Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 28 de junho de 2009

Exposição em Munique conta a história da nudez na fotografia

Cultura | 24.06.2009

O trabalhos de fotógrafos que documentam o corpo nu caminha por uma linha tênue: qual é o limite entre a arte e a pornografia? A resposta pode estar numa exposição em Munique.

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O que há de mais antigo sobre a nudez na fotografia pode ser visto na exposição "Nude Visions: 150 anos da representação de corpos na fotografia", em cartaz no Museu Municipal de Munique até 13 de setembro. A mostra faz uma retrospectiva desde os primórdios da fotografia, em meados do século 19. Na época, as fotos não eram feitas para espectadores comuns, mas para artistas.

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No século 19, pintores, desenhistas e escultores usavam tais estudos como modelo. Ao lado de representações praticamente anatômicas, essas fotos apresentavam poses como as conhecemos de estátuas da Antiguidade. E o que chama a atenção é que as fotos mostram igualmente homens, mulheres e crianças.

Herbert List: Árabe com tremoços, 1935

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Herbert List: Árabe com tremoços, 1935

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Entre arte e glamour

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Somente na virada do século o nu na fotografia viria se emancipar, tornando-se uma arte autônoma com diferentes correntes. Nos anos 1920 e 1930, teve início uma fase de experimentação, uma busca por perspectivas e distorções extremas. Já durante o regime nazista seria diferente: o nu precisava ser "heróico, atlético ou casto e puro", diz Ulrich Pohlmann, curador da exposição e diretor do acervo fotográfico do museu.

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Há fotos que parecem pinturas, outras lembram estruturas abstratas em preto e branco, há ainda as que documentam o início da revolução sexual. Sonhos eróticos são representados ao lado de performances artísticas, comuns nos anos de 1960 e 1970. Artistas famosos, como Friedensreich Hundertwasser, despiam a si e também suas modelos para protestar contra as pressões da sociedade ou simplesmente contra a retidão da arquitetura.

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T.W. Salomom: Dançarinas, 1935

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: T.W. Salomom: Dançarinas, 1935

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Respeito pelo próximo

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O que não mudou foi a busca pela qualidade. E esta reside num "certo respeito ao outro", diz Pohmann. Somente num diálogo à mesma altura entre fotógrafo e modelo é que a foto narra algo sobre uma pessoa e a vida vivida, assinala o curador.

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Um belo exemplo disso são as Revuemädchen (dançarinas do teatro de revista), na capa do catálogo da exposição. Quase indiferentes à câmera, as modelos evocam nostalgia e modernidade na foto tirada em 1935.

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Autenticidade perdida

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Com o advento da fotografia digital, a história de 150 anos da nudez na fotografia tomou um novo rumo. As incontáveis possibilidades de propagação e de comercialização das fotos mudaram não só a forma de o público ver seios e bundas, como também o reconhecimento de que o nu muitas vezes não é o que se vê, mas um ideal manipulado pelo computador.

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Autora: Renate Heilmeier

Revisão: Alexandre Schossler

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