Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

o regresso a Luanda, em 1974

* Victor Nogueira



Foto de família - o regresso  a Luanda, em Maio de 1974, após a "licença graciosa". 

Completamente alheia ao terramoto que foi o 25 de Abril, a minha mãe regressou a Luanda.

Em 1966 vim para Portugal, prosseguir estudos universitários, num país que então já era para mim o "estrangeiro"




As minhas idas a Luanda a partir de 1967 acabavam em "tragédia" com o meu pai,  contra a minha vontade,  puxando a conversa para a política e eu lhe contrapunha  que aquela era uma guerra perdida e que a independência de Angola era inevitável, quer com um regime multi-racial como o preconizado pelo MPLA, quer com um regime da minoria branca, como o de Ian Smith na Rodésia do Sul,

Se havia "censura" em Portugal, a partir de 1961 ela passou a ser férrea em Angola, até aí mais liberal, com a autêntica manipulação de que "Angola é nossa", mesmo influenciando  quem até aí não era afecto a Salazar e defendia a independência de Angola face a Portugal.+

A ironia é que o regresso tenha sido feito no transatlântico "Infante D. Henrique", da Companhia Colonial de Navegação (CCN), e que a tragédia tenha sido o chamado "retorno" a Portugal de centenas de milhares brancos e negros, pouco depois, muitos dos  quais nunca tinham estado em Portugal ou que de alma e coração, como o meu pai,  se consideravam não portugueses,  mas angolanos, que a long time ago haviam preconizado a independência de Angola multirracial, como defendia o MPLA.

A tragédia é que muitos brancos acabassem a defender a UNITA, um movimento racista e trIbalista, apoiado  pela PIDE e pela a União Sul-Africana, a do "apartheid".

Porque em abono da verdade se diga, nem o Manuel nem  a Maria Emília, alguma vez foram racistas ou defenderam o apartheid.


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