Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bruno Itan - Jovem incentiva foto no Alemão e ganha emprego no governo



28 de novembro de 2011  16h18  atualizado às 18h06



Morador do Complexo do Alemão, Bruno Itan seguiu seu sonho e tornou-se fotógrafo, trabalhando na equipe do governador Sérgio Cabral e fotografando o cotidiano da comunidade
Foto: Bruno Itan/BBC Brasil

Quando Bruno Itan, 23 anos, deixou o trabalho em um lava a jato para fotografar festinhas no Complexo do Alemão, seus colegas no posto de gasolina viram seu desejo de ser fotógrafo como capricho. Alguns anos, uma pacificação, um fotoclube e uma conversa com Dilma Rousseff depois, a carreira de Itan deslanchou. "Eu falei para eles que ia virar fotógrafo profissional, mas eles não acreditavam", disse ele à BBC Brasil.

Filho de uma família pernambucana, Itan chegou ao Rio aos 9 anos com a mãe, que logo voltou para o Recife e o deixou morando com os tios, no Complexo do Alemão. Aos 16 anos, começou a economizar para comprar uma câmera. Depois de passar por três empregos, conseguiu comprar uma máquina semiprofissional e trocou o trabalho fixo por bicos de fotógrafo em festinhas. Enquanto isso, fazia registros do dia a dia na comunidade, buscando captar cenas pouco vistas do Alemão.
A mania de fotografar as obras do teleférico do Alemão chamou a atenção do presidente da empresa responsável pela construção. Itan foi convidado a expor suas fotos na inauguração do teleférico, em julho. Quando o dia chegou, a presidente Dilma Rousseff compareceu, viu as fotos do rapaz e quis saber quem era o fotógrafo. Itan, que estava do lado de fora da solenidade, foi chamado às pressas e apresentado à presidente.
"Ela perguntou se eu tinha emprego, e eu disse que não. Então perguntou se eu queria ir para Brasília trabalhar com ela", conta Bruno. "O (governador do Rio, Sérgio) Cabral estava perto e falou que era melhor eu ficar no Rio, que ele me dava emprego no Palácio. Hoje em dia, sou um dos fotógrafos do governador", conta Itan.
O jovem foi contratado como estagiário do núcleo de fotógrafos do governador há quatro meses, e deve ser efetivado no início do ano que vem. Durante a semana, acompanha a agenda de Cabral, mas nos fins de semana, suas lentes se voltam para a comunidade, nas saídas do fotoclube que fundou com dois amigos.
A ideia veio no primeiro carnaval após a ocupação, em uma conversa com Dhani Borges - fotógrafo que deu um curso no Alemão em 2008 e passou a ser amigo e grande incentivador de Itan. Agora que as coisas estavam calmas, por que não montar um fotoclube?
"Achava que muitos jovens deviam ter vontade de praticar a fotografia, assim como eu, mas tinham medo. Com a pacificação, pensei: A hora é agora", diz Itan. Os amigos convocaram uma primeira saída fotográfica nas redes sociais e conseguiram atrair três pessoas para a estreia do fotoclube, na Quarta-feira de Cinzas. Desde então, vêm se reunindo todos os sábados. No último encontro contaram com 33 participantes, entre moradores e curiosos.
"Não é um curso, é uma troca de experiências. Cada um vai ensinando o que sabe." Nessas saídas, o grupo visita diversos pontos da comunidade - como a estrada de terra que liga o Alemão à Vila Cruzeiro, por onde traficantes fugiram do cerco policial na ocupação, ano passado.
Além das saídas fotográficas, Itan continua fotografando a comunidade, sejam cenas do cotidiano ou episódios de conflito. No ano passado, ele tirou várias fotos da ocupação do Alemão, mas esses registros não existem mais. "Tive que apagar todas as 450 fotos que tinha tirado depois que um policial civil me pegou em um beco. Ele quis ver as fotos e me obrigou a apagar", diz.
Um ano depois da ocupação, Itan diz que a principal mudança é não haver mais tráfico armado e ostensivo, e que houve melhorias na infraestrutura, com avanços em saneamento básico, asfaltamento e retirada de moradores que moravam em encostas.
Mas a ocupação prolongada do Exército, segundo ele, cria outros conflitos. "A relação da população com o Exército está muito complicada." "Eles estão preparados para a guerra, mas não para dialogar com moradores. E o morador não sabe dialogar com autoridade, porque nunca teve autoridade lá dentro", diz. "O diálogo está bem complicado."
BBC Brasil
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1. -  
Bruno Itan acompanhou os conflitos no Alemão e fotografou a ocupação, um ano atrás, no amanhecer de 28 de outubro de 2010
2. - Morador do Complexo do Alemão, o jovem seguiu seu sonho e tornou-se fotógrafo, trabalhando na equipe do governador Sérgio 
Cabral e fotografando cenas do cotidiano da comunidade
3. - Itan fotografa cenas do cotidiano das comunidades do complexo, procurando mostrar a rotina que não sai na imprensa, como os jovens jogando futebol na quadra no alto do Morro da Baiana
4. - Os entusiastas do Foto-Clube do Alemão reunidos na Serra da Misericórdia, estrada de terra por onde traficantes fugiram da Vila Cruzeiro durante a ocupação no ano passado
5. - Funcionários fazem a manutenção do teleférico do Alemão, que foi inaugurado em julho
6. - Crianças brincam e mergulham em uma piscina armada na laje de uma casa no Morro do Alemão; ao fundo vê-se uma estação do teleférico e, no horizonte, uma ponta da Baía de Guanabara
7. - Meninos da comunidade folheiam uma lista telefônica, com a inscrição "Educando para o Futuro" ao fundo
8. - Figura conhecida do Alemão, o senhor Antônio é mudo, mas "escreve tudo o que ele sente", conforme Itan
Bruno Itan acompanhou os conflitos no Alemão e fotografou a ocupação, um ano atrás, no amanhecer de 28 de outubro de 2010  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Morador do Complexo do Alemão, o jovem seguiu seu sonho e tornou-se fotógrafo, trabalhando na equipe do governador Sérgio  Cabral e fotografando cenas do cotidiano da comunidade  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Itan fotografa cenas do cotidiano das comunidades do complexo, procurando mostrar a rotina que não sai na imprensa, como os jovens jogando futebol na quadra no alto do Morro da Baiana  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Os entusiastas do Foto-Clube do Alemão reunidos na Serra da Misericórdia, estrada de terra por onde traficantes fugiram da Vila Cruzeiro durante a ocupação no ano passado  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Funcionários fazem a manutenção do teleférico do Alemão, que foi inaugurado em julho  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Crianças brincam e mergulham em uma piscina armada na laje de uma casa no Morro do Alemão; ao fundo vê-se uma estação do teleférico e, no horizonte, uma ponta da Baía de Guanabara  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Meninos da comunidade folheiam uma lista telefônica, com a inscrição Educando para o Futuro ao fundo  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil
Figura conhecida do Alemão, o senhor Antônio é mudo, mas escreve tudo o que ele sente, conforme Itan  Foto: Bruno Itan/BBC Brasil

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