Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Pelourinhos 48 - Constância e Santa Catarina (Coutos de Alcobaça)

 * Victor Nogueira


2021  12 28 Fotos victor nogueira - Constância e Santa Catarina (Coutos de Alcobaça - pelourinhos


Noutras viagens estive em Torres Novas e terei passado por Constância, Tomar e Almourol. A Torres Novas fui numa viagem de estudo a fábricas de curtumes, talvez em 1972/73, lembrando-me apenas das águas mal-cheirosas e cheias de espuma do rio Almonda.  Das outras três povoações tenho ideia de lá ter estado mas não garanto, pois disso não ficaram escritos nem fotografias. E não sei se o que tenho na memória resulta da minha passagem por elas, se da visão de quaisquer postais ilustrados. Fica o registo e nada mais. (Notas de Viagens, 1997)

Constância -  Sucessivamente ocupada por lusitanos, romanos, árabes e portugueses. Denominada Pugna Tagi (Combate do Tejo) em memória da derrota infligida aos lusitanos, Punhete ficou até lhe mudarem o nome para o actual.

Igreja matriz de N Sra dos Mártires, a 50 m de altitude, lá no alto. Rio largo com margens assoreadas. Fábrica na outra margem  poluindo com fumo branco saindo das chaminés.

Jardim e parque à beira-rio. Casas pela encosta, com escadaria exterior. Ruas estreitas, ingremes, floridas (como em Óbidos e Abrantes), escadarias. No adro da enorme igreja matriz, lá  no alto, um renque de casas térreas. Adjacente o cemitério. Casas brancas com barras amarelas. Povoação voltada para o rio, na margem deste existindo restaurantes, um “passeio” público e  miradouro: aqui se juntam os rios Tejo e Zêzere.  Largo com pelourinho

Terra por onde terá andado Luís de Camões, desterrado por causa dos seus amores por D. Teresa de Ataíde. (Notas de Viagens 1998.07.07)


«Em 1836, a vila ribatejana de Punhete (do latim Pugna-Tage, ou "combate no Tejo", expressão aparentemente relacionada com o encontro tumultuoso das águas do Tejo e do Zêzere na região) foi denominada "Notável Vila de Constância" por decreto régio, assinado por D. Maria II. O pelourinho datará deste período, conforme a sua feição romântica, embora a antiga Punhete tivesse já recebido de D. Sebastião honras de vila (sem foral) em 1578.

O pelourinho ergue-se sobre um soco constituído por três degraus poligonais (o térreo embebido no pavimento), de parapeito, sobre o qual se levanta uma base paralelepipédica com almofada rectangular nas faces, e uma coluna de fuste liso e secção circular, estreitando ligeiramente em direcção ao topo. O capitel, jónico, é rematado por uma grande plataforma moldurada, de onde saem os ferros de sujeição, meramente ornamentais, e sobre a qual está fixada uma esfera armilar em ferro forjado. Os degraus estão actualmente protegidos por balaústres. » (SML – DGPC)


Santa Catarina - Por esta povoação passara na vez em que fôramos à Benedita comprar umas botas. Na altura era uma fiada de luzes avistada numa curva da encosta, lá em baixo no vale. No largo principal, chamado do Pelourinho, situa se uma igreja modernizada, com alteres de talha dourada ("outrora é que era bonita", conta me um velhote ilustrado com outros dois sentado num  banco), o pelourinho, a antiga casa da Câmara, um solar setecentista (com uma capela arruinada), para além dum modesto jardim com caramanchões e um fontenário. Passeio pelas ruas e registo os seus nomes: o Beco do Moinho e as ruas do Lagarão, do Jardim, do Arsenal, do Paiol, do Caixeiro, Direita e da Índia. Deparo com muitas casas arruinadas e outras para venda.

Entre as várias histórias referidas pelo velhote, que tinha lá em casa um livro assinado contando histórias da região, registo a que se refere ao Casal do Coito (?!), onde eram acolhidas as crianças sem pai nem mãe, para além de esclarecer que a forca se situava num cabeço fronteiro, fora da vila, mas que constava que ninguém fora lá executado.

Foi esta uma vila importante, embora a importância seja relativa ao tempo e à era; com efeito, em 1527 teria ... 31 moradores na vila e 69 no termo, possuindo até 1834 duas Companhia de Ordenanças para manter a ordem! (Notas de Viagens, 1998.02.08)


«As origens da vila de Santa Catarina remontam ao século XIII e à altura em que os monges de Alcobaça começaram a organizar o vasto território envolvente. Em 1333, certamente algum tempo depois de integrada a povoação nos chamados Coutos de Alcobaça, foi agraciada com foral por parte de Frei João Martins, abade do mosteiro.

O pelourinho actual é o resultado material do foral passado à já então denominada Vila de Santa Catarina pelo rei D. Manuel em 1518. A localidade foi sede de concelho até 1836 e transitou para o município das Caldas da Rainha em 1898, depois de ter estado cerca de sessenta anos anexa a Alcobaça.

Apesar de originalmente manuelino, este pelourinho foi objecto de uma remodelação quase integral, em momento desconhecido da época Moderna, presumivelmente na segunda metade do século XVII, ou já no século XVIII, altura em que se reformulou a Igreja Matriz e se construíram alguns importantes solares. Em todo o caso, a métrica do pelourinho, ao ajustar-se sistematicamente ao número 8, parece seguir um esquema previamente definido e característico dos tempos manuelinos.

A plataforma é de secção octogonal, composta por dois degraus oitavados. Sobre ela assenta a base, que é também octogonal e serve de enquadramento ao pelourinho propriamente dito, com prisma de oito faces, molduradas por arestas verticais, e terminando em anéis progressivamente de menor largura, solução que antecede o fuste.

Este é circular e ligeiramente irregular, tendo-se incorporado, na parte superior, quatro ferros em cruz, dotados de argolas e terminação em lança. O coroamento é antecedido por moldura em meia cana e compõe-se de capitel em forma de cone oitavado, rematado por perfil arredondado como se de um sino se tratasse.»   (PAF- DGPC)


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