Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 9 de junho de 2020

Fortificações 26 - O Farol do Forte do Bugio

* Victor Nogueira

Foto victor nogueira . Farol do Forte do Bugio  

  - Desta vez as minhas deambulações trouxeram-me até ao Jardim de Paço de Arcos. Aqui estou, pois, junto à Estrada Marginal, onde passam velozes carros e mais carros. O Tejo está defronte a mim e o Tejo seria uma baía como a de Luanda ou do Rio [de Janeiro] se eu não soubesse. Ao alcance da vista o mar e o Farol do Bugio. Para montante Lisboa, a Ponte e o Cristo-Rei. Além é Belém, di-lo o monumento que daqui se vê. Os bancos do jardim estão desertos: corre uma aragem fresca e algo desagradável. O jardim tem flores, mas as árvores estão ainda despidas. O céu nublado está belo, ao pôr do sol. As núvens negras nuns sítios, iluminam-se noutros. De resto vai se aproximando a hora de jantar - os dias agora estão mais compridos. (s/data - 1972/73 ?) (Notas de Viagem, 1997)  

Uma programada ida à Torre do Bugio nunca chegou a concretizar-se. O convite foi dum faroleiro amigo meu e da minha tia avó Esperança, o João Meles. Nesse tempo já eu sabia que o João era comunista.

Já na zona residencial nova, a caminho de Caxias, o rio Tejo refulge lá em baixo e, mais longe, avista -se o farol do Bugio à entrada da barra. Junto à urbanização da Quinta do Alto, com a vista ainda não totalmente tapada pelos edifícios, a minha atenção é desperta para uma insólita construção, estilo mourisco, que o dono, um goês, diz ser indiana; no quintal desta residência despertam a atenção um aviário estilo oriental e um painel de azulejos, que me diz reproduzir a casa onde nascera em Goa.  (Notas de Viagem, 1997, 1998.01.26)

aqui o paredão
ali as rochas
o iodo das águas
sem lodo
e
as velas
a dança ritimica
compassada
das ondas
marulhando

ao vento em filigrana
o teu cabelo bailando

ao fundo o bugio
e o teu sorriso planando
finas rugas no teu olhar

o mar

na praia e na rede
o mistério
e
o suave perfume
do corpo apetecido
e do sorriso
riso liberto

quem mora dentro de nós ?  (Paço de Arcos 2014.06.10)

O Farol do Bugio localiza-se no Forte de São Lourenço do Bugio, na foz do Rio Tejo. Trata-se duma torre circular de cantaria, branca, encimada por uma lanterna e varandim vermelhos, no interior de um forte também circular. Em 1693 já existia no ilhéu uma torre com estrutura de farol, arrasada pelo sismo de 1755. Ordenada a construção dum novo farol pelo Marquês de Pombal, este, com a forma actual, entrou em funcionamento no ano de 1775. O Forte foi desarmado em 1945, sofrendo o conjunto edificado obras de reparação e consolidação em 1952 e em 2000.

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