Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Fotos de capa em janeiro 18

 * Victor Nogueira


2022 01 18 Foto victor nogueira - Vila do Conde


2021 01 18 foto victor nogueira - Castelo Novo (Fundão) - vista geral e Capela de Santo António (rolo 364)


2020 01 18 SER AMIGO - Victor Nogueira .

Ser amigo é colorido presente
Ao darmos nossa mão, mas sem maldade,
Mantendo a vera luminosidade
Do silêncio ou do verbo assente.

Na tarde calma, serena, luzente,
Ou de noite, dia sem claridade,
É uma dádiva, felicidade,
Esta da vigília ser não dormente.

Amigos têm vária feição:
Dão-nos sua tristeza ou alegria,
Compartilhando bons e maus momentos.

Velho, novo, mulher, homem, bem são;
Na estrada e no dia-a-dia
Nem sempre atentos, prontos, nos tormentos.
.
.
1989.09.03 (3)
[1989.12.22]

2020 01 18 foto victor nogueira - Todos os anos nos desfiles do 1º de Maio, em Setúbal, no Largo dos Combatentes, com um cravo na mão e acenando aos manifestantes, estava à janela um casal idoso. Depois, passou a estar apenas a mulher e nos últimos anos ninguém. Esta é uma das fotos que tirei ao longo dos tempos.

201 01 18 Victor Nogueira visto por Camilo Monteiro em 1973.01.05

Este dedo assinalado
Não é para descuidar.
Tem pretensões, é ousado
É dedo parlamentar !
É de Aragão e Avis
Que a voz não te esmoreça
Vamos cantar
NOTA - a história do Aragão e Avis tem história. Havendo algum sangue azul no ISESE, embora tão vermelho como o meu, republicano, laico e subversivo, descobri que o meu nome ao contrário se lê Rotciv Leunam Osorrab Arieugon ad Avlis, visigótico, e pronto, dei-me umas pinceladas de azul celeste descendente das Casas de Aragão, Avis e Calatrava LOL


2018 01 18 Diz-me o InFaceLocked que não posso partilhar esta minha NOTA de 18 de Janeiro de 2013  pois contém matéria insegura e que ele bloqueou. Serão duas gravuras eróticas ilustrando As Cartas Portuguesas de Soror Mariana ?

2018 01 18 O que conta é o Projecto, o Partido. Quantos foram esforçados nas autarquias e no Parlamento ou no Movimento Sindical e depois alguns (m/f) foram no canto da sereia e mudaram de campo, de "renovadores" a "independentes" ou "socialistas/sociais-democratas". Eles e nós passamos, mas o que deve sobreviver e vencer são os ideias, a organização e a praxis comunistas.

Como escrevi nesse longínquo ano de 1972
«Salut, camarada!
Se puede enganar
a todo el pueblo
parte del tiempo
Se puede enganar
a parte del pueblo
todo el tiempo
pero no se puede enganar
a todo el pueblo
todo el tiempo. (Lincoln)
Aqui está a minha esperança! Nós venceremos. Mesmo que eu seja derrotado ou me venda, outros tomarão o meu lugar, empunharão o estandarte. Algum dia venceremos! Algum dia! Salut, camarada!»
Gravura - O 4º Estado, de Volpedo (1901)


2018 01 18 Lassos, por Victor Nogueira

Lassos como roupa no chão.......em rodilha .............Rugas (imperceptíveis) .............nos olhos um leve sorriso: olá amiga! , um erguer pela gola um desalento um sorriso brando . na serenidadde do entardecer uma enorme interrogação a luz do candeeiro o pó dos caminhos . nos lábios um leve sorriso (imperceptíveis) .........ao canto dos olhos rugas .........na alma um enorme cansaço 1972.Março.04. Évora


2018 01 18 - Marcelo Caetanos e as Conversas em Família

Nem todos podem ser o Marcelo das selfies e dos afectos, afilhado do Marcelo que inaugurou em 1968 as então chamadas Conversas em Família.
Escrevia eu outrora, em 1973 74

