Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 13 de outubro de 2020

deambulações por parques infantis

 * Victor Nogueira / JJ Castro Ferreira

Há diferenças entre os parques infantis de antanho e os de hoje, estes mais coloridos e com equipamento menos susceptível de causar acidentes. Outrora, quando as criancinhas eram mais pequenas, aos fins de semana corríamos os de Setúbal, mas não só. Esta é uma pequena recolha, de fotos sobre esta temática, entre Évora, Setúbal, Paço de Arcos e o Porto. Para além de textos em que surgem referências minhas a parques infantis, assinalo com (*) as fotos de autoria do meu tio José João, as do Porto.

Os textos  ...

Nova Lisboa (Huambo) 

A cidade possui um óptimo Liceu (do qual um terço já está em funcionamento). Escola Industrial e Comercial, dois mercados, ruas largas e arborizadas, jardins, moradias modernas, etc., etc. Há dias fomos visitar os tanques piscícolas, nos arredores, os quais podem produzir uma tonelada de peixe para consumo, anualmente. Ontem vimos a Exposição Feira, apesar de não estar em funcionamento. Há lá um Parque Infantil com um letreiro que diz "Proibida a entrada a menores de 14 anos sem estarem acompanhados dos pais"! (NID - 1962.08.30)


Lisboa - Jardim da  Estrela

No Jardim da Estrela corre uma aragem fresca, por vezes desagradável. Está um sol de chuva. Estou sentado numa das mesas da esplanada do jardim, defronte ao lago de águas esverdinhadas onde se reflectem as verdes ramagens das árvores. Dois cisnes pretos, de bico vermelho, vogam nas águas, seguidos por uma ninhada de cisnezitos de penas cinzentas e eriçadas. 

Alguém atirou para a água restos de comida. Peixes vermelhos e pretos, estes mais pequenos, acorrem de todos os lados e disputam-nos. ( )

Ouve-se o trânsito na Praça da Estrela, as crianças além no parque infantil e, para lá das árvores, o vozear das pessoas aqui na esplanada, pedaços soltos de conversas, o cair da água no lago.

Nas áleas passam as pessoas, em grupos ou não. Defronte de mim, na outra margem, vários bancos, alguns ocupados. Naquele, à esquerda, um casal idoso. Ele, contempla quem passa e pensa talvez na vida que já lá vai. Ela, de vestido azul e botas brancas, com casaco de malha preto, faz tricot. Outro velhote que ocupava o extremo do banco levantou-se e foi-se. Estavam, mas já não estão, no banco seguinte, dois homens, um dormindo, outro espreguiçando-se. Uma pomba pousou agora no gradeamento, ao meu alcance, mas já levantou voo. (NSF - 1968.09.01)


Évora - Jardim Público

Cenas do Jardim

2. Era um miúdo esfarrapado
sujo
de rosto envelhecido,
Aproxima-se do guarda, mas o dinheiro não chega.
Mas o velho, que já terá sido criança, deixa-lo entrar.

O miúdo envelhecido corre,
Para,
Hesita!
Os olhos sorriem no rosto sujo,
Balancé? Carrocel? Escorrega? Ou avião?
Não poder ele desdobrar-se!
Corre, sobe, escorrega
o mundo é dele

Agarra-lo.
Sobe, desliza, corre, sobe, desliza
sobe; desliza, corre, sobe, desliza
contorce-se

"MÃE, OLHA ESTE MATULÃO SUJO! VAI-TE EMBORA!"
As avozinhas contorcem os lábios
num rictus de desprezo
os meninos apedrejam com a língua e crucificam com os lábios.
Ele hesita.
Baloiça, baloiça, baloiça!
Roda, roda, roda,
sobe, desliza, corre, sobe, tropeça, sobe, desliza, corre!
contorce-se, baloiça, roda
Olhos brilhantes cheios de felicidade!
Um velho num corpo de criança
pequena para a roupa suja
esfarrapada!

