Texto Victor Nogueira e Paulo Lobarinhas
Fotos Victor Nogueira, salvo indicação em contrário
"Santos, Santos
Barroso, Machado Barroso – “A casa do Vitorino”
Góios
A designação “Vitorino”
ou “casa do Vitorino” ainda hoje se associa, em Góios, aos descendentes e
à casa de Joaquim Vitorino dos Santos e de Maria das Neves. O facto de
serem primos em terceiro grau poderá ajudar-nos a compreender como este
casal, em que ambos eram filhos naturais, teve acesso a esta casa.
Provavelmente a casa,
como a conhecemos hoje, será de construção mais recente e de
maior dimensão do que primitiva casa onde se fixou em 1845 o jovem casal
Joaquim Vitorino dos Santos e de Maria das Neves.
A meados do século XX a
casa foi partida pelos 2 filhos de Joaquim dos Santos Barroso.
Da reformulação do varandão na parte nascente do edifício resultou a casa
de Manuel Machado Barroso sendo que o seu irmão, José Machado Barroso, herdou a
parte poente à casa dos seus pais.
As primeiras gerações
desta família tinham como actividade económica a alfaiataria e a costura, algo
raro na época, segunda metade do século XIX. Nesse período a maioria das casas
de Góios, com média dimensão, dependiam da agricultura.
Como se explicará então
que uma casa que possuía, no século XX, uma considerável área de cultivo, tenha
tido uma actividade principal distinta da agricultura. Uma hipótese para tal poderá
residir na possibilidade de uma parte significativa das suas propriedades ter
sido obtida por herança de Joaquina Gomes Barroso, descendente da caso do
Barroso em Passos, casal à qual poderiam ser afectos alguns dos terrenos hoje
pertença da “casa do Vitorino”.
É uma hipótese…
Depois da terceira
geração, com Joaquim dos Santos Barroso e Emília Ramos Machado, com os seus
filhos e hoje com os seus netos a agricultura passou a ser actividade
predominante das duas casas. ” (Paulo Lobarinhas – Goios: a Casa do
Vitorino)
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ELEGIA PELA MINHA
FAMÍLIA DISPERSA
Meu avô António Barroso
primo de Bispo,
de S. Salvador do Congo e do Porto,
a quem puxaram as barbas nos alvores da República
filho de lavradores abastados de Barcelos
casado jovem
guarda
livros num banco
passando noites
somando
intermináveis colunas de cifras
e o
dinheiro que faltava para tantos filhos.
Meu avô, quando
jovem, tinha nas fotografias
um
ar austero e severo
sempre de preto
viúvo.
Meu avô, já idoso
um
ar jovem e sereno
um
sorriso moço e tímido
uma
fala mansa
um
gesto amigo.
Minha avó, Francisca
da Conceição, de Chaves
não conheci
casou mais velha
falava francês e tocava piano
alegre e generosa, dizem-me.
Minha avó trocou o
convento pelo casamento
mas antes deixou os bens aos padres
das Oficinas de S. José,
Encontraram-se no Porto e muitos filhos tiveram
que não
conheci senão minha mãe
e meu
tio Zé Barroso
grandiloquente e folgazão
curioso
e letrado.
Minhas tias Marias
Almira e José
Meu tio Joaquim
estes só
conheço das recordações da minha mãe
(...)
Meus tios não casaram
Apenas meus pais em Cedofeita se encontraram
e para Angola
partiram.
Meu avô António viveu sempre na Rua dos Bragas
Meu avô que mandou fazer uma casa no Mindelo
perto da praia e de Vila do Conde
com
um quarto para o neto quando o fosse visitar
a
casa fechada e abandonada
porque morreu em tempo de Páscoa.
(...)
Meu avô Barroso católico ferrenho
apóstolo
ingénuo
mas que depois
de Abril aceitava os comunistas.
(...)
Meus primos de Barcelos
o Manuel o Joaquim a Laurinda
a Deolinda a Celeste a Cândida
e tantos outros
tímidos uns
alegres rosados e folgazões outros
Meus primos espalhados pelo mundo
pelo Brasil [Inglaterra] Alemanha Venezuela e
terras de França.
Minha família grande e dispersa
conhecida e desconhecida
que a vida e a morte têm separado
Perdidos cada vez mais
na
bruma dos tempos e da memória!
1985.11.13 - Setúbal
1963 - no Bom Jesus de Braga
Goios
O dia de Natal passei-o em casa [do avô Barroso]. À tarde fomos a Goios, onde nasceu o avô Barroso. (Diário III - 1962)
Por cá tudo bem. Tem feito algum frio e há uns dias que não
conseguia pegar na caneta para escrever. No dia de Natal fomos a Goios. Gostei
do passeio. Ontem o tio [Zé Barroso] foi a Vila Nova de Gaia, a Matosinhos e à
Foz do Douro e eu fui com ele.
Anteontem houve um tremor de terra, mas aqui no Porto parece
que só se abriram brechas num prédio. Em Lisboa é que o sismo teve maior
intensidade, tendo abatido alguns telhados e rachado as paredes de muitos
prédios. (...) (NSF - 1962.12.21)
No dia 14 [Abril. 1963], domingo de Páscoa, fui, com o avô Barroso e
o tio Zé a Goios, passando por Famalicão. Almoçámos em Goios, tendo‑me
aborrecido imenso. O "compasso" chegou por volta das 17 horas. À tardinha fomos para a Pedra Furada. Revi com
prazer a Lourdes e a Cândida, e fiquei a conhecer a Celeste e a Amélia.
Divertimo‑nos bastante. (Diário III - pag. 165)
O tempo
está muito instável; ontem, um dia cheio de sol e relativamente quente, hoje,
frio, cinzento e ameaçando chuva. Daqui a pouco pôr-me-ei a caminho até casa do
avô Barroso, donde partiremos para a sua aldeia natal - GOIOS [no concelho de
Barcelos]. Aqui na cidade [do
Porto] a maioria das freguesias paroquiais
já não têm "compasso", isto é, procissão pascal - o pároco leva a
cruz às várias residências; por ser uma manifestação inadequada aos dias de
hoje. Mas na aldeia (e não só) ainda as pessoas aguardam a visita pascal - o
padre deslocando-se pelas aldeias, cujas casas aguardam a sua visita. Na sala
de entrada, bolos secos e vinho. No ar estralejam foguetes! As ruas estão atapetadas de flores.
(...) É para aí o 5º compasso em 8 anos e alguns
destes homens são "habitués" nestas andanças (Sempre se come e bebe à
custa dos outros). (MCG - 1974.04.16)
Remelhe
Terra natal de D. António [de Sousa] Barroso", Bispo do
Porto nos alvores da República, onde, no cemitério local, se encontra a sua
capela tumular, local de peregrinação. Defronte um monumento à mesma personalidade,
no largo onde tem início uma "avenida" com o seu nome. É uma aldeia
modesta, numa zona acidentada e verdejante. (Memórias de Viagem, 1997)
Pedra Furada
Fomos a Pedra Furada, a
casa da Senhora Deolinda, minha prima em 2º grau. Fica para os lados de Goios,
Barcelos, pela EN 13. (...) Os campos estavam inundados devido às chuvadas que
têm caído ultimamente.()
Que diferença entre
estas estradas e as dos arredores de Luanda ! Só em Nova Lisboa [Huambo] é que a paisagem é semelhante. Há
eucaliptos, pinheiros e videiras ao longo dos caminhos. Apetece passear por
aqui. Há uma parte da estrada que é recta, sendo por isso conhecida por
"recta do Mindelo Chegámos ao Mindelo perto das 15 horas. O céu estava bonito,
azul, com núvens brancas.
Passámos por Vila do
Conde .
Pouco depois entrámos na estrada de Guimarães, um pouco antes da Póvoa de
Varzim. Há aqui um aqueduto muito antigo, nalguns sítios arruinado ().
Às 15:15 h seguíamos
na EN 206 e às 15:20 h na EN 306. Começou a cair saraiva e pouco depois
chegámos a casa da senhora Deolinda.
A casa é
pequena e modesta, mas da janela vê‑se uma linda paisagem. Em casa estava a
sobrinha dela, a Maria Cândida da Silva Ribeiro, uma rapariga toda jeitosa,
morena. Tem o 3º ano do Liceu e quer ser enfermeira. A mãe dela [Rosalina] era para vir, na próxima semana, trabalhar
para casa do avô Barroso, enquanto a sra. Deolinda ficava em casa dela. A
Cândida tem 16 anos (...) Assim, quem virá é uma outra sobrinha da sra.
Deolinda, chamada Laurinda
Mais tarde chegou o filho
da sra. Deolinda, o José Manuel, 10 anos, e antes chegara o irmão, Manuel, um
rapaz simpático, mas infelizmente surdo-mudo.()
Estes meus primos são
muito mais simpáticos que os de Goios, que são muito envergonhados. (1997)
Referências a Goios e a Pedra Furada aparecem na obra "O Minho pittoresco. Illus. de João de
Almeida", disponível em https://archive.org/details/ominhopittoresco02viei
"Fica-nos á direita a egreja parochial, também moderna e não
inferior á de Alvellos; á esquerda a de
GOIOS, fundada pela rainha D. Mafalda em I I 5o, e solar da linhagem dos Goios,
depois que no tempo de D. Diniz se extinguiu o appellido dos Moines, que eram
os primitivos senhores d'essa honra, e ciosos d'ella a ponto, segundo se diz,
de quererem impedir que ahi entrasse o próprio mordomo do rei.
A estrada prossegue atravessando o território de SANTA
LEOCADIA de PEDRA FURADA, terra, ao que parece, de antiquíssimas origens, pois
ahi se teem encontrado alguns objectos da epocha da edade de bronze, como seja
esse machado, de que damos a gravura e que pertence ao ex."'° sr. Domingos
dos Santos Ferreira, de Barcellos; até chegar finalmente a MACIEIRA, a que
chamam de Rates pela proximidade a que está da antiga e extincta villa d'esse
nome."
Na casa de Goios
À beira da estrada, a grande casa fora dividida em duas nas partilhas; uma metade para o primo Manuel, outra para o primo José. Era na deste último que o meu avô Barroso ficava, antes de construir a casa no Mindelo (Vila do Conde), para as férias de Verão. Fora isso, era nesta casa que se passava a Páscoa ou se faziam as visitas ao fim de semana.
Como boa casa minhota, o r/c era reservada aos animais e o acesso ao 1º andar, em qualquer delas, fazia-se por escadaria exterior. No primeiro andar havia nas traseiras um corredor comprido para o qual davam os quartos. Havia também uma enorme lareira, fuliginosa, onde me aquecia no inverno distraído com o dançar das chamas. Nessa lareira se cozinhava ao lume, em tripeças. Supremo luxo na casa do primo José era a casa de banho, construída a expensas do meu avô Barroso.
Escrevia eu em 1963: «No dia 14 [Abril. 1963], domingo de Páscoa, fui, com o avô Barroso e o tio Zé a Goios, passando por Famalicão. Almoçámos em Goios, tendo‑me aborrecido imenso. O "compasso".chegou por volta das 17 horas. À tardinha fomos para a Pedra Furada. Revi com prazer a Lourdes e a Cândida, e fiquei a conhecer a Celeste e a Amélia. Divertimo‑nos bastante. (Diário III - pag. 165)».
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Havia também outros primos, como a Deolinda e a filha Laurinda, assim como o Adelino e o Joaquim, este surdo-mudo mas lá nos conseguíamos entender por restos. Creio que a última vez qe nos vimos todos, já casado com a Celeste, nos anos 70. no faustoso e farto casamento dum deles, onde até os talheres eram de prata!
Os meus primos moravam uns em Goios e outros numa aldeia próxima, chamada Pedra Furada. Estes eram mais pobres Deles todos perdi o rasto após a morte do meu avô Barroso, em 1976 e após o meu casamento na mesma altura, quando as férias deixaram de ser passadas no Norte, em casa dos meus avós. Disso falo no meu poema Elegia pela minha família dispersa.( Abril 08, 2007 )
1963 - no Bom Jesus de Braga, com o meu tio Zé Barroso, avô António Barroso e prima Laurinda
Volto pois a Goios e Pedra Furada (2014.08.16), que se situam nos caminhos de Santiago (de Compostela) com o Paulo, para re-encontrar os meus primos e todos me acolhem com simpatia, cordialidade e calor, como se há décadas que não nos vimos, mesmo aqueles que não conhecia. Muitos já faleceram mas os sobreviventes convidam-me para aparecer, trocam-se telefones, alguns acham-me parecido com o tio que é o meu avô, contam histórias que o envolvem e ao primo que é o meu tio Zé Barroso.
Em Goios, mais precisamente no lugar do Matinho, há muitas diferenças - mais casas, e já a vinha e as latadas foram substituídos por imensos campos de milho, forragem para o gado. Já não existem as ruinas da escola primária onde o meu avô estudou, junto à ribeira; no seu lugar uma nova casa, residencial. Na Casa do Vitorino à metade da direita, que fora do meu falecido primo Zé, retiraram o reboco, deixando a pedra à mostra, como mais abaixo se vê numa foto actual.
O núcleo central do povoado situa-se junto à Igreja Matriz, de origem medieval mas descaracterizada, ao cemitério anexo, e à Casa dos Serras, onde uma espécie de mirante permitia que através de óculos três irmãs comunicassem entre si. Em ruínas e ao abandono uma casa de séculos, talvez do século XVI ou XVII.
LUGAR DO MONTINHO
foto de autor não identificado
foto Paulo Lobarinhas
CASA DOS SERRAS
LUGAR DE PASSOS
a casa que foi de Joaquina Gomes Barroso
outras casas de lavoura
LUGAR DO MONTINHO
a Casa do Vitorino vista do lugar de Passos
fotos MENS - 1974
1974
2014
1963
1974
2014
foto MENS - 1974 (com o meu avô Barroso e primo Adelino)
1963
1963
foto MENS - à janela com o meu tio Zé Barroso - 1974
2014
2013 - foto Paulo Lobarinhas
~~
foto MENS - junto à ribeira, onde existe uma azenha - 1974
junto à ribeira, onde existe uma azenha - 2014
Foi com enorme satisfação que li, há duas noites atrás, o seu relato
sobre a Páscoa em Goios, aldeia de que sou filho e da qual tanto gosto.
Em 1974 ainda não tinha dois anos, contudo o relato deste dia de Páscoa
faz-me recordar os “Domingos de Páscoa” da minha meninice. É verdade que os
“Homens do Compasso” eram sempre os mesmos, Homens honrados da freguesia que
tinham orgulho em visitar, com a cruz, os seus conterrâneos. Pedia-se para São Pedro e São Paulo, para o
fogo, o mordomo da Cruz era normalmente o tocador do sino, os meninos da
campainha e da água benta eram, aos olhos das outras crinaças, uns
privilegiados…
De início, ao ver a fotografia pensei em duas outras Casas. Só ao ler o
texto identifiquei que se tratava da “Casa do Vitorino”.
Do seu Avô, recordo-me de ouvir falar em pequeno. O meu Pai fora seu
amigo e contavam-se lá em casa muitas histórias de idas a desfolhadas com os
“Irmãos Bitorinos”. O meu Pai e um Vizinho (ainda vivo) levavam nas suas
motorizadas os “Irmãos Bitorinos” às desfolhadas para gáudio destes. São
histórias muito interessantes para quem conhecia Goios.
Quanto aos seus familiares, partilho da opinião de que os simpáticos já
lá não moram. O seu Tio Zé, julgo que era assim que se chamava o Senhor de
baixa estatura que eu cumprimentava sempre ao ir para a escola, era um Homem
típico de Goios, à “moda antiga”. Quando ainda jovem participei numa comissão
de restauro de uma casa da freguesia. Este senhor, com quem eu nunca falara
antes, tratou-me de uma forma de tão correcta que não mais esqueci. O respeito
pelos outros e pelos familiares dos nossos amigos era um valor de elevado para
Homens como este.
Conheci igualmente um primo seu que “mexia em electricidade”. Era um
Homem prestável que ajudava os mais novos a construir o Presépio.
Na minha primária, houve dois “Vitorinos” que foram meus colegas por um
ou dois anos. Julgo que vivem em Minhotães.
Quanto à restante família, conheci uma rapariga da minha idade que
frequentava o secundário comigo, tinha vindo do Canadá e tenho um vizinho da
minha Mãe, igualmente da minha idade a quem faleceu um irmão há uns anos.
Gostaria de escrever sobre as “Memórias de Goios” pois julgo que há
muita informação importante de uma geração, e das que antecederam, que se vai
perder, contudo ainda não comecei a faze-lo.
(...) No momento o trabalho sobre Góios está avançar a bom ritmo. Temos
efectuado algumas entrevistas a pessoas mais velhas,… autênticos tesouros.
No que concerne aos seus tios, esperamos poder fotografar brevemente as
suas concertinas, pelo menos a do “Manuel Vitorino” tivemos indicação, por
parte de uma irmã da sua tia (hoje viúva), de que exististe dentro de uma
caixa. (...) .
O trabalho sobre Góios lá continua, não sei bem explicar o que me impele
a tamanha empreitada. Por um lado sinto um grande afecto pela minha aldeia e
pelas pessoas, por outro sinto, agora, o dever de fazer um trabalho tão
profundo quanto me for possível. Há medida que vou “somando” informação novas
ideias vão surgindo, novos caminhos de investigação vão sendo trilhados e,
aquilo que à partida seria um trabalho simples, com pouca informação, vai-se
tornando numa trama mais complexa e completa de informação que, embora dispersa,
vou conseguindo reunir.
No que concerne à sua família, tenho hoje novas informações.
O seu Avô (1) era amigo do meu Pai a quem fornecia óleo. A minha mãe,
que casou e veio viver para Góios em 1972, tem ainda presente as visitas do seu
Avô, na companhia do seu tio, à mercearia. As pessoas que recordam o seu Avô
referem-no com um homem aprumado, bem apresentado e muito respeitador…
Em pequeno ouvia por vezes contar, na mercearia, algumas histórias que
não sabia a quem se referiam. Duas dessas histórias, sei hoje, tinham como
protagonista o seu tio Zé (para os de Góios era conhecido por Vitorino do
Porto). Numa dessas histórias o seu tio, sentado num dos bancos da mercearia e
debruçado sobre uma mesa que ainda hoje existe lá para casa, dizia, olhando para
um cachorro que deitado no chão dormitava: …“Quem me dera ser cão, olhe para
isto, que vida mais sossegada pode haver do que a vida de cão, sem
preocupações…”. Noutra situação, referindo o seu afecto a Góios o seu tio José
dizia para a plateia que com ele cavaqueava na mercearia: …
“Gostava de ter um
bocado de terra, se tivesse um bocado de terra em Góios…”. Um dos ouvintes, o
Sr. Domingos Fernandes, homem brincalhão e de piada fina, cantador ao desafio,
interpelou e disse: … “Sr. Barroso, o meu quintal é pequeno mas, se não for
muita, se for apenas um cestos, eu poço dispensar…” ao que o sei Tio Zé Barroso
respondeu: …”não é isso homem, eu não quero terra, quero terreno, terreno…”.
Enfim eram histórias que conversas que se tinham na mercearia para ir passando
o tempo…
Quanto aos seus primos de Pedra Furada, temos aqui um verdadeiro Clã.
Toda a minha vida conheci a família dos “Vitorinos” ou os da “Vitorina” de
Pedra Furada. Nunca os havia associado à “Casa do Vitorino” em Góios. A família
dos Vitorinos de Pedra Furada é muito numerosa, julgo que descende de uma irmã
do seu Avô. (...) (Paulo Lobarinhas)
(1)
Quem vendia óleos era o meu tio Zé Barroso, com quem algumas vezes fiz a
volta para vender óleos para tractores e máquinas agrícolas.
~~~~~~~~~~
Grato pelo seu contacto e ainda bem que a
obra lhe está a correr bem. Das fotos que me enviou tenho a de D. António com o
sobrinho, numa moldura com um pano trabalhado penso que pela minha avó materna,
Francisca da Conceição Barroso, que não está autografada, pelo menos na parte
visível. A perspectiva da casa é
"novidade" pois estava habituada a vê-la de frente,. O meu primo
Manuel morava na da direita enquanto à esquerda morava o José, onde íamos
sobretudo pela Páscoa e Natal e onde o meu avô Barroso passava parte do Verão,
antes de mandar construir uma casa no Mindelo, perto de Vila do Conde. Nesta
casa do meu primo José mandou o meu avô fazer a expensas suas uma casa de
banho, pois que apesar de abonados os meus primos e família (e restante pessoal
do campo) não se preocupavam em ir "aliviar-se" fora de portas.
Fora o registo dessa Páscoa, que não
seria muito diferente das anteriores em que participei, nada mais devo ter
anotado por escrito. Era para mim uma festa encontrar-me com os meus primos e
primas de Goios e da Pedra Furada, da minha idade, e de quem perdi o rasto pois
entretanto casei, o meu avô morreu, eu fixei-me em Setúbal e as férias passaram
a repartir-se entre o Baixo Alentejo e o Porto/Vila do Conde.
Para além disso lembro-me que nas noites
de inverno gostava de sentar-me ao lume da cozinha, vendo a dança das chamas,
impregnando-se a roupa daquele cheiro característico. Não sei se o meu tio José de que fala é de facto o irmão
da minha mãe, pois este era alto, nada franzino, embora folgazão. Como fora
seminarista uma vez casou-me com uma das minhas primas (todas elas muito bonitas,
como aliás tinham boa figura os rapazes). Não me lembro já é se o
"casamento" foi com a Cândida ou com a Celeste.
Já depois de 1974, já casado, voltámos a
Goios a um casamento de alguém de família,
faustoso e com muitos convidados. Muitos anos depois, numas férias de
Verão, voltei com os meus filhos para conhecerem os primos de Goios, e disso
dou nota num escrito posterior:
"Com a morte do meu avô Barroso e
com o meu casamento, perdi o contacto com os primos de Barcelos (Goios e Pedra
Furada). Em 1989, sediados no Mindelo no Verão, fui com a minha mãe, o Rui e a
Susana a Goios, para (re)vermos os primos. Mas uns tinham morrido, os mais
sociáveis, e os outros nem apareceram, deixando-nos a secar na estrada. Como na
altura me não lembrava do nome dos da Pedra Furada, não fomos a esta aldeia.
(Notas de Viagens - 1998) "
Com efeito a minha prima casada com o
Manuel, a Clementina, que em nova fora muito bonita, assomou à porta, não nos
convidou para entrar, disse que ia dizer ao primo, e, lá do 1º andar,
fechou-nos a porta e nunca mais voltou.
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