"Assisti ontem, como não podia deixar de ser, ao discurso do Marcelo Caetano sobre o Ultramar Português, na sequência dos incidentes verificados em Lisboa na Capela do Rato, após a atitude tomada por um grupo de católicos - chamados progressistas - sobre a paz - e as consequências da guerra colonial. (...) Pois o discurso do 1º Ministro foi atentamente escutado pela audiência ali do Café Alentejo onde vejo o pouco que me interessa na TV. Escutado atentamente mas não reverentemente. Um discurso notável pela sua construção, pelo encadeamento (embora falacioso) das ideias e factos, pela sua poesia ("Que bom poder ser moralista...", faz-me lembrar um dos poemas dum dos heterónimos do Fernando Pessoa), pela deturpação dos factos e pela demagogia. Nem o tom nem o tema me surpreenderam. Parece um facto que o Governo Português procura uma solução política para o problema colonial." (MCG - 1973.01.16)
"Só fiz um inquérito hoje [em Arraiolos. Um velhote de 72 anos, cabo reformado da GNR e ex-comandante do posto do Vimieiro. Muitos elogios ao Marcelo [Caetano] (já o carcereiro de Arraiolos me dissera: "Deus o conserve por muitos e bons anos"). Um casal de velhotes simpático, à moda antiga, que nunca bateram nos filhos, que no entanto tinham de andar na linha, nada de saídas nem bailes. " (MCG - 1973.03.16)
"Ontem à noite (1973.10.24), no regresso de Arraiolos, muitos Mercedes a caminho de Évora, onde às 21:30 alentejanos cinzentos de ar sisudo aguardavam ordeiramente o início da sessão de propaganda da ANP [Acção Nacional Popular]. Debaixo dos arcos [arcadas], uma fila de homens, com ar humilde e jeito de rebanho descido da camioneta, dirigia se para o cinema onde se realizaria a tal sessão. A Oposição não comparecerá ás eleições no domingo. O Marcelo [Caetano] bater-se-à contra nada" (MCG - 1973.10.25).
" Quando regresso à Praça [do Giraldo] já tudo havia terminado; apenas na placa central da Praça do Giraldo um grande magote de pessoas estão comprando "A Capital". São autênticas corridas aos jornais, avidamente disputados, como os dos últimos dias. Toda a gente anda de jornal debaixo do braço ou lê-o à mesa do café ou especado na rua. Até, oh! surpresa, raparigas! (Muitas mulheres têm tanta pena do Marcelo [Caetano], coitadinho, tão simpático, tão amigo do povo!). SAFA!" (MCG – 1974.04.27/28)


2014 01 18 -Ary dos Santos em Évora

Uma sessão cultural em Évora

Aqui, espalhados pela mesa, vários recortes de jornais, a maioria deles da Isabel da Nóbrega, que já conheço desde há seis anos pelos artigos que tem publicado no "Diário de Lisboa" e na "Vida Mundial". Actualmente já nem sempre aprecio tanto os seus artigos como outrora: porque ela teria mudado a sua maneira de escrever ? Ou eu a minha maneira de ser? Vi‑a apenas uma vez (em Évora) há dois anos, num colóquio sobre poesia (o Ary dos Santos - conhecido pelas letras da "Desfolhada" e de "Menina" - declamou - e bem - poemas seus) A esse colóquio o Ary chegou muito atrasado e já "entornado" e com uma garrafa de brandy com que ia molhando as goelas ao longo da sessão. Quem costuma andar lá pelas reuniões em Évora, como eu, conhece um certo número de autodidactas, o mais enfadonho dos quais é um tipo de bigode e óculos. Pois esses autodidactas - numa atitude compreensível mas inaceitável - aproveitam estas "manifestações " culturais para botar faladura a propósito e - sobretudo - a despropósito. De modo que para o fim aquilo começou a aquecer - o Ary dos Santos, bêbado, a falar contra a situação, em português vernáculo (e o Presidente da Direcção da Sociedade Operária de Cultura e Recreio Joaquim António de Aguiar muito aflito, por causa da PIDE e dos castos ouvidos das senhoras presentes) os autodidactas discutindo com a assembleia e a mesa, o Victor Ângelo e outros alimentando a discussão (dessa vez não abri o bico, pois por mim falava o ... Ângelo). O José Saramago ([1]) e a Isabel da Nóbrega procuravam, em vão, acalmar os ânimos. Apaixonei‑me pelo rosto da Isabel. Se a visses, aqueles olhos grandes, as suas mãos, a atenção e o cuidado para não ferir os autodidactas - vaiados pela assistência! Estou a vê‑la sentada, aflita à procura da palavra e do gesto, falando às pessoas, voltada para elas, aflita por não poder falar com os dois campos simultaneamente, um grande respeito pelas pessoas! Entrevi‑a depois à saída e fiquei algo desiludido: o seu corpo não me pareceu corresponder à nobreza do seu espírito. Pouco sei dela: que tem escrito alguns romances, que terá dois filhos da minha idade. (MCG - 1972.09.02)

 

[1] - Voltei a encontrar o José Saramago anos depois novamente em Évora, nos idos de 75, salvo erro numas reuniões para que assumisse a direcção do Diário do Sul, órgão reaccionário, e mais tarde numa sessão de autógrafos na Avenida da Liberdade em Lisboa, numa mesa debaixo dum toldo, cena que registei para o meu port-folio fotográfico. Ou várias vezes na Festa do Avante, com ar entediado a conceder autógrafos. Do Ary, recordo depois de Abril a sua voz empolgante, arrebatadora, umas vezes, mais intimista, noutras, conforme os poemas que “dizia”. Ouvir Ary emociona-me, ainda mais que outro "diseur" que foi João Vilaret.

 

VN in RETRATOS 


Sem comentários: