Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 28 de julho de 2020

bólides do Zé Barroso

* Victor Nogueira



Na Penha de Guimarães, em 1959 (autor não identificado) (*)

O meu tio José Barroso, letrado e folgazão, matriculado em Portugal, Espanha ou França em cursos que abandonava  (Letras, Direito, Medicina ...)  comprava carros em 2ª mão, creio que sempre de marca Austin, sólidos como tudo mas incómodos para os passageiros; utilizava-os nas suas idas a Goios com o meu avô, nalguns passeios, designadamente até à Póvoa de Varzim, e no seu negócio de agente de seguros e vendedor de óleos para máquinas agrícolas. Sempre que podia acompanhava-lo nessas passeatas, ele sempre a peguinhar com o meu avô ou contando piadas e o que faria se fosse rico. Dalguns desses bólides restam registos fotográficas de minha autoria

(*) - Na foto Zé Barroso, Zé Luís, Maria Emília e António Barroso, na Penha de Guimarães, em 1959.


Goios 1963 (foto victor nogueira) (Zé Barroso e António Barroso)

Porto - 1968 (Porto - Rua dos Bragas) (foto victor nogueira)
Á janela o meu avô Barroso

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


1962
Por cá tudo bem. Tem feito algum frio e há uns dias que não conseguia pegar na caneta para escrever. No dia de Natal fomos a Goios. Gostei do passeio. Ontem o tio [Zé Barroso] foi a Vila Nova de Gaia, a Matosinhos e à Foz do Douro e eu fui com ele. (NSF - 1962.12.21)

Fomos a Goios, aldeia onde nasceu o meu avô Barroso. As estradas da Metrópole são boas e arborizadas. (Diário III - pag. 61)

1963
Fomos a Pedra Furada, a casa da Senhora Deolinda, minha prima em 2º grau. Fica para os lados de Goios, Barcelos, pela EN 13. (...) Os campos estavam inundados devido às chuvadas que têm caído ultimamente.

Que diferença entre estas estradas e as dos arredores de Luanda! Só em Nova Lisboa é que a paisagem é semelhante. Há eucaliptos, pinheiros e videiras ao longo dos caminhos. Apetece passear por aqui. Há uma parte da estrada que é recta, sendo por isso conhecida por "recta do Mindelo". Chegámos ao Mindelo perto das 15 horas. O céu estava bonito, azul, com nuvens brancas. 

Passámos por Vila do Conde. Pouco depois entrámos na estrada de Guimarães, um pouco antes da Póvoa de Varzim. Há aqui um aqueduto muito antigo, nalguns sítios arruinado. (...)  Regressámos a casa de noite. (Diário III 1963.02.14)

O avô Barroso foi à Pedra Furada, mas eu não. Talvez vá para a próxima. Gostava bastante de tornar a ver a Cândida. (Diário III - 1963.02.17)

No dia 14 [Abril. 1963], domingo de Páscoa, fui, com o avô Barroso e o tio Zé a Goios, passando por Famalicão. Almoçámos em Goios, tendo me aborrecido imenso. O "compasso" chegou por volta das 17 horas. À tardinha fomos para a Pedra Furada. Revi com prazer a Lourdes e a Cândida, e fiquei a conhecer a Celeste e a Amélia. Divertimo-nos bastante. (Diário III - pag. 165)

De Braga fomos ao Sameiro, que é bonito. Não gosto muito do estilo do Santuário. Fomos depois ao Bom Jesus, que é muito bonito, com tudo arborizado, havendo água por todo o lado. Interessantes as capelas com imagens [conjuntos escultóricos] da vida de Cristo. Braga é uma cidade com bastantes edifícios modernos. Recentemente os eléctricos foram substituídos por trolley carros. As estradas estão bonitas, os campos cobertos de verdura e as bermas com umas flores chamadas "granjas". (1963.07.06 - Diário III) 

Fomos a Famalicão. Lá vendia-se gado bovino e asinino, cerâmica, louças, roupas, arreios, etc. Há também uma feira semanal às quartas-feiras. No fundo a feira é igual às de Barcelos e Monte Real.e vi algumas mulheres de Viana com os seus trajos típicos. (1963.09.29 - Diário III) 

1968
Fomos até à Póvoa. Uma tarde estival, que me levou a lamentar não ter levado o calção de banho. A cor bronzeada que adquirira e que segundo a Maureen [Baltazar] me dava um ar saudável, desvaneceu se há muito, sendo substituída por uma palidez de leite, que um amigo meu, o Martins Pereira, disse, outrora, ser simplesmente nojenta! Ah!, que saudades eu tenho da praia, do ar livre, dos espaços amplos! (1968.09.27)

Sem comentários: