Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

1966 / 1967 - Férias em Portugal

* Victor Nogueira


Em 1966, coincidindo com a minha entrada em Económicas  (ISCEF) , a Maria Emília e o caçula vieram novamente de férias a Portugal, ela para ser operada no Hospital do Ultramar, ele para concluir o curso de Pintura Decorativa na Escola Artística António Arroio. No final do ano lectivo regressaram a Luanda.

Dessa estadia não conservei registos da correspondência; embora seguramente tenha escrito para Luanda. Mas essas cartas, para os meus pai e tio, foram "arquivadas" no cesto dos papéis. Persistem apenas as fotos duma excursão de autocarro, à Batalha e Alcobaça, e três outras em Lisboa (1). Nesse ano morámos sucessivamente na Casa de Santa Zita (Rua de Santo António à Estrela, 35), na Pensão Distinta, (Rua Duque de Loulé), e num apartamento mobilado na Rua Andrade Corvo, 31, 2º ESqº.

Que retive desses dias em memória? Na Casa de Santa Zita o meu quarto dava para um pátio arborizado. Um dia, estando a estudar de costas voltadas para a entrada, ouvi bater à porta. Exclamei "Pode entrar" e como mais nada aconteceu reparei que ninguém entrara. Passado pouco tempo bateram novamente à porta e surgiram ... duas empregadas, para arrumarem o quarto, não fosse eu atentar contra a honra, virgindade e dignidade das raparigas. As Casas da Obra de Santa Zita eram e são uma instituição religiosa e de assistência onde se  ensinavam as lides domésticas às raparigas que depois seriam empregadas de servir.

Naquele tempo os quartos das pensões não tinham casa de banho privativa, mas uma colectiva no corredor. Pagávamos um suplemento por tomarmos banho diariamente, enquanto que a generalidade do pessoal o fazia apencas ao fim de semana. Era uma fila no corredor, a marcar vez, com as toalhas e artigos de higiene na mão, desesperados porque os banhos do meu irmão eram por norma longos,  demorados, e ele olimpicamente imune, surdo  e alheio às recriminações e protestos.

 O apartamento na Rua Andrade Corvo tinha duas assoalhadas, casa de banho e "kitchenette". A varanda das traseiras dava para as dum prédio sito na Rua Viriato e tinha grandes conversas, por vezes telefónicas,  com uma rapariga que lá morava, salvo erro chamada Vitória, com uma irmã mais nova. Não me recordo se saímos alguma vez juntos mas lembro-me que na altura concluí que na escola primária - um em Luanda, outra em Portugal - tínhamos os mesmos folguedos e cantigas, como a "Tia Anica", "Ó Rosa arredonda a saia" e outras do mesmo género.


Mosteiro da Batalha










Mosteiro de Alcobaça









Lisboa




Avenida Duque de Loulé, vista da Pensão Distinta





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Lisboa vista do Castelo de S. Jorge, ainda sem a Ponte, que foi inaugurada 6 de agosto de 1966 (foto de 1963)



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(1) Uma das fotos, com a Estrela Coimbra, era dum album que perdi nas minhas andanças entre Setúbal e Paço  de Arcos, quando procedia à sua digitalização.



Fotos Victor Nogueira, Zé Luís e Maria Emília

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