Victor Nogueira
Há por esse país fora muitos largos, praças, ruas ou avenidas dedicadas aos Combatentes ou Mortos da Grande Guerra e aos Heróis ou Combatentes da Guerra do Ultramar. Lembrados também em monumentos escultóricos. Aqui se coligem os textos das minhas Viagens em que tal é referido, incluindo fotografias de minha autoria.
Alpedriz Pertencendo a Alpedriz, encontra-se a povoação de Montes, por onde andaram os romanos, sendo visível a Igreja de S. Vicente, de traça moderna, em cuja fachada se encontra gravada uma lista dos filhos da terra mortos na I Guerra Mundial. No interior do templo a via sacra está representada por baixo relevos polícromos, e no exterior, sobre um pilar de prata, encontra-se uma imagem de Santa Maria. (Notas de Viagem, 1998.02.22)
Batalha De Fátima fomos à Batalha ver o Mosteiro. Lembro-me das Capelas Imperfeitas, de quando cá estive em 49/50. Gostei bastante de ver o Mosteiro, que é de calcário. Vi os claustros, a Sala do Capítulo, onde se encontra o Túmulo do Soldado Desconhecido. É proibido dar donativos naquela sala, mas os visitantes metiam-nos no bolso do sentinela que lá estava perfilada. Vimos a sala de 14/18, mas à pressa. Eu gosto de ver as coisas calmamente. (1963.09.02 - Diário III)
Cós (Coutos de Alcobaça) No adro da igreja, onde sobressaem palmeiras, uma lápide regista o nome dos filhos da terra mortos na Guerra de 1914/18. A pintora Josefa de Óbidos havia pintado alguns quadros para o Convento, dispersos após a extinção das Ordens Religiosas na sequência das Revoluções Liberais do século XIX. .(Notas de Viagem, 1997.10.31)
Covilhã Jardim principal - com miradouro debruçado sobre a Serra. Igreja de S. Francisco (da estrutura gótica primitiva restam duas capelas tumulares). Monumento aos mortos da grande guerra. (1998.07.08/12)
Évora - Jardim Público. Onde está uma oliveira com uma lápide que reza assim: "Oliveira plantada em 14 de Julho de 1919 comemorando a Paz Universal após a Guerra dos Povos Aliados contra a Alemanha" (NSM - 1969.01.26)
Évora Dentro de momentos a Praça do Giraldo será cenário duma manifestação [do 10 de Junho] que pretendem grandiosa e durante a qual se enaltecerá essa gloriosa e alegremente sacrificada juventude portuguesa que em terras de África defende a herança dos seus avoengos, numa guerra santa sobre cujos fundamentos se não admitem dúvidas. (...) Está uma manhã cheia de sol, contrastando com o pluvioso e cinzento dia de ontem. Pela janela aberta chegam-me aos ouvidos o chilrear dos pássaros e os discursos transmitidos pelos autofalantes, na cerimónia que se realiza a dois passos daqui, entrecortados por salvas de palmas. (NSF - 1969.06.10)
Évora À minha direita dois velhotes conversam: um deles conta qualquer episódio relacionado com a sua estadia na Grande Guerra de 14/18. (…) Mais velhotes sentam se ao lado da minha, iniciando amena cavaqueira. Agora reparo que esta é a mesa deles. Adeus, estudo. Um deles diz que os gajos da situação são os que mais maldizem o Marcelo [Caetano] e os que mais o homenageiam. (MCG - 1972.09.28)
Évora No Giraldo Square erguem-se bancadas e toldos, que vedavam ao trânsito automóvel a rua da Selaria (ou 5 de Outubro). O Giraldo é uma "bancadaria" para [comemorações d]o 10 de Junho, que este ano deve ser comemorado em grande, para compensar os desastres que se vão averbando na Guiné e no Norte de Moçambique. (...) Domingo próximo, em Portugal de lés a lés, viver-se-ão jornadas de fervor patriótico! (MCG - 1973.06.07)
Évora Num ápice o Arcada enche-se. Terminaram as condecorações, os toques de clarim e o desfilar das forças em parada. Já ontem se notavam muitos forasteiros que de longes terras vieram até ao povoado. Aqui à minha direita, muito ternos, uma moça conversa com o namorado e deixa entrever um grande pedaço da pele das costas, entre as calças e a blusa. Questões de posição! À esquerda, um marinheiro com familiares (?) exibe a sua condecoração de fresca data. Além o senhor Jaime abre e fecha os braços, como asas, enquanto vai dando lustro aos sapatos de um cliente. Passam empregados com as bandejas cheias de chávenas, copos e comes. (...) O marinheiro levanta-se e parte. Afinal a bengala não é dele mas do amigo que o acompanha. O senhor Tenente e o senhor Coronel cumprimentam-se, batem a pala e apertam as mãos, enquanto as respectivas esposas se beijam. Na carequinha do senhor Coronel o vinco na pele assinala a presença do boné, agora sobre a cadeira. Entram pessoas de luto e há cumprimentos de mesa a mesa. Precisava duma câmara de filmar. ( MCG - 1973.06.10)
Évora Levanto os olhos e vejo muitos magalas, na sua farda verde oliva. Andam também pelas ruas, aos grupos, espalhafatosos, como quem já tem o seu grão na asa. "Cheira-me" que haverá dentro em breve mais um contingente para a guerra em África. Alguns escrevem, curvados sobre o papel, a caneta firme na mão, como quem não está habituado a frequentes escrituras. Parecem rapazes muito novinhos; uns conversam, irrequietamente, outros têm um ar absorto, ausente.(MCG - 1973.11.26)
Não comprei nada. Só me interessavam antiguidades, mas receio ser facilmente enganado, pois não sei avaliar aquela mercadoria. Mas estendais de antiguidades havia poucos; a maioria era ferro-velho: dobradiças, fechaduras, chaves enormes, bicos de fogões a gás... Ouvi lá um negociante de antiguidades dizer a outro que à 3ª feira o negócio é melhor. (XXX - 1973.09.23)
Maiorga Um minúsculo largo é o centro desta antiga vila, onde se encontram o pelourinho (que lhe dá o nome), a antiga igreja da Misericórdia ou do Espírito Santo, com o seu portal manuelino, hoje desactivada e que foi entretanto escola de música, mesmo ao lado da sede do clube da terra (Sociedade Filarmónica de Maiorga) e do edifício da nova igreja, de S. Lourenço, com o seu adro arborizado, templo despretensioso, com um relógio de sol na fachada principal e um altar barroco. Neste mesmo largo um fontanário com azulejo de Santo António tem a inscrição de que se trata duma Obra da Ditadura (1933), como aliás consta dum outro mais pobre existente noutro largo, isto sem falar num cruzeiro dedicado Ao Portugal Eterno e num memorial aos combatentes do Ultramar (1993), este no Largo dos Combatentes. Não obstante estes testemunhos, a rua principal denomina se do 25 de Abril e nela existe uma casa em cuja fachada figura um painel de azulejos representado o aviso Afonso de Albuquerque, talvez o que foi afundado na chamada Índia Portuguesa quando da invasão pela União Indiana. . (Notas de Viagem, 1998.02.21/22)
Pederneira Aqui, no cimo do promontório a sul, esteve a primitiva povoação, com o edifício da antiga câmara - com torre sineira e brasão de armas - e o pelourinho, entretanto roubado e substituído pelo tronco petrificado duma árvore. (...) A Igreja Matriz, de N. Sra. das Areias, tem o interior coberto de azulejos não figurativos, e uma lápide recordando os nomes dos três filhos da terra mortos na I Grande Guerra (Notas de Viagem, 1997.10.31)
Porto Na 2ª feira [10 de Junho] fui, com o avô Luís, assistir [na Avenida dos Aliados] às condecorações militares que se distinguiram no Ultramar. Estava muito povo a assistir. Em seguida fomos ao café e voltámos para casa. . (Diário III, 1963.06.10/13)
Vendas Novas, no caminho de Évora para Setúbal, nada tem de relevante: uma povoação de casas dum ou dois pisos, uma larga avenida de passagem com comércio e alguns cafés, para além dos canhões na parada fronteira ao quartel, espécie de museu militar que desperta a tenção do viandante apressado. (Notas de Viagens, 1997)
Vila Real Rua Sarmento Pelotas, herói da I Guerra Mundial, que vai dar ao rio. Varandas de madeira e cruz em madeira do Senhor dos Desamparados. Portal com almofadas e ombreira superior trabalhadas. (1999.09.02)
Coimbra 1976 08 - Estátua em bronze erguida em homenagem aos "Heróis do Ultramar", da autoria de Cabral Antunes, foi inaugurada a 10 de Junho de 1971, pela Câmara Municipal de Coimbra, e representa um soldado a empunhar uma arma e a transportar uma criança aos ombros.
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