* Victor Nogueira
AUTO RETRATO EM PASSATEMPO Com nariz grande, olhar estrelado, Baixo, cabelo negro, ondulado, ... Magro, moreno, mui desajeitado, Nada ou p'la vida sempre perdoado. Buscando amizade, mau achado, Agindo calma ou mui despeitado, O êxito logrou, mal torneado, Com persistência e pouco alegrado. Tolerante, mas não libertário, Conduzindo, longe da multidão, Na vida procurando liberdade. Em tudo mal, buscando seu contrário, Com ar sério ou risonha feição, Mal sente, co'a razão, felicidade. in "Retratos" - 1989.09.10 - Setúbal ~~~~~~~~~~~~ CANTAI OLIVAIS, CANTAI DE ALEGRIA. . Oh! Mil-Sóis, teu aspecto bem cativa; O andar, o sorriso radiante, Doce, valerosa como diamante, Que pena tu pareceres tão altiva. . .Pode a tristeza andar-me fugitiva Se tu, trigueira, de ar tão sonante, Me pões em terra, mal esvoaçante, Sem por isso ficares pensativa? . Há bem grande alegria se te vejo Nesta minha sala, mesmo calada, Com teu jeito manso e delicado. . Céus e terra cantam vero desejo De me convidares p'ra jantarada, Com fogo mal preso, estralejado. . . Setúbal 1989.Setembro.05 ~~~~~~~~~~~~~~ Carta ao filho, por Nazim Hikmet (1902 / 1963) Não vivas sobre a terra como um estranho Um turista no meio da natureza. Habita o mundo como a casa do teu pai. Crê na semente, na terra, no mar. Mas acima de tudo crê nas pessoas. Ama as nuvens, as máquinas, os livros, mas acima de tudo ama o homem. Sente a tristeza do ramo que murcha, do astro que se extingue, do animal ferido que agoniza, mas acima de tudo sente a tristeza e a dor das pessoas. Alegra-te com todos os bens da terra, com a sombra e a luz, com as quatro estações. Mas acima de tudo e a mãos cheias, alegra-te com as pessoas.
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