Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 22 de agosto de 2010

Publicação com 400 fotos conta em detalhes a trajetória do Theatro Municipal


O Globo

Publicada em 22/08/2010 às 13h43m
Jacqueline Costa
RIO - Depois da minuciosa restauração a que foi submetido, o Theatro Municipal, que completou um século em 14 de julho de 2009, ganha agora o seu maior presente. Na última quarta-feira, foi lançado "Theatro Municipal do Rio de Janeiro - 100 anos", um livro que conta, com uma impressionante riqueza de detalhes e em 400 imagens, toda a sua história. Nada do que diz respeito ao lugar - que é, ao mesmo tempo, um monumento arquitetônico e uma espécie de templo cultural da cidade - ficou de fora. Com texto de George Ermakoff e ensaio fotográfico de Cristiano Mascaro, a publicação começa lembrando a trajetória dos teatros cariocas que precederam o Municipal. 
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Soprano libertou sete escravas no palco do Lírico
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E foi em um deles, o Imperial Teatro D. Pedro II - que, após a Proclamação da República, ganhou o nome de Teatro Lírico -, que aconteceu uma das mais deliciosas histórias contadas por Ermakoff. Como forma de agradecer à soprano russa Nadina Bulicioff pelo sucesso de sua temporada, um grupo de admiradores resolveu presenteá-la. Horrorizada com a escravidão, Nadina pediu que o valor do presente fosse destinado à libertação de escravas. Ela recebeu uma joia e teve a oportunidade de libertar, no palco, sete escravas, na presença do imperador, que as más línguas da época diziam ser seu amante. 
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A construção do prédio do Municipal em estilo eclético é o tema do segundo capítulo, com destaque para as imagens de Augusto Malta, que foi fotógrafo oficial da prefeitura do Rio por 33 anos. O alagoano registrou, a mando do então prefeito Francisco Pereira Passos, não só a progressão das obras do teatro, mas o surgimento da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. As imagens de Malta mostram a rapidez com que as paredes do teatro foram levantadas e ainda o antigo Convento da Ajuda. A obra foi levada a toque de caixa. 
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Esta parte da publicação - patrocinada pela Brasilcap - relata também a cruzada do dramaturgo Arthur Azevedo pela construção de uma casa teatral grandiosa e pela montagem de uma companhia pública de teatro. O capítulo fala ainda sobre o concurso arquitetônico realizado para dar forma ao Municipal (vencido por Oliveira Passos, filho do então prefeito), os projetos apresentados, os artistas convocados para participar da decoração - como Rodolfo Amoedo, os irmãos Henrique e Rodolfo Bernardelli e o pintor Eliseu Visconti - e a transformação do traçado urbanístico ao redor. Numa das muitas fotos da época da construção, aparece Oliveira Passos, de cartola e casaca, ao lado de outros homens vestidos da mesma maneira, em frente ao canteiro de obras. 
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Capítulo mostra bastidores e fatos pitorescos
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Todo o terceiro capítulo do livro é dedicado aos espetáculos e aos artistas que passaram pelo Municipal, com direito a fotos dos mais diversos personagens que se apresentaram lá. A maior parte dessas imagens, que inclui cartazes, caricaturas e programas, veio da coleção de Marcelo del Cima. Ano a ano, são listados e comentados os principais programas de teatro, dança e música que receberam os aplausos, os risos ou a até mesmo a desaprovação da plateia. Para dar ainda mais sabor à leitura, não faltam fatos pitorescos e notícias de bastidores, garimpados em jornais e revistas antigas. 
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- Há muitas histórias interessantes, como a da cantora lírica americana Marian Anderson, que se apresentou no Municipal em 1938. No seu país, ela sofreu discriminação racial no ano seguinte e foi proibida de cantar em Washington. Em 1955, 17 anos depois de vir ao Brasil, ela foi a primeira negra a apresentar no Metropolitan a Opera de Nova York - conta Ermakoff. 
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A história de três gerações de uma mesma família também é retratada no livro. Inglês nascido na África do Sul, o bailarino Desmond Doyle veio ao Rio a convite da ex-diretora Dalal Achcar. Acabou ficando por aqui e tornou-se bailarino e maître de balé da companhia do teatro. Desde 1979, seu filho, o trompista Philip Doyle, integra a Orquestra Sinfônica do teatro. Os filhos de Philip - William, Stephanie e Richard - também seguem o caminho da música: hoje são violinistas. 
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A relação entre o Rio e o Theatro Municipal é o assunto do quarto capítulo do livro. Ao seu redor, a centenária casa de espetáculos acompanhou a modificação dos costumes e do cotidiano carioca. Por meio de um conjunto de imagens, é interessante observar as mudanças, seja no jeito de vestir dos que passam em frente ao teatro, seja nos meios de transporte e no mobiliário urbano. Nas fotos antigas, os bondes ainda circulavam, desfiles carnavalescos aconteciam em carros de passeio e a mulheres na fila da bilheteria ainda usavam comportadas saias na altura do joelho. 
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Nos dois últimos capítulos, a restauração e a volta do esplendor do teatro são mostradas pelas imagens do fotógrafo e arquiteto Cristiano Mascaro. Ele conta que a parte que mais gostou de fotografar na construção foi o hall de entrada e as escadarias. 
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- Para mim, é a área mais bonita. Posso dizer que percorri o Municipal de cima a baixo. Subi no telhado e fiquei de tocaia em um prédio vizinho à espera da melhor luz para destacar ainda mais a beleza arquitetônica - conta Cristiano, que fez mais de duas mil fotos. 
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