Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Fotos de capa em janeiro 12

 * Victor Nogueira



2022 01 12  Foto victor nogueira - Lisboa vista do Panteão Nacional - rolo 240


2021 01 12 foto victor nogueira - tarde de chuva em Cascais (2017.02.10)

VER   

Entre Lisboa e Cascais, a long time ago


2020 01 12 O meu tio Joaquim António, que morreu com 20 e poucos anos (1913 / 1936), escrevia poesia, poesia triste, porque, tuberculoso, sabia que em breve morreria. Herdei dele, no espólio da minha mãe, dois cadernos manuscritos de poemas seus. Mas não é dele mas de António Nobre este poema, embora este tipo de poesia não seja a minha praia.

A minha mãe também escrevia poesia, por vezes alegre, alguma publicada em jornais do Porto, e contos, alguns publicados num jornal de Luanda. Mas destes últimos nenhum ela guardou.

Virgens que passais - António Nobre

Virgens
que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.

Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o Mar
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai....
Ó suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz...cantai !


2020 01 12 foto victor nogueira - grafito em Setúbal, no Bairro do Troino (2018.07.24)

VER  

Murais em Setúbal 17 - Grafitos 01 - As Palavras

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2019 01 12 foto victor nogueira -  no Promontório e fortaleza de Sagres, em 1996

De Lagos para Ocidente o trânsito é menor, com pequenas praias ao longo da costa, até ao Cabo de S. Vicente, após Vila do Bispo. Sagres é um promontório escalvado, ventoso, desértico, com muralhas e o que me parece ser um enorme relógio de sol no solo, com pequenos areais abrigados em pequenas enseadas. 

Vila do Bispo tem um ar simpático, destacando se a igreja de uma alvura cintilante, com pequenas casas em redor, perto do promontório de Sagres.(Memórias de Viagem, 1997.08.21)

Vila do Bispo - Foto à igreja, onde se velava um morto, e a várias casa antigas. Sagres - Nada de especial. Compramos postais e as pessoas são simpáticas. Em Portimão e Sagres as pessoas têm sido normalmente afáveis e simpáticas.(Memórias de Viagens,  2000.04.17)


2017 01 12 Quando vieres - Maria Eugénia Cunhal
Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações,
Pois quando tu vieres
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.
Maria Eugénia Cunhal in "Silêncio de Vidro", Lisboa, 1962

(Álvaro Cunhal, 14 anos mais velho que a irmã, estivera na prisão durante 11 anos e fugira 2 anos antes do Forte de Peniche, em 1960. Forçado a sair de Portugal, fez parte da Direcção do PCP no exterior (Moscovo e Paris), regressando em 1974. Torturado na prisão, esteve encarcerado em 1937, 1940 e 1949-1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento.

GRAVURA - Álvaro Cunhal - Desenhos na prisão


2016  01 12 Charles Perrault (Paris, 12 de janeiro de 1628 – Paris, 16 de maio de 1703)


2014 01 12 - foto victor nogueira - dia invernal, em Setúbal

Cá estou sózinhito no alto da torre no cimo duma encosta vislumbrando de vez em quando os carros passarem lentos lá em baixo na avenida, após o parque verde - agora passa um autocarro - enquanto as gaivotas se recolheram e não fazem voos planados no céu acastelado de núvens cinzentas.
Verde é a relva no parque, mas de ramos esquálidos e despidos a maioria das árvores, intilantes as áleas. Os cafés do outro lado têm as esplanadas vazias, que não "prendem" os raros passantes, agora sem guarda-chuva.
Tirando o dedilhar no teclado, tudo é silêncio, até silenciosos estão os meus pensamentos.
Setúbal não conta e as amizades do inFaceLock são meras virtualidades. Pensava que hoje estaria sol, mas não, está frio e de chuva, e eu engripado e gelado. Bem convido as amizades mas elas ou estão longe ou presas de interditos ou com os pensamentos muito para além desta janela, muito para lá do horizonte que neste momento é um luzeiro de luzes cintilantes, a maioria amarelas, algumas de anúncios brancos ou vermelhos, como os do Jumbo, dentro em breve nova catedral do consumo - allegro - que rebentará com o resto do comércio, não só no centro histórico como no resto da cidade.
Esparsos, espaçados, são os carros na avenida ou mais além, noutra rua. Ainda mais para lá o movimento raro das luzes dos automóveis na auto-estrada. O céu, esse agora está dum cinza arroxeado e o asfalto é um entrecruzar de faixas cintilantes como lantejoulas. Está de chuva, num tempo cinza e gelado. É pois tempo de inverno !



2013 01 12 O poema musicado de Ary dos Santos interpretado por Simone de Oliveira em 1969 no Festival da RTP que escandalizou o regime fascista por dizer que "quem faz um filho fá-lo por gosto"



Desfolhada

Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.
É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.




2013 01 12 - Ah! Depois do escândalo que foi no tempo do fascismo Ary dos Santos escrever que "quem faz um filho fá-lo por gosto", já depois de Abril um deputado do CDS - João Morgado - em 1982 na Assembleia da República ao debater.se a interrupção voluntária da gravidez afirmou que «A igreja Católica proíbe o aborto porque entende que o acto sexual é para se ver o nascimento de um filho».

Vai daí, a poetisa Natália Correia, ao tempo deputada pelo PSD, retorquiu
Já que o coito diz Morgado
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menino ou menina
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou parca ração! uma vez.
E se a função faz o órgão diz o ditado
consumado essa excepção,
ficou capado o Morgado.

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