A seta à beira da estrada na noite chuvosa desperta-me a curiosidade, por estar assinalada com o símbolo de monumento. Meto pelo atalho, parecendo me que a estrada corre por entre cerros. O monumento é afinal uma igreja iluminada no negrume da noite, que não sei se é manuelina ou um pastiche romântico do século XIX. Não encontro referências nos livros que consulto pelo que sigo adiante. 
Existem a Cela Nova e a Cela Velha. O nome está ligado a uma lenda que refere ter existido neste local uma cela habitada por um frade que recebia tributos dos camponeses da região e os guardava numa casa, ainda hoje conhecida como Tulha. (Notas de Viagem, 1997.10.26)
Regresso à Cela Nova, cuja igreja dedicada a Santo André revejo pormenorizadamente, apercebendo me também do seu pelourinho e do edifício do antigo celeiro. Sigo por outros caminhos em busca de Cela Velha; a povoação tem um ar de abandono, mas a visão de Cela Velha é ainda mais deprimente, embora paradoxalmente pareça mais recente: situa-se no fundo duma descida aprazível mas interminável e, quase no seu termo, uma placa partida indica a existência dum monumento. Lá ao fundo um largo, alguns edifícios degradados, uma bomba de gasolina, a estação do caminho de ferro e um segundo monumento, tal como o primeiro dedicado a Humberto Delgado. Estranho estes dois monumentos a Humberto Delgado: o primeiro avista-se perfeitamente do largo da estação, lá em cima, a meia encosta.
O primeiro lugar de culto que existiu na Cela estava completamente em ruínas, quando D. Manuel I mandou edificar no mesmo local uma nova igreja, dedicada a Santo André. Da primitiva construção desse templo pouco resta e a última grande empreitada, realizada em 1909 deixou-nos a talha barroca setecentista do altar-mor, a pia baptismal do séc. XVI e as seis gárgulas com formas de animais que guarnecem os flancos do templo.
Cela era uma das catorze vilas dos antigos Coutos do Mosteiro de Alcobaça, tendo recebido forais dos Abades em 1286 e novamente em 1324 Um foral novo foi concedido por D. Manuel, em 1514, referindo-se a Cella Nova, para distingui-la de Cela Velha, hoje aldeia, possivelmente a anterior sede concelhia. O seu pelourinho, erguido no largo da Igreja Matriz, terá sido construído na sequência do foral manuelino.
ver Cela - Monumento a Humberto Delgado

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