Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 20 de setembro de 2020

Estatuária em Setúbal 14 - Esculturas de João Duarte

 * Victor Nogueira

 O escultor João Duarte tem em Setúbal quatro esculturas em espaços públicos, conhecidas como as "meninas gordas", cuja inspiração são segundo ele as Vénus pré-históricas e os modelos de Rubens, embora me façam recordar as esculturas e pinturas do colombiano Fernando Botero. Inauguradas a longo dos últimos anos, elas são "A menina com bicicleta", "A menina da mala", Menina com cadeira” e "Dolce Vita"




"A menina com bicicleta", na Avenida Luísa Todi, inaugurada em 24 de julho de 2020



"A menina da mala", na Avenida Luísa Todi, inaugurada em 25 de Abril de 2017



Menina com cadeira”, no Largo Dr. Francisco Soveral, inaugurada em 25 de Abril de 2016





"Dolce Vita", no Largo da Misericórdia, inaugurada em 14 de Maio de 2015


fotos em 2020.08.30


«O escultor explica a sua obra.

Das vénus pré-históricas, símbolos de fecundidade à sensualidade luxuriante das mulheres gordas da pintura barroca e romântica de Rubens, que encontram o seu natural prolongamento na pop-arte, e agora no meu lirismo sensual, tal perspectiva histórica, tão antiga quanto recente, não se esgota, antes adquire hoje uma pertinente actualidade, ao confirmar o íntimo acordo que sempre existiu entre a arte e a natureza, entre o arquétipo de beleza, que exalta o que é gordo e cheio, e a sabedoria popular que diz ”Gordura é formosura”.

Nesse âmbito o insólito, o grotesco e o fantástico estão na génese dos trabalhos que estou a apresentar na parte velha da cidade de Setúbal.

São figuras com formas convexas, redondas e repletas, cheias e prenhas, com expressão pela totalidade das suas formas e pelo modo como essas formas se enchem, discursando sobre seres sempre em repouso. São contemplativas, mas têm contemplações do prosaico ao poético

A escultura “ menina c/ cadeira”, é uma figura dessas, com a suavidade e a harmonia, devolvida ao quotidiano dos mortais, vivendo dum modo simples e prazenteiro, a garridice feminina, o abandono lúbrico de quem aguarda o tempo provável da fecundação.

Ela manifesta uma enorme volumetria das aparências, feita de grandes sínteses, com expressão poética, com um genuíno amor às coisas e aos prazeres simples da vida que eu expresso num jeito natural e despreocupado.

Divirto-me com a lógica das proporções, caricaturando o real, mas sem perder o sentido da amabilidade da carícia, num jogo de volumes sintéticos, em que conjugo as intenções satíricas e o afloramento lírico, sem agressividade corrosiva, sempre com um humor expressionista terno.»

in 


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