetro amuralhado abaluartado concebido para a vila de Setúbal e de outras estruturas defensivas em redor daquele e ao longo da costa, também a Torre de Mouguelas foi adaptada a fortificação, integrando a linha de defesa do porto de Setúbal e tomando a designação de S. João da Ajuda.

A plataforma foi construída em 1680 a oeste e em distância de mais de 500 metros da Villa de Setúbal, ficando colloccada sobre a margem do Sado, e traçada de modo que servisse de defesa ao porto da villa, e do Castello de S. Felippe que lhe ficava sobranceiro.

Há referências a esta fortificção em FORTALEZA DE MOUGUELAS; TORRE DE BRANCA ANES; FORTALEZA DE S. TIAGO em (http://digitarq.adstb.dgarq.gov.pt/details?id=1334603)





fotos em 2016.04.30



ESTA PLATAFORMA DE S. JOÃO PELAS UTILIDADES QUE DELA SE CONHESEM PERA DEFENÇA DESTE PORTO, VILA E CASTELO, MANDOU FAZER AQUI JOÃO DE  SALDANHA GOVERNADOR DAS ARMAS DESTA VILA E SUA COMARCA DESENHOVA O CAPITÃO SEBASTIÃO PRA DE FRAS ENGENRO DE S. MGDE ANNO 1680. Foto em   (http://quintaisisa.blogspot.pt/2016/11/quinta-da-comenda-de-mouguelas-em.html