Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

1949 / 50 - em Portugal

* Victor Nogueira

Em 1949 fui passar um ano em Portugal, com a companhia materna. A viagem para Lisboa foi no "Mouzinho de Albuquerque" e a de regresso no "Uíge", se me não engano.

Desta viagem que terá durado 19 dias lembro-me apenas que a minha mãe passou o tempo quase todo no camarote, enjoada, e que eu era o menino bonito da tripulação.  Lembro-me do desembarque na Ilha da Madeira, no Funchal, em bote pois não havia cais, e da água logo ali ao alcance da mão.

Da estadia em Portugal recordo-me apenas dalgumas cenas em casa dos meus avós paternos, no 44 da Travessa da Carvalhosa, e duma ida a Fátima ([1]), enlameada, em dia de chuva com imensos peregrinos, arrastando-se de joelhos, e duma torneira na berma do caminho, a pingar água, bem como da Capela das Aparições

Em casa do meu avô costumava estar à janela, em cima duma cadeira, E alguém que não a minha mãe devia assustar-me com o “homem do saco”, pois quando na travessa passava um certo homem com um saco às costas eu saía a correr da janela e refugiava-me no colo da minha “avozinha”. E lembro-me do quintal e dum miúdo duma casa vizinha que da janela lançava bolas de sabão para o ar, assim como de com o meu avô dar de comer aos coelho. A maioria das fotos seguintes na secção "dia-a-dia" foram tiradas no dia de Natal de 1949 e recordo que houve uma birra minha qualquer por causa do meu tio Zé Barroso, que, contrariando-me, me queria levar para outro local com o triciclo.

Tenho ideia de que, talvez em Lisboa, estive ao colo do meu bisavô paterno, que não voltei a ver porque já havia falecido, tal como a minha avó Alzira, quando pela 2ª vez fui a Portugal, em 1962. / '63. Também nessa viagem o "Mouzinho" fez escala em S. Tomé,  onde residia o meu rio avô Jorge Luís, em Évora e na juventude companheiro de estroinas do irmão, "o Zé não te rales". Nunca mais nos vimos.

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[1] - De Fátima recordava-me do chão enlameado e da Capela das Aparições. A Basílica é bonita. Vi também os moinhos de vento, mas só de longe. (NSF - 1963.09.04)

A viagem no "Mouzinho de Albuquerque"







fotos de família, em 1949.08.23

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Luanda, 1951 – Artesanato da Ilha da Madeira 













No Porto

As casas



Travessa da Carvalhosa, 44 (avós paternos)

fotos Victor Nogueira 1981.12


O dia a dia
     




Dando de comer aos coelhos

Junto ao galinheiro, com o triciclo oferecido pela minha mãe nesse Natal de 1949






     




    
Com a cadela Diana e acenando





















Na Travessa da Carvalhosa, 44 (casa dos avós paternos)

No Palácio de Cristal

















Palácio de Cristal – desenho de JJ Castro Ferreira (1947)




Recorte duma reportagem sobre o Festival do Concurso dos Namorados, com Amália Rodrigues e Estevão Amarante, entre outros  (1949.05.06)

 

Rua dos Bragas – no 330 morava o meu avô materno, à janela, com o Austin do meu tio à porta (foto Victor Nogueira) 1963 ([2])


[2] - Da varanda para a rua namorava a minha mãe com o meu pai. Mais tarde já podiam namorar ao postigo da porta da rua, fechada à chave, com a minha tia Almira a vigiar do cimo das escadas.




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