* Victor Nogueira / JJ Castro Ferreira
Foi um deslumbramento a visão de Alcácer do Sal, reflectida nas águas do Sado, encosta acima ou abaixo, proveniente do Sul. Fui feliz em Alcácer do Sal, nos idos dos anos '70 do passado milénio, sediados no Monte da Arouca, a poucos quilómetros da vila, uma aldeia no latifúndio dos Lince, que na sequência do processo da Reforma Agrária se constitui como Unidade Colectiva de Produção Soldado Luís. Voltei mais demoradamente à Vila em 2000, mas essas fotos ainda não estão digitalizadas. Ficam essencialmente e por enquanto as dos anos '70
1974
A nossa viagem da Salvada para Lisboa correu bem. A paisagem era bonita e vimos grandes arrozais e salinas. Das povoações que atravessámos apenas retive Alcácer do Sal com o seu castelo no cimo do monte, a vila debruçada à beira-rio; um quadro lindo. (MCG - 1974.01.02)
A comida é carota - Ou as pessoas são forretas ou a luz aqui em Alcácer [do Sal] é cara. Detesto esta luz. Acabei por vir jantar aqui na esplanada onde estivemos à tarde. É carote: 40 a 50 paus a dose. SAFA! Já é noite, embora ainda se distinga o azulado do céu. (MCG - 1974.09.14)
A camioneta sai daqui a pouco para Montemor. Está sol. (…) Já engraxei os sapatos e estou mais apresentável. Gosto de ti, por quem hoje estou com vontade de ternurinhas, mas não pode ser. (MCG 1974.10.28)
Apaixonei-me por Alcácer [do Sal] desde a 1ª vez que a avistei, vindo do Sul, debruçada sobre o Rio Sado, onde se reflectia. Gosto das suas ruas que vão subindo até ao Castelo Mouro, outrora arruinado e hoje em recuperação para ser mais uma pousada, desde 1998. (...)
É uma povoação que se desenvolveu ao longo do rio, subindo por ruas íngremes, por escadarias ou atravessando arcos. Duas ruas paralelas ao rio, na parte baixa, uma marginal, outra interior. No castelo arruinado, ninhos de cegonhas. (Notas de Viagem, 1998)
Toda esta vasta região de Alcácer do Sal é arenosa, testemunho da sua cobertura pelo mar, antes deste recuar deixando a descoberto esta fina areia branca, aqui e ali quebrada por afloramentos calcários, acastanhados; para além de sobreiros, oliveiras e pinheiros, na região abunda o pinheiro manso, coberto vegetal característico, sendo a principal cultura o arroz, de regadio.. (Memórias de Viagem, 1997.08.20)
Com a invasão visigótica tornou-se sede episcopal. Conquistada pêlos árabes, estes designavam-na como Qasr Abu Danis (Palácio ou Castelo do filho de Danis), que a transformaram numa das mais inexpugnáveis praças militares da Península Ibérica. Os viquingues teriam tentado saqueá-la mas sem sucesso.
Durante o domínio árabe, foi capital da província de Al-Kassr. D. Afonso Henriques conquistou-a em 1158. Reconquistada pelos muçulmanos, só no reinado de D. Afonso II, e com o auxílio de uma frota de cruzados, a cidade foi definitivamente conquistada, tornando-se cabeça da Ordem de Santiago, poderosa donatária de imensos territórios a sul do Rio Tejo.
Um passeio a pé por Alcácer do Sal revela a parte mais encantadora desta cidade, com as suas vielas e escadinhas que trepam até ao castelo. Há monumentos de interesse como a Igreja de Santa Maria do Castelo, a Ermida do Senhor dos Mártires, a Igreja de Santo António, a Igreja de Santiago, o Museu Municipal de Arqueologia (na antiga Igreja do Espírito Santo), a Cripta Arqueológica e a estação arqueológica do Fórum Romano.
Entre 1977 e 1981 voltei mensalmente a Alcácer, para realizar o Inquérito Permanente ao Emprego, como agente de censos e inquéritos do INE, no distrito de Setúbal, que nesses anos percorri de lés-a-lés. Retornei posteriormente, já no dobrar do milénio, entre 1997 e 2000, mas a maioria das fotos destas últimas perambulações ainda não estão digitalizadas.
As fotos de minha autoria datam dos anos 70 do passado milénio; as de jj castro ferreira, assinaladas com (*), são pouco posteriores a 1998, pois nelas verifica-se que o castelo e o convento já estão reabilitados, após profundas obras que os retiraram da ruína.
Fundado a 15 de outubro de 1894, em resultado da junção do espólio arqueológico depositado na Câmara Municipal e de doações do padre Matos Galamba e de Joaquim Correia Batista, o Museu Municipal de Alcácer do Sal é, sem dúvida, um dos mais antigos do País.
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