Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Realidade e criação na era do Photoshop

08/09/2010
 
Os fotojornalistas de antes da era Photoshop viviam à espreita do "instante preciso" para dar o click que criaria a foto genial. Mesmo assim, havia os que eram acusados por colegas de manipular as fotos "dirigindo" os personagens, colocando-os em situações mais estéticas ou mais "jornalísticas". De qualquer forma, a foto espelhava a realidade, dirigida ou flagrada no "instante preciso" de que falava Henri Cartier-Bresson. O Photoshop tornou-se um aliado da profissão e um risco para o fotojornalismo.

Este ano, o fotógrafo Stepan Rudik foi desclassificado da categoria "Esporte" do prêmio World Press pois abusou do Photoshop. Tirou um pé de uma de suas fotos e reenquadrou-a, depois de transformá-la em preto e branco, entre outras manipulações, para fazê-la parecer uma foto feita em película.

Segundo um responsável do World Press, em vez de mostrar a realidade, os jovens fotojornalistas resolvem "aperfeiçoá-la". Resultado: de 100 mil fotos examinadas pelo juri do prêmio, 20% são eliminadas por terem sido "photoshopadas" em excesso.

Campos de refugiados coloridos

Pode-se falar de objetividade da imagem fotográfica? Para o fotógrafo italiano Francesco Zizola, ela nunca existiu. Nem mesmo antes do programa Photoshop, que permite aos fotógrafos manipular ou apenas retocar uma imagem infinitamente. Esse debate em torno da objetividade no fotojornalismo promete ocupar grande parte do Festival Visa pour l’image, que se realiza na cidade francesa de Perpignan de 28 de agosto a 12 de setembro. O fotógrafo Guillaume Herbaut diz que seus jovens estagiários, que sabem utilizar perfeitamente o Photoshop, não fazem distinção entre a foto artística e a foto documental ou jornalística.

O fotógrafo Philip Blenkinsop, da agência Noor, fica indignado quando vê fotos com cores luminosas em campos de refugiados. Ele explica ao jornal Le Monde que nesses lugares tudo é cinzento, não há cor e quando as revistas mostram essas fotos com tons fortes, os refugiados devem se sentir insultados pois é como se os fotógrafos dissessem que a vida miserável deles não é interessante, que a realidade precisa ser retocada.

Por Leneide Duarte-Plon - Observatório da Imprensa
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