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“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 19 de setembro de 2010

Fotógrafo pelos direitos civis é desmascarado como informante

Autor de fotos históricas como a de Martin Luther King, Ernest Withers colaborou com dois agentes do FBI para vigiar movimento

The New York Times | 18/09/2010 08:02
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A foto do reverendo Martin Luther King Jr. em um dos primeiros um dos primeiros ônibus sem segregação em Montgomery, Alabama? Ele tirou. A conhecida imagem de trabalhadores de saneamento carregando placas nas quais se lia "I am a man" (Eu sou um homem, em tradução livre) em Memphis? Sua. Ele foi o único fotojornalista a documentar todo o julgamento do assassinato de Emmett Till e estava lá, no quarto 306 do Hotel Lorraine, na noite em que ele foi assassinado.
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Mas agora um asterisco inquietante deve ser adicionado à herança de Ernest C. Withers, um dos fotógrafos mais famosos da era dos direitos civis: ele era um informante pago pelo FBI.
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Foto: The New York Times
Withers, que morreu em 2007 aos 85 anos de idade, era pago como informante, segundo o FBI
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No domingo, o jornal The Commercial Appeal, de Memphis, publicou os resultados de uma investigação de dois anos que mostrou que Withers, que morreu em 2007 aos 85 anos, havia colaborado estreitamente com dois agentes do FBI na década de 1960 para vigiar o movimento dos direitos civis.
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A revelação sobre o ex-policial apelidado de o Fotógrafo Oficial dos Direitos Civis, cuja fama obtida através de seu trabalho advinha da confiança que tinha obtido entre os altos líderes dos movimentos pelos direitos civis, incluindo King, surpreendeu.
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"É uma traição incrível", disse Athan Theoharis, historiador na Universidade de Marquette, que escreveu livros sobre o FBI. "Isso realmente diz respeito ao grau em que o FBI foi capaz de envolver os indivíduos no seio do movimento dos direitos civis. Este homem era tão confiável".
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Vigilância doméstica
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Pelo menos entre 1968 e 1970, Withers, que era negro, passou fotografias, dados biográficos e informações a dois agentes do FBI no programa do departamento de vigilância doméstica de Memphis, Howell Lowe e William H. Lawrence, de acordo com vários relatórios resumindo as suas reuniões. Os relatórios foram obtidos pelo jornal sob o Ato de Liberdade de Informação e publicados em seu site.
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Os líderes dos direitos civis reagiram à revelação com uma mistura de tristeza, desânimo e descrença. "Se isso for verdade, então Ernie abusou da nossa amizade", disse o reverendo James M. Lawson Jr., ministro aposentado que organizou passeatas pelos direitos civis em todo o sul em 1960.
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Outros foram mais tolerantes. "Não é surpreendente", disse Andrew Young, um organizador de direitos civis que mais tarde se tornou prefeito de Atlanta. "Nós sabíamos que tudo o que fazíamos era grampeado, embora não suspeitássemos de Withers como indivíduo".
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Os filhos de Withers não responderam a pedidos de comentário. Mas uma filha, Rosalind Withers, disse a organizações de notícias locais que ela não achou o relatório conclusivo.
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"Esta é a primeira vez que eu ouvi falar disso na minha vida", disse Withers ao The Commercial Appeal. "Meu pai não está aqui para se defender. Isso é uma acusação muito, muito forte".
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*Por Robbie Brown
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