Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 14 de agosto de 2010

Sonhos em tons de cinza


Sexta-feira, 13/08/2010, 01h40
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PIRELLI/MASP
Sonhos em tons de cinza
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Ecleteca conversou com Octavio Cardoso, um dos 5 paraenses selecionados ao 18º Pirelli/Masp
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por Amanda Aguiar
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Em meio ao corre-corre diário da rotina  atribulada de fotojornalista, Octavio Cardoso  encontrou calma e silêncio em lugares imaginários, oníricos, construídos em tons de cinza. Do seu olhar subjetivo emergem paisagens particulares, que se nutrem de delicadeza e minúcias que às vezes escapam ao olhar desatento. "A fotografia foi a maneira que encontrei de  tentar  organizar meu mundo, criar um lugar calmo, silencioso, quase perfeito", explica, com sua voz pausada. "Eu Vejo Tu Sonhas", série de pequenos flagrantes cotidianos, compôs sua primeira exposição individual, em 1998. Eis que depois de 12 anos, estas imagens, resultados de passeios sem destino, passam a integrar a Coleção Pirelli/Masp de Fotografia, uma das mais importantes seleções de fotografia contemporânea do país.
Foto: Octavio CardosoAo lado de Octavio, os paraenses Alberto Bitar, Mariano Klautau Filho, Guy Veloso e Alexandre Sequeira  também somam-se ao acervo, que já incluía trabalhos de Luiz Braga, Miguel Chikaoka, Paula Sampaio, Walda Marques, Flavya Mutran e Dirceu Maués. A edição deste ano, que privilegia o lado autoral de fotógrafos publicitários, fotojornalistas e um cineasta, traz 70 obras de 20 fotógrafos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pará - que sempre teve destacada a qualidade de sua produção. Clicando aqui é possível ter acesso à eColeção, versão eletrônica da Coleção Pirelli/MASP, com um acervo de mais de mil obras, biografias e catálogos. Mas não vá com tanta pressa - antes, acompanhe o bate-papo entre Octavio e a Ecleteca sobre a trajetória do artista, seu processo criativo e a importância da seleção.

As obras selecionadas compuseram "Eu Vejo Tu Sonhas", em 1998. Como foi pra você ver esse trabalho selecionado para a coleção?

A coleção Pirelli / Masp é, sem dúvida, um dos mais importantes acervos de fotografia contemporânea brasileira, não dá para não ficar contente e orgulhoso com isto. Eu realmente não me dedico muito a mostrar e divulgar meu trabalho, mas quando o reconhecimento vem a gente fica feliz. 'Eu Vejo Tu Sonhas' resulta de passeios sem destino, tentativas de construir um lugar particular, só meu.

Apesar de ter se aventurado pela cor recentemente, em ‘Lugares imaginários’, você nunca escondeu a predileção pelos tons de cinza. Qual a importância do P&B na sua produção autoral?

O P&B foi o início, a descoberta, talvez ainda inconsciente, de que eu poderia criar, me expressar. Mas não posso mais de dizer que Foto: Octavio Cardosoprefiro o P&B à cor. Estou agora namorando com a cor (risos).

Um tema recorrente em seu trabalho é a tentativa de construir um lugar particular, subjetivo. Como isso se deu em ‘Eu Vejo Tu Sonhas’?

Agora, passado todo esse tempo, vejo que desde o início, seja em "Eu vejo tu sonhas" que é P&B ou agora  em "Lugares Imaginários", que a fotografia foi a maneira que encontrei de  tentar  organizar meu mundo. A maneira de organizar as coisas, criar um lugar calmo, silencioso, quase perfeito. Como isso nao é possivel no mundo real, a fotografia passou a ter essa função na minha vida. Só que, de vez em quando, as coisas escapam de nosso controle e aparecem fotos como a do barbeiro (ao lado) que tem mais tensão, confronto.

A edição deste ano exalta o lado autoral de fotógrafos publicitários e fotojornalistas. Como a sua trajetória nesses campos interfere no seu trabalho pessoal? Ou esse cruzamento não existe?

A minha experiência tanto no fotojornalismo quanto na fotografia publicitária acabam influenciando de certo modo a produção autoral - uma me deu agilidade, a outra, apuro técnico. Trabalhei em dois jornais e dediquei anos à publicidade, e gosto que minha relação com a fotografia tenha se dado dessa maneira, com várias possibilidades, vários caminhos.  Mas, particularmente, sou melhor fotógrafo do que fotojornalista (risos). O jornalismo exige uma postura mais agressiva às vezes, exige que se entre na vida do outro... eu, particularmente, não sou muito afeito a esse tipo de coisa.

Você me disse certa vez numa entrevista que transitar pela fotografia digital exige certa cautela. Por que?

Existe um certo perigo de ser engolido por tantos recursos tecnológicos. A fotografia digital e colorida corre o risco de virar cartão postal, uma mera exibição de possibilidades tecnicas, dado o excesso de programas de manipulação e complexidade das câmeras. Penso que os recursos técnicos têm de ser o meio, e não o fim do processo.
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Coleção Pirelli/MASP de Fotografia – 18ª Edição
Em exposição: De 12 de agosto a 3 de outubro, na Galeria Horácio Lafer, 1º andar (MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand).
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http://www.ecleteca.com.br/beta/lernoticia.php?idnoticia=343
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