As avozinhas contorcem os lábios num rictus de desprezo
Os meninos, esses apedrejam com a língua
e crucificam com os lábios
Velhas envelhecidas
Garotos moribundos

e uma criança num pequeno corpo de velho!  -- 1969.Fevereiro.24 – Évora

Na pequena salinha do café do senhor Gonçalves (é outro que não o da Raymond Street) alguns clientes assistem à televisão ali por cima do balcão: o Jorge Alves apresenta o programa da próxima semana. O [Emídio] Guerreira queixa se que a sopa está quente (...). Comecei hoje a comer aqui neste café, junto ao jardim infantil, entre a Praça de Touros e o Rossio [de S. Brás]. O almoço estava saboroso. Esperemos que assim continue. Ali numa mesa ao lado um grupo de jovens vê uma colecção de fotografias pornográficas, que de vez em quando mostram a outros noutra mesa, cruzando o meu campo de visão. Entretanto a TV transmite um documentário sobre a guerra israelo-árabe, prendendo a atenção dos clientes. (...) Na televisão sereias soam numa cidade síria, sobrevoada por aviões israelitas que a bombardeiam. Escombros e feridos enchem o ecrã. (MCG - 1973.11.21)

O jardim tem por um lado acesso para o largo de Mercado (1º de Maio) , onde se situavam a igreja de S. Francisco, com a sua capela dos Ossos, e o Celeiro Público,  e por outro para o parque infantil, para a Praça de Touros e Rossio de S. Brás, onde se encontra a ermida homónima , gótico mudejar, e se realizava a feira de S. João. Muito conhecida, a Capela dos Ossos não é exemplar único, existindo em Faro, como se referiu, Lagos e Campo Maior, para não falar na Boémias e em Itália, como em Castel Gandolfo.  À entrada da capela eborense, do séc. XVII, uma inscrição: Nós, ossos que aqui estamos, Pelos vossos esperamos. De Cinati, o cenógrafo do castelo de Leiria entre outras, é também o Palácio Barahona. (1998)


Évora - Piscinas Municipais


Piscinas de Évora e parque infantil com o avião Junkers 52 c. 1980 – postal ilustrado VN

Um outro aspecto das piscinas de Évora. Do lado esquerdo, o parque infantil, bastante interessante. Como não podia deixar de ser, já entrei no avião, que está muito estragado por dentro. Creio que foi transporte de paraquedistas. (ECF 1969.06.17)  


Pinhal Novo
Resolvi sair aqui para apanhar o comboio para Setúbal. (....) Aguardo que me tragam o galão claro e a sandes de fiambre. Entretanto, nem de propósito, as mesas estavam cada uma com seu papelinho. (1) (...) Pelo vidro da montra do café avista-se o edifício da estação dos caminhos de ferro: conto 4 chaminés, enquanto se cruzam um miúdo de bicicleta e um tractor com atrelado. Um vasto rossio de terra batida estende-se lá fora, rodeado de casas caracteristicamente incaracterísticas. Lá ao fundo, uma mata enfezada e amarelecida. Alguns carros parados e pessoas sentadas pelos bancos. O café do leite sabe mal. No largo uma igreja por caiar, um coreto e um parque infantil, tudo com um ar desgracioso. 

Aqui no café as pessoas jogam à "batota", ali num canto, enquanto outras duas estão lendo os jornais. Um outro personagem, atarracado, de boné e óculos, vai vasculhando a carteira e lendo os papéis que dela retira. Por trás de mim ouço vozes e algaraviada, bem como os tacos batendo nas bolas de bilhar. O casaco incomoda-me, pois tolhe-me os movimentos. Sinto me encalorado. (...) São quase 17 horas e daqui a 10 minutos é o comboio. Farto-me de percorrer um Portugal desconhecido. (1974.11.28)

(1) Trata se de convocatórias policopiadas para uma sessão de esclarecimento e dinamização cultural da 5ª Divisão do MFA, em 29 e 30 Novembro 1974, que utilizo para escrever no verso.
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O Pinhal Novo é uma pequena povoação plana, desenvolvida à sombra do cruzamento de vias férreas com destinos variados. Desenvolveu se ultimamente com muito prédios de vários andares. A rua principal, estrada nacional, arborizada e com largo passeio estilo alameda, concentra o comércio e os cafés, locais de convívio. Defronte à estação ferroviária, com painéis de azulejos representando cenas e monumentos da região, ficam um jardim arborizado e um amplo "rossio", onde no 2º domingo de cada mês se realiza o mercado mensal, muito concorrido e variado. No jardim um avião no parque infantil é a alegria da petizada. De referir a igreja, edifício branco destacando-se na verdura do jardim, em cujo interior existem modernos painéis de azulejos narrando a anunciação e nascimento de Cristo, intercalados com painéis coloridos com legendas explicativas. (Memórias de Viagem, 1997


Lagos - Parque de Campismo de Valverde
.O Parque tem um supermercado, cabeleireiro, restaurante, "boite", piscina, parque infantil (com um carro de bombeiros) e, imaginem, uma geladaria com sorvetes de 3 qualidades!!! (SRN - 1986.08.21)


Paço de Arcos - Jardim 
Paço de Arcos é um sítio deveras sossegado. Domingo fui à missa das 11, na capelinha do Paço dos  Condes de Alcáçovas [donde vem o nome da vila, pois tem três arcos no piso térreo, virado para o Rio Tejo]. Além desta há uma Igreja, que será substituída por uma outra. Em seguida fomos dar um passeio até ao jardim, onde ficam campos de jogos, parque infantil, bar, cinema e clube [Clube Desportivo e Recreativo de PA, num edifício que foi casino]. (1963.11.17/19 - Diário IV)

Encontro-me no jardim, rodeado de pessoas, digo, de crianças brincando e do trânsito automóvel. O chão está coberto de folhas secas e amarelecidas, que o vento transporta. Esse vento fresco que me fará ir embora mais cedo porque se torna desagradável. Ultimam se os preparativos para a Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, que se realizará nos últimos dias deste mês de Agosto, pelos vistos mês das feiras e festarolas. ( ) xe "feiras e mercados"§(MCG - 1972.08.23) 


Leião
Leião é uma povoação com muitas vivendas em construção. Para ocidente avista-se a Serra de Sintra, onde o sol se põe numa cintilante bola de fogo alaranjada. Nos arredores da povoação, bordejando a estrada, um chafariz com uma cruz e um pequeno tanque coberto, adjacente, para lavagem da roupa. Uma bomba de gasolina, da Repsol, desfeia a já de si incaracterística povoação, com uma modesta igreja com vasto adro e parque infantil adjacente. O centro de Leião é muito pequeno, pedonal, com algumas casas de aspecto rural. Lá se encontra a inevitável referência ao 5 de Outubro, desta feita um largo. (Notas de Viagem, 1997)


Almargem (Sobral de Monte Agraço)
Nesta viagem passamos ainda por Almargem, povoação de casas pobres, com construções que me parecem respiradouros dum aqueduto, para além duma igreja modesta, parque infantil e poço.(Notas de viagem, 1998.01.--)


Leromil (Lamrgo)
Fotos a pelourinho e a casa antiga, ao brasão, a espelho e a casa em madeira na rua do Brasil. O largo, para além do coreto e da estação dos correios, tem um pequeno parque infantil.
Fotos a outro brasão e às árvores do largo. 
Rua dos Coutinhos (serão os antigos nobres donos da terra?)
Fotos a uma casa de canto arruinada junto à igreja matriz e a uma capela. A zona tem um agradável cheiro a pinheiros. (Notas de Viagem 1999.10.29)


... e as fotos

Porto - Palácio de Cristal (1949)




Luanda - Parque Infantil no Retiro da Conduta (?)


(foto jj cf)


(autor não identificado)


Évora - Jardim Público



(Foto MENS - 1973.11)





Évora - Piscinas Municipais


(1973)



Paço de Arcos - Jardim da beira-mar







Setúbal - Parque do Bonfim





Setúbal - Jardim do Montebelo



Setúbal - Festanima





Lisboa - Jardim Zoológico


(foto MNS)


Porto

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