Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Entre linguagens na exposição fotográfica de Anna Bella Geiger

Caderno G

Quinta-feira, 24/12/2009
Jeferson Pancieri
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Jeferson Pancieri / Anna Bella é uma Gioconda carioca em “Mona Lisa com Morro de Santo Amaro”, de 2003-2008
Anna Bella é uma Gioconda carioca em “Mona Lisa com Morro de Santo Amaro”, de 2003-2008

Visuais

Entre linguagens na exposição fotográfica de Anna Bella Geiger

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A galeria da Caixa Cultural apresenta obras da carioca produzidas de 1972 a 2008, em que a fotografia se relaciona com outras formas de expressão
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Publicado em 23/12/2009 | Annalice Del Vecchio

Em 2003, a curadoria da Bienal de Londres pediu à artista Anna Bella Geiger, de 76 anos, um autorretrato diante de algum monumento brasileiro. Moradora do Rio de Janeiro, o melhor cartão postal brasileiro, não lhe faltariam opções: havia o Cristo Re­­dentor, o Pão de Açúcar, as praias. Preferiu a favela – que, afinal, virou atração turística há algum tempo. 
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Anna Bella posa como Gio­­conda em “Mona Lisa com Morro de Santo Amaro”, obra que figura entre as 50 selecionadas pelo curador Adolfo Montejo Navas para a exposição Fotografia Além da Fotografia, em cartaz na galeria da Caixa Cultural Curitiba até 21 de fevereiro. A “ironia duchampiana”, como descreve a própria Anna Bella, é uma das obras mais atuais da retrospectiva desta artista que, desde a década de 1970, é conhecida pelo uso de diversas linguagens e a exploração de novos materiais e suportes.
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Reprodução


Em “Après Man Ray”, de 2007, a artista transforma a imagem de Man Ray em objeto
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Perfil
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Saiba mais sobre a artista carioca Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933) 
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Múltiplos talentos
Anna Bella é escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e professora. Com formação em língua e literatura anglo-germânicas, inicia, na década de 1950, seus estudos artísticos no ateliê de Fayga Ostrower (1920 - 2001).
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NY
Em 1954, vai viver em Nova York, onde freqüenta as aulas de história da arte com Hannah Levy, no Metropolitan Museum of Art. Retorna ao Brasil no ano seguinte.
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Gravura
Entre 1960 e 1965, participa do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ, onde passa a lecionar três anos mais tarde.
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Universidade de Columbia
Em 1969, novamente em Nova York, ministra aulas na Columbia University. Volta ao Rio de Janeiro em 1970 e, em 1982, recebe bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, em Nova York.
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Bienais
Participou de inúmeras mostras internacionais e das Bienais de São Paulo, Veneza e da 5éme Bienalle de Photographie, na Bélgica.
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Mundo arte
Suas obras fazem parte de várias coleções particulares e de acervos de museus como o MoMA de NY, a FOGG Collection-Harvard, a GETTY Fundation em Los Angeles, o Beaubourg (Pompidou) em Paris, o Victoria & Albert Museum em Londres, o Museu Reina Sofia em Madrid, entre outros.
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Programe-se
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Confira o serviço completo da exposição no Guia Gazeta do Povo
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Retrospectiva, sim, mas com um recorte específico. Ao curador interessa revelar o alto grau de presença de elementos fotográficos na produção da artista de 1975 a 2008. “O objetivo desta fotografia é sua conversão em objeto, em outro tipo de assemblage visual, com a migração da matéria-prima da imagem para outra forma”, explica.
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Anna Bella não é fotógrafa. Usa imagens que não são necessariamente suas. “Mas a direção é minha, penso-as dentro de uma ideia, de um conceito”, conta. Assim, uma fotografia pouco conhecida de Man Ray é transformada em objeto em “Après Man Ray”, de 2007. A peça é um móvel de antiquário, cujo tampo com a imagem aplicada é decorado com conchas e pequenos biscuits de corpos femininos garimpados na França.
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A alusão ao surrealismo tem a ver com a identificação da artista, não pela ideologia, mas pela postura dadaísta. “Eram artistas experimentais, que não tinham interesse em criar uma obra que se cristalize”, diz. Na instalação “Rose Sèlavy Mesmo” (1997-2008), ela insere uma figura duchampiana no lugar das fotografias de jornais recolhidos em todo o mundo, conferindo novos significados às informações da página. “É um trabalho que nunca termina”, explica.
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Territórios
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A experimentação teve início nos anos 1970, quando Anna Bella, já reconhecida como exímia gravadora, e também desenhista e pintora, começa a inserir imagens fotográficas em seus trabalhos para tratar de questões relacionadas à realidade. “Queria falar de territórios em um momento de exceção política (a ditadura militar), mas ao mesmo tempo busquei um resultado de ordem estética”, diz Anna Bella, que caminhava em um terreno desconhecido para ela e outros artistas, até então, abstracionistas.
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A exposição começa com obras deste período, em que as gravuras se misturam a imagens como na série Polaridades (1973-74), em que a artista utiliza fotografias pouco divulgadas (na época) da Lua. A partir de então, a questão dos territórios, da topografia, será aprofundada com o uso de mapas que servem de instrumento para tratar de temas antagônicas como a periferia e o centro. É o caso de “O Pão Nosso de Cada Dia” (1978), formada por um saco de pão e seis cartões postais com imagens que mostram o mapa do Brasil recortado em um pão de forma.
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Mas a fotografia também se torna material poético em obras como “Passagens”, de 1975, uma fotomontagem formada por inúmeros fotogramas da artista caminhando pelo metrô de Nova York. “Me interessa esta possibilidade de contar uma pequena história”, diz Anna Bella.
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Da década de 90 em diante, as imagens se ligam a objetos, colagens, vídeos e instalações. Na série Flumenpont (2001-2005), já não interessa refletir sobre a questão dos territórios, embora a geografia ainda se apresente. Sobre uma fotografia da ponte do Brooklyn, com grades que lembram teias, Anna Bella desenhou uma aranha ligada a uma bola natalina azul que escorre sobre a tela. A inspiração tem, é claro, relação com um acontecimento de relevância mundial. “Pensei na imagem do atentado às Torres Gêmeas como algo que se desfazia”, conta.
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A fotografia na obra de Anna Bella parece ser um instrumento de relação com o mundo, com à realidade ao seu redor. “Ser artista é ser político, não no sentido panfletário, mas de apreender o mundo e de oferecer ao público várias leituras possíveis sobre ele”, diz.
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Anna Bella Geiger - Fotografia Além da Fotografia

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Gênero: Fotografia, Outros
Autor: Anna Bella Geiger
Descrição: A exposição reúne aproximadamente 50 obras de uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras, a carioca Anna Bella Geiger. Nas peças, a artista utiliza a fotografia como elemento para gerar questionamentos sobre a visibilidade
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