Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Pelourinhos 50 - Turquel (Coutos de Alcobaça) e Vila do Touro (Sabugal)

 * Victor Nogueira



021 12 30 - Turquel (Coutos de Alcobaça) e Vila do Touro (Sabugal) 

Turquel - Prosseguindo a viagem a corta mato, para sul, deparamos com Turquel, outrora denominada Villa Nova de Turquel, com prédios modernos, altos,  e com mais vida, nos cafés - parece uma povoação mais cosmopolita e modernaça, até no trajar das pessoas. Contudo é uma povoação menos simpática que a anterior [Évora de Alcobaça], com o pelourinho perdido no meio de casas sem história. A Igreja matriz de N. Sra. da Conceição, mandada edificar pelo Cardeal D. Henrique, tem um portal manuelino mais pobre e não conseguimos nela entrar, apesar dos cânticos que se ouvem, pois as portas interiores encontram se aferrolhadas. Entre esta e o largo do Pelourinho situa-se a Capela do Senhor do Hospital, da antiga Misericórdia. Nela existe um crucifixo carbonizado que segundo a lenda teria sido deixado por um mendigo que por uma noite se albergara e desaparecera sem deixar rasto. Aliás lendas não faltam na região, relacionadas com mouras.

Na íngreme calcetada rua da Neta persistem algumas casas rurais, duas delas com escadaria exterior. Registo outros nomes como o do largo do Pelourinho e as ruas do Relego, Principal, do Lagar e do Outão.

Daqui seguimos de novo para norte, rumo a Alcobaça. (Notas de Viagem, 1998.02.08)


Turquel foi vila e sede de concelho entre 1352 e 1836.. «D. Afonso Henriques outorgou o termo de Turquel à Ordem de Cister, no século XII, e a povoação veio a constituir a determinada altura a mais importante das 14 vilas dos Coutos de Alcobaça, cujo donatário era o Abade do Mosteiro de Santa Maria. O seu primeiro foral foi dado por D. Frei Pedro Nunes, Abade de Alcobaça, em 1352. Teve ainda foral novo dado por D. Manuel, em 1512, na sequência do qual se terá erguido o pelourinho que ainda hoje se conserva na povoação. O antigo conselho de Turquel foi extinto no século XIX, e é hoje freguesia de Alcobaça. Em data incerta, ainda que após a extinção do município, o pelourinho foi retirado da sua implantação pública e guardado no Museu do Carmo, de onde regressou em 1947, para ser recolocado, de acordo com as informações disponíveis, no local primitivo.

O pelourinho assenta em três amplos degraus circulares, de rebordo boleado, e de factura moderna. É constituído por base, coluna, capitel e remate, nem todos elementos originais. A base da coluna é circular, em cesto invertido, com decoração tardo-gótica de botões entre nervuras espiraladas. O fuste é cilíndrico, constituído por dois troços unidos por anel medial moldurado, sendo cada troço decorado com caneluras espiraladas à esquerda, entremeadas por séries de florões quadrifoliados. O conjunto é rematado por capitel de secção quadrangular, decorado com folhagens centradas nas arestas, e assente em estreito astrágalo circular. É encimado por ábaco quadrangular em molduras crescentes, no qual assenta o remate. Este é composto por uma pirâmide quadrangular com decoração de cogulhos em três registos sobrepostos, coroada por um peça esferóide achatada. Numa das faces do remate destaca-se ainda uma figura humana relevada, vestida com um manto, que tem sido interpretada como Nossa Senhora da Conceição, padroeira da freguesia, ou ainda uma evoçação dos Abades de Alcobaça, senhores de Turquel. » (SML – DGPC)


Vila do Touro Fotos: castelo ao longe, janelas manuelinas, igreja românica, pelourinho. Nas casas em pedra existem muitas janelas manuelinas.

Bicas com ditos: “A união faz a força” e “Venha e vá com Deus”. Do castelo só restam a porta e pedras.

A Câmara [do Sabugal] não deixa a velha vender a janela manuelina e noutra, rebocada, os velhotes dizem-se arrependidos e que se fosse agora não o teriam feito, pois a pedra não rebocada tem hoje mais valor. Outro velhote diz que se fosse hoje também não teriam deitado abaixo o castelo, pois são coisas que dão valor mas noutro tempo não era assim. Muitas das janelas manuelinas foram outrora compradas por americanos que as levaram para os EUA, ao que me dizem. (Notas de Viagens 1998.07.12)


Vila do Touro foi vila e sede de concelho entre o início do século XIII e o início do século XIX. «Com um topónimo - "Touro" - a denunciar uma fundação remota, desde, pelo menos, o século XII, ainda que supostamente derivado do nome próprio Taurus ou de características geográficas da região, Vila do Touro ostenta inúmeros vestígios arqueológicos que evidenciam bem a diversidade e a excelência dos recursos cinegéticos que desde sempre dispôs às comunidades humanas que percorriam o seu território e nele procuravam sobreviver e fixar-se, e à qual não foi, certamente, estranha a existência de várias linhas de água que o atravessam, irrigando e fertilizando os seus campos.

Inserido numa paisagem dotada de inegável beleza natural, o actual termo de Vila do Touro dispõe de um posicionamento estratégico que permitiu às suas gentes disporem de um domínio visual sobre os terrenos circundantes, uma particularidade essencial em termos defensivos.

Potencialidades que foram rapidamente aproveitadas ao tempo da reconquista cristã, quando do repovoamento de toda a região do Alto Côa, edificando-se, então, o castelo de Vila do Touro, povoação então situada numa zona de profunda instabilidade política decorrente da indefinição do traçado fronteiriço, razão pela qual a sua jurisdição foi entregue, por D. Afonso II (1185-1223), que a fundou, à Ordem dos Templários, cujo Mestre, D. Pedro Alvites, lhe outorgou foral, decorria o ano de 1220.

Entretanto, e à semelhança do que sucedia com a Vila de Sortelha, a assinatura do Tratado de Alcanizes, em 1297, ditou o declínio da importância outrora fruída pelo seu sistema defensivo que nunca chegaria a ser ultimado, numa realidade reforçada pela ausência de confirmação do anterior (vide supra) foral, por parte de D. Dinis (1261-1325), contrariamente ao que ocorreu em Sortelha. Uma situação somente ultrapassada com D. Manuel I (1469-1521), que lhe outorgou novo foral, em 1510, como forma de incentivar o seu desenvolvimento económico e, por inerência, o seu povoamento.

É justamente a esta última etapa que remonta o "Pelourinho de Vila do Touro", erguido no largo da igreja matriz, construção de igual modo quinhentista.

É sobre soco formado por três degraus de planta circular que assenta a coluna de fuste com a mesma configuração - com base quadrangular - e capitel de secção circular coroado por peça de igual secção e uma segunda em forma de ábaco curvado, elementos estes encimados por pinha cónica.» (AMartins – DGPC)


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