Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui
“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)
«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973
terça-feira, 3 de maio de 2016
O Palácio da Comenda e a "Balada da Praia dos Cães"
foto victor nogueira - Palácio da Comenda, de Raul Lino, na foz da Ribeira da Ajuda, em Setúbal
O murete em 1º plano protege do movimento das marés o que resta da estação arqueológica romana. Lá no cimo, como que suspenso das nuvens, não de água mas de verdura, o Palacete, projectado por Raúl Lino, que faz parte do imaginário de muitos dos que por ali passam ou "estacionam" no Parque das Merendas.
Neste Palácio e nas redondezas, num outro edifício, que também fotografei há anos por estar então abandonado, foi em 1987 parcialmente rodado o filme "Balada da Praia dos Cães", de José Fonseca e Costa, baseado no romance homónimo de José Cardoso Pires (1982) , com uma fabulosa interpretação de Raúl Solnado. A obra baseia-se em factos verídicos relativos ao assassinato do Capitão Almeida Santos, um dos implicados na chamada "Revolta da Sé". Sobre os acontecimentos um dos então fugitivos do Presídio Militar de Elvas - o cabo António Gil - escreveu em 1984 um livro: "O drama da praia do Guincho". Outro dos envolvidos no crime foi o médico miliciano Jean-Jacques Valente, cujo "diário da prisão" terá servido de inspiração para a novela de Cardoso Pires. Mais tarde, em 2002, investigador da PJ, Correia das Neves deu o seu testemunho sobre a sua investigação aos acontecimentos em "O Crime do Guincho",
Um filme de José Fonseca e Costa Baseado no romance de José Cardoso Pires Com Raul Solnado, Assumpta Serna, Patrick Bauchau, Sergi Mateu, Carmen Dolores, Henrique Viana Nas dunas da praia do Guincho, a oeste de Lisboa, um bando de cães vadios põe a descoberto o cadáver de um homem, identificado depois como sendo o corpo de um oficial do exército procurado pela polícia polítca, de cujas garras escapara fugindo do Forte de Elvas na companhia de dois camaradas de oposição ao regime ditatorial, com a ajuda de uma misteriosa mulher.
Apanhada de surpresa por esta descoberta macabra, a polícia política, que andava no seu encalço sem encontrar qualquer pista, decide entregar a investigação à polícia judiciária para não se tornar suspeita de ter cometido o hediondo crime aos olhos da opinião pública. Intervém então chefe de brigada da polícia civil Elias Santana, um homem só, ultramontano e beato, onanista fascinado pelos meandros dos vícios da grande cidade que tanto melhor combaterá quanto melhor os conhecer.
Confrontado com a mulher misteriosa que entretanto se entregara às autoridades, Elias Santana, ao mesmo tempo que vai reconstituindo, imaginando e deduzindo o que se terá passado após a fuga do Major e dos seus cúmplice, será mais uma vítima dos encantos e do poder da sedução de Mena, uma mulher indecifrável que o pode levar à perdição...
Balada da Praia dos Cães relata a investigação dum assassínio. A história começa com o relatório da descoberta dum cadáver enterrado numa praia, graças a alguns cães que, casualmente, dão com o morto sepultado na areia. Mais tarde a polícia descobre tratar-se do major Luís Dantas Castro, um militar preso por tentativa de sedição militar contra o regime político vigente, e que escapara da prisão, indo recolher-se, juntamente com três cúmplices: Mena, uma jovem mulher com quem o major tinha uma violenta e obsessiva relação antes do seu encarceramento, o arquitecto Fontenova, outro prisioneiro detido pelo seu envolvimento com a revolta militar e membro do mesmo movimento de resistência anti-salazarista do Major, e o cabo Barroca, um guarda do campo a cumprir o seu serviço militar.
Os quatro refugiam-se numa casa situada a 20 km de Lisboa, aguardando a ajuda do advogado Gama e Sá, por eles apelidado Comodoro.
O responsável pela investigação é Elias Santana, um chefe da brigada da Polícia Judiciária, que vai reconstituindo o crime graças sobretudo aos interrogatórios feitos a Mena, confirmados e completados mais tarde pelos outros dois cúmplices, entretanto detidos. Comprova-se que o major fora assassinado pelos seus três companheiros de fuga.
A acção do livro desenrola-se em dois planos: por um lado, o sucedido antes do crime, contado pela perspectiva de Mena; por outro, o próprio inquérito policial e a vida de Elias Santana. Neste último plano, o livro retrata a realidade e os métodos da polícia em pleno regime do Estado Novo, bem como a vida triste, rotineira e apagada de Elias Santana.
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