Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 20 de junho de 2020

Santuários 10 - Nossa Senhora da Luz, em Castanheira de Coz (Alcobaça) -



* Victor Nogueira

Entre Castanheira e Chãos de Aljubarrota, a dois km de Cós, encontra‑se uma capela da Senhora da Luz, alpendrada, aqui se realizando as festas da Senhora da Luz ou dos pinhões, em 16/17 de Novembro.  Em Chãos de Aljubarrota um painel de azulejos na fachada dum largo desafogado reproduz uma igreja (Ermida de N. Sra. das Areias). No campo um burrico pasta calmamente. Ninguém sabe que ali foi a batalha de Aljubarrota, o que não admira, pois verifiquei posteriormente ser engano meu. (Notas de Viagem, 1998.02.22)




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A dois quilómetros de Coz existe uma igreja cuja história está ligada à lenda da Fonte Santa, assim designada devido às propriedades milagrosas atribuídas às suas águas e onde, segundo a lenda, apareceu Nossa Senhora da Luz, pela primeira vez, a uma velhinha de nome Catarina Annes, no ano 1601.

Está relacionada a uma das lendas mais curiosas do concelho de Alcobaça, a lenda de Nossa Senhora da Luz. Nela está gravada a seguinte inscrição: "Aqui apareceu Nossa Senhora da Luz no ano de 1601”.

O Santuário foi mandado construir por D. Damião Borges, fidalgo ilustre do concelho e de Sua Majestade, como homenagem e reconhecimento pelos benefícios recebidos, em honra de Nossa Senhora da Luz. Na capela-mor encontram-se as sepulturas de Catarina Annes e Damião Borges.

Este templo está relacionado com uma lenda. Conta esta lenda que, andando por aqueles montes uma velhinha chamada Catarina Annes a apanhar lenha, lhe apareceu no lugar denominado Vale de Deus, entre o Juncal e a Castanheira, uma nobre e formosa senhora, que se ofereceu para ajudar a apanhar a lenha. Mas o aspeto da senhora era tal que impressionou a velhinha que lhe agradeceu, mas não quis aceitar para que não se sujassem aquelas mãos mimosas.





Porém a velhinha não esqueceu a misteriosa senhora que algum tempo depois lhe voltou a aparecer, mas na companhia de uma outra senhora (que diz a lenda ser Santa Marta que até hoje se venera no lugar da Castanheira). A Senhora disse meigamente à velhinha "Segue-me Catarina". Porém a velhinha não atendeu às palavras ou porque ficasse surpreendida com estas aparições, ou porque estava embebida em místicas cogitações, tão próprias num sítio que desafia a piedade e a devoção. Porém uma terceira vez lhe apareceu a mesma senhora formosa, numa altura em que a pobre e virtuosa velhinha, devia de andar terrivelmente preocupada pois perdera no mato a chave da sua casa. A senhora disse-lhe: "Catarina vem cá que eu te darei a tua chave que perdeste". A boa velhinha assim que ouviu falar na chave ficou profundamente admirada, pois não tinha contado a ninguém que tinha perdido a chave, e mais admirada ficou pelo facto de a chave ter sido encontrada e terá respondido: "eu perdi a chave no mato, não é possível que a possam ter achado para ma dar". Porém ao recebê-la o seu coração dilatou-se de tal modo que se encheu de uma consolação inexplicável. De tanta luz se iluminou a sua alma que reconheceu que estava na presença de um ser divino "Nossa Senhora - a Rainha do Céu e da Terra". Era tal a sua alegria que não foi capaz de agradecer e seguiu a senhora até um determinado local do vale. Aí a Senhora pediu-lhe que ali abrisse um buraco e ela com as suas mãos cavou um pequeno buraco, de onde começou a jorrar água pura. A Senhora disse-lhe então: "Vai e diz aos moradores da tua terra, que nesta fonte encontrarão remédio para todos os males". Catarina correu a contar aos vizinhos e depressa a fama daquela fonte se espalhou.


Ao terem conhecimento do milagre e do aparecimento da Senhora a Catarina Annes e da fonte que lhes deixara para curar as enfermidades, começaram a afluir ao local da fonte os descrentes e desanimados da medicina da terra, que assim procuravam vencer a dor com a água abençoada pela "Consoladora dos Aflitos".

Outros cheios de fé e amor contentavam-se de ver e beijar o sítio por onde a virgem teria passado. O lugar começou a ser frequentado com muita devoção e a fonte foi arranjada convenientemente e numa pedra foi gravado a seguinte frase: "Aqui apareceu Nossa Senhora da Luz em Ano de 1601". ([1]) (2)






A Capela de Nossa Senhora das Areias, erguida no século XVestá ligada a uma outra lenda que originou um novo local de culto.

«Diz a tradição que Nossa Senhora apareceu neste local a uma pastora, daí a construção da Ermida que segundo Couseiro "era de muita romagem, particularmente para febres e maleitas"; segundo a mesma fonte, sabe-se que à data da construção da Ermida, esta não tinha sino. As ripas de cerâmica que servem de cobertura à nave e capela-mor são tingidas com "vieuxchêne".

(...) Habitava por estes sítios uma mulher que quando ia buscar água a uma fonte, descansava sempre num mesmo local. Certo dia, estando a mulher em grande aflição por ter perdido a chave de casa, apareceu uma senhora que lhe indicou o sítio onde estaria a chave. A mulher dirigiu-se então a esse sítio e lá encontrou a chave dentro de uma taça de areia.

Dai, a construção da Ermida no local onde apareceu a senhora e daí o nome de Nossa Senhora das Areias. Ainda hoje se mantém debaixo do altar uma taça com areia.» (3)



(3)  in Olheiros e Chãos de Aljubarrota ... - Por caminhos de Cister
   

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