Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

moinhos de vento, por aqui e por ali

*  Victor Nogueira

Tirando a excepção da cidade de Setúbal, não há muitas fotos minhas a moinhos de vento, apesar da variedade das suas formas, quer em Portugal, quer por esse mundo fora. Alguns são famosos: os da Holanda nos seus campos de tulipas, os que em Paris resistiram, transformados em casas de espectáculo, ou aqueles contra os quais investiu D. Quixote. Não há muitas fotos minhas talvez porque, apesar da sua visibilidade na crista dos outeiros, de passagem, nem sempre os vislumbro ao alcance do meu olhar e deles não falam os guias turísticos, Por outro lado, muitos estão em ruína, desmantelados, assemelhando-se uns aos outros, ou quando recuperados, frequentemente estão descaracterizados.

Ainda mais difícil é encontrar azenhas, nas margens dos rios, com engrenagens movidas pelo correr e força das águas. Normalmente as azenhas têm mós que se destinam a moer o grão de cereais, para produção de farinha. Mas algumas têm funções doutro tipo, como as que produziam explosivos na antiga Fábrica de Pólvora da Barcarena, em Oeiras.

Não há nas minhas notas de viagens muitas referências quer a azenhas, quer a moinhos de mare ou de vento. Mas nesta publicação fiquemo-nos pelas fotos e textos cujo tema são os moinhos e vento.


As fotos ...



(Foto Alice Quaresma))


(Foto MENS)

(foto MENS)

Évora - Moinhos de S. Bento


Algures no Alentejo, terra que foi do pão


Apúlia



Capela de S. Sebastião - (Rolo 221 - 1997)

Barcarena


Leceia (Rolo 221 - 1927)  Painel der azulejos


Lisboa - Alto dos Moinhos (foto Vidigal Pereira)


Mafra / Ericeira





Monte de S. Felix, em Laundos


Óbidos


Palmela






Setúbal - Casal das Figueiras


Setúbal - Serra da Arrábida (Sítio de S. Filipe)



Setúbal - Bairro Santos Nicolau



 Setúbal - painel de azulejos no Restaurante O Quintal e pormenor


... e os textos

De Fátima recordava-me do chão enlameado e da Capela das Aparições. A Basílica é bonita. Vi também os moinhos de vento, mas só de longe. (NSF - 1963.09.04)


Domingo fomos até à Ericeira. A povoação não tem já a beleza e o pitoresco que nela se via. Prédios incaracterísticos ("É o progresso", comentava me a Irene [Pacheco]), ocupados pelos veraneantes, destroem a beleza e harmonia de que ainda vão sobrevivendo testemunhos. Café, cinema, praia, passeios, são o entretenimento dos "estrangeiros", cujo falar parecia mesmo uma chilreada no pequeno largo, cujos bancos e espaço enchiam com a sua presença. A estrada até à povoação é muito estreita e atravessa algumas povoações, todas elas vitimas do "progresso", como se o progresso fosse a construção de casas de mau-gosto atroz; havia muitos moinhos, a maioria branquinhos e funcionando, contrariamente ao que sucede no Alentejo. (1973.09.19)


Palmela é terra de muitos moinhos, alguns funcionando, na crista das serras do Louro e dos Barris, e das vistas deslumbrantes até aos confins do horizonte. (Memórias de Viagem, 1997)

A parte antiga do  Barreiro possui um passeio arborizado ao longo do rio Tejo, com arruamentos em quadrícula. As três igrejas antigas concentram-se à beira-rio (N. Sra do Rosário, Misericórdia e Santa Cruz), onde também existem uma praia fluvial, poluída, os moinhos de vento da Alburrica, um deles acentuadamente cónico (naquele onde funciona uma Ludoteca), e moinhos de maré, que são testemunhos de processos de fabrico que pertencem ao passado. Avenida Alfredo da Silva,  fundador da CUF (Quimigal) é uma importante artéria onde se concentra variado comércio, com um jardim. O edifício da Câmara é pobre, com vitral na escadaria. Junto ao rio Tejo um dédalo de linhas férreas, com Lisboa na outra margem.  (Memórias de Viagem, 1997)


A mata cavalos fomos do Mindelo a Valença do Minho, regressando pelo interior, de manhã até pela noite dentro. Passamos pelos moinhos, de pedra não caiada, mata e praia da Apúlia - terra de sargaço e sargaceiros, é uma praia de areia fina, atravessamos Ofir, povoação bonitinha na margem do Rio Cávado, passamos por Esposende, . (Memórias de Viagem, 1997.08.21)


Chove desalmadamente na noite em que vamos a S. Martinho do Porto, em baia conchiforme que figura num azulejo à entrada da povoação, em curva apertada onde não se pode parar o carro, pelo que sigo caminho. A chuva não convida a passeios pedestres e da povoação retenho as ruas molhadas, a iluminação, as casas ao longo da baia e outras pela encosta acima. De dia noto quer os cabeços das colinas em volta estão cobertos de moinhos, muitos com ar de abandono. (Notas de Viagem, 1997.10.26) 


Praia (da Nazaré) - Quem entra na Nazaré vê a sua atenção desperta na Marginal por inúmeras lojas com estendais à porta e pelos passeios ostentando roupa e louça artesanais, estando do outro lado a praia comprida. A povoação, mais nova que o Sítio e a Pederneira, desevolida a partir do século XVIII, é uma malha ortogonal subindo suavemente pela encosta. As ruas são estreitas e as casas brancas, conversando com as mulheres à soleira das portas, com um falar próprio, estilo algaraviada arrastada e cantada. (…) Há duas praças principais, onde ficam as esplanadas, e as ruas nesta parte velha ostentam nomes como o Beco do Moinho.  Na rua da Subvila há muito comércio e por toda a povoação as brancas casas apresentam um ar cuidado. (Notas de Viagem, 1997.10.31)


Dado o adiantado da hora é difícil encontrar onde jantar, [em Sobral do Monte Agraço] pelo que regressamos ao restaurante O Ferrador, [em Sapataria], cujos donos nos contam curiosidades da terra, como sejam a origem do seu nome, derivado dali se fabricar o calçado para a tropa. Do terraço da casa mostram nos o Monte do Moinho do Céu, de que se distingue o piscar das luzes para a navegação aérea. .(Notas de viagem, 1998.01.--)


De Inverno o dia escurece rapidamente e as últimas fotografias em Serra d’El Rey são já feitas ao anoitecer.  (...) O adiantado do escurecer impede-nos de apreciar as belas paisagens em redor, tendo como limite o mar e o horizonte longínquo. (...) Pelos arredores alguns moinhos, um dos quais fotografo já com o sol a pôr-se para lá dele, num retrato pouco conseguido. 

A caminho de Atouguia da Baleia, próximo objectivo, em Coimbrã uma placa indica a existência dum cruzeiro, pelo que toca a fazer uma inversão de marcha para um pequeno desvio, acabando por encontrar um cruzeiro manuelino,  num recanto ajardinado, com palmeiras, flores e arbustos, sob um coberto; o cruzeiro apresenta numa das faces Cristo na Cruz e na outra, morto, nos braços da Mãe. Dentro da povoação um moinho bem conservado, da Senhora da Memória. Que memórias são estas não consigo saber desta vez.  (Notas de Viagem, 1997.12.05 e 1998.02.23)(Notas de Viagens 1997.12.05 e 1998.02.23)


Os campos em redor estão cultivados. De Leceia, no alto do monte, a Barcarena, lá em baixo no vale, junto à ribeira, é um pulo pela rua Marquês de Pombal. Na encosta, junto à estrada, avista se o corpo central dum moinho de vento transformado em miradouro, com parapeito no lugar do telhado. De Leceia avista-se até longe, até Laveiras e ao Hospital Prisional de Caxias. Em Leceia situam-se ruínas pré-históricas duma povoação fortificada. (Notas de Viagem, 1997)

Existe em Barcarena uma capela cujo orago ´S. Sebastião, protector dos doentes da peste e dos artilheiros Presume-se que o templo resulte da adaptação dum antigo moinho de vento, ao qual se anexou uma pequena nave. Não é conhecida a data de construção da capela, mas uma das pedras tumulares no seu interior regista a data de 1599. O templo foi reconstruído no éculo XVIII. (Notas de Viagens, 2020)

Dos pontos mais altos avistam-se os campos, cabeços e povoações nos arredores, designadamente do lugar dos Moinhos da Usseira. Uma placa indica uma estrada secundária, mas chegado à povoação ninguém sabe onde fica a nascente ou mãe de água do aqueduto. Resta a visita à aldeia, longilínea, com casas arruinadas, um moinho de vento caiado e conservando ainda a estrutura das velas, vinhedos pelos campos.  (Notas de Viagem, 1998.01.14 e 1998.02.07)

 
Da Foz do Arelho, nas terras da Rainha, a S. Martinho do Porto, nas terras do Mosteiro de que foi granja, podemos seguir pelo cume da Serra do Bouro, cuja altitude é de apenas 162 m, sobranceiro ao mar, primeiro caracterizada por ser ventosa, com vegetação rasteira, inóspita, que vai dando lugar a arvoredo à medida que nos aproximamos de S. Martinho. Não obstante o deserto, na encosta norte até ao vale existem alguns casais, como o de Celão e o das Cidades, de ruas ingremes, estreitas e casas arruinadas. Alguns moinhos estão reconvertidos em residências. No Cabeço da Vela, à berma da estrada, uma enorme eira, reconstruida recentemente. (Notas de Viagens, 1998.02.09 e 24)


Perto da Tornada, pela Rua dos Queridos acima, dirigimo-nos ao Couto, que não pertencia aos coutos de Alcobaça e que nada de notável nos mostra: um cruzeiro e um poço com bomba de água, ambos à beira da estrada. Da toponímia registo a estrada da Laje e as ruas dos Lagares, do Forno , do Vale Velho,  do Ramalhal, do Moinho Velho,  da Eira, das  e da Associação, para além da travessa Estreita  e do Beco da Belavista Já fora da povoação deparo com a Rua do Sol Nascente. (...)


Santa Catarina [nos coutos de Alcobaça] foi esta uma vila importante, embora a importância seja relativa ao tempo e à era; com efeito, em 1527 teria ... 31 moradores na vila e 69 no termo, possuindo até 1834 duas Companhia de Ordenanças para manter a ordem!

(...) No largo principal, chamado do Pelourinho,, situa-se uma igreja modernizada, com alteres de talha dourada ("outrora é que era bonita", conta-me um velhote ilustrado com outros dois sentado num  banco), o pelourinho, a antiga casa da Câmara, um solar setecentista (com uma capela arruinada), para além dum modesto jardim com caramanchões e um fontenário. Passeio pelas ruas e registo os seus nomes: o Beco do Moinho e as ruas do Lagarão, do Jardim, do Arsenal, do Paiol, do Caixeiro,, Direita e da Índia. Deparo com muitas casas arruinadas e outras para venda.

Entre as várias histórias referidas pelo velhote, que tinha lá em casa um livro assinado contando histórias da região, registo a que se refere ao Casal do Coito (?!), onde eram acolhidas as crianças sem pai nem mãe, para além de esclarecer que a forca se situava num cabeço fronteiro, fora da vila, mas que constava que ninguém fora lá executado. (Notas de Viagem, 1998.02.22)


Santa Margarida da Serra - À entrada lavadouro público e pela aldeia muitas pontes. Os habitantes utilizam os balneários públicos. Moinho abandonado, sem velas, mas bem conservado. (Notas de Viagens 2000.08.26)

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