Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 1 de março de 2010

das imagens - Madeira




26 Fevereiro, 2010


das imagens


Dennys Martins, Freguesia do Monte, Madeira


As imagens no tempo da ugência da partilha
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Sérgio B. Gomes e João Pedro Pereira
(P2, Público, 22.02.2010)
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Aconteceu com a tempestade que se abateu sobre o arquipélago da Madeira, no sábado, aconteceu com outras tragédias recentes em outras partes do mundo - as primeiras imagens divulgadas pelos media foram registos dos leitores partilhados em redes sociais na internet ou enviados directamente para as redacções de jornais, revistas e televisões. As fotografias e vídeos colocados na rede por quem experimentou um acontecimento extraordinário passaram definitivamente a ser matéria-prima das notícias dos meios de comunicação tradicionais (e das suas páginas na web), menos aptos para responder à velocidade - à quase imediação - a que correm aquelas imagens.
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Estas redes sociais criaram uma dinâmica própria, não só fundada numa necessidade de mostrar, numa urgência de partilhar, mas também movida por apelos à solidariedade e ao espírito de entreajuda. Os media têm saciado a sua sede de imagens nestes espaços que se multiplicam e diversificam em distintas plataformas, consoante o suporte de registo e a lógica de distribuição. São imagens que se tornaram parte fundamental da construção do discurso noticioso que passou a incorporar o vernacular, as fotografias ou vídeos sem qualidade estética ou de produção, mas com um grande valor informativo.
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Durante muito tempo, a distribuição em larga escala e em tempo útil de imagens foi um exclusivo dos media tradicionais. O certo é que este panorama tem vindo a sofrer profundas alterações. Um bom exemplo dessa mudança de paradigma aconteceu logo após o sismo que abalou o Haiti no início de Janeiro. O canal americano de notícias CNN (com a reputação de estar em todo o lado em qualquer momento) passou em vários noticiários e durante largos minutos as primeiras imagens sobre aquela tragédia divulgadas em redes sociais, como o Facebook, o Twitter ou o YouTube. Dentro dos estúdios da CNN, as câmaras de televisão saltaram de ecrã para ecrã de computador, de onde saíram as primeiras fotografias e vídeos da recente catástrofe haitiana.
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Este sábado, a informação sobre o temporal da Madeira correu pelo Twitter, com curtos relatos de pessoas no local e fotografias a serem distribuídas e redistribuídas pelos utilizadores desta rede. Estas mensagens estavam normalmente identificadas com a palavra-chave #tempmad, abreviação de "temporal" e "Madeira" - no Twitter, estas palavras-chave, que são precedidas do símbolo cardinal, são chamadas hashtags e permitem aos utilizadores agruparem informação relativa ao mesmo assunto, tornando-a assim facilmente pesquisável.
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Inevitavelmente, o YouTube foi inundado com vídeos amadores. As torrentes de água e lama, os carros arrastados e as pontes destruídas foram captados por câmaras de pouca qualidade e por telemóveis. Muitos destes vídeos acabaram em alguns dos principais órgãos de informação do país.
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Pelo menos dois jornais - o Público e o JN - usaram nos seus sites um mapa interactivo criado com ferramentas da Google, que permitia a qualquer pessoa acrescentar pontos com fotos, vídeos e outra informação sobre as consequências do temporal. A iniciativa não partiu das redacções: o mapa foi criado pelo jornalista freelance e blogger Alexandre Gamela, a partir de