* Victor Nogueira
Uff! Que calor! Até parece o Abril em Luanda! Hoje a
temperatura baixou um pouco mais, em relação aos dias anteriores. Mas
mesmo assim... O ar está seco e quente; sinto-me pegajoso, indisposto. Calor,
só calor; nem uma leve brisa para refrescar; quando corre não é senão um bafo
quente. As engrenagens cerebrais estão emperradas, o raciocínio faz-se ao retardador!
A casa é um forno, a rua um inferno. Nem sequer tenho tido coragem de ir à
praia, não obstante a sedução dum mergulho infindável nas águas do oceano,
melhor, do Tejo. Ontem fui com o Manel até Sintra. ([1])
A viagem de comboio, na ida e na volta,
foi um suplício. Mas lá, meu Deus, que paraíso! Um parque aprazível, o
rumorejar da brisa por entre as ramagens, a quietude, o sossego! Por lá ficamos
largos momentos, eu com a "História da Música Europeia", o Manel
com "O Pequeno Lorde" de Frances Hodgson Burnett]. (NSF -
1968.07.24)
[1]
O Manuel era o mais novo dos três filhos do casal (Maria José e senhor Pinto, ela
doméstica e ele tipógrafo) em casa de quem estava hospedado, na Rua S. João Nepomuceno, 21 – 1º Esq, em Lisboa, nos meus idos de estudante em “Económicas”.
1978
Sintra estende‑se por além abaixo, casario emergindo do meio do arvoredo ou dos campos verdejantes e ensombrados pelo dia cinzento e chuvoso. Lá ao fundo as montanhas e na mão esquerda uma sandes de queijo e presunto. Daqui a pouco seguiremos até à Boca do Inferno, perto de Cascais. Aqui atrás de mim duas velhotas filosofam sobre as misérias dos católicos (parecem‑me beatas e quando entrámos [no café à beira da estrada] estava uma desabafando: "O que nós fomos e ao que chegámos! " (...) O comboio de Sintra desliza lentamente lá em baixo no vale. A sandes de presunto e queijo estava saborosa. (MCG 1974.01.02)
1997
Duas feiras têm renome. Uma é a Feira de S. Pedro de Sintra (2º e 4º domingo de cada mês), com mais de dois séculos de idade, instituída para satisfazer semestralmente as necessidades das populações da região, muito afastadas de Lisboa e sem facilidade de transportes. Trata‑se duma feira eclética, onde se vende um pouco de tudo, desde vestuário a produtos hortícolas e fruta até ao pão saloio, passando pelos alfarrabistas, antiquários e coleccionismo. Outra é a Feira das trouxas, na Malveira, quase diária, onde se vendem roupas bem como artigos domésticos e alimentares. (Notas de Viagem, 1997)
2013
Photoandando por Sintra
Fotos em 1978 e 2013
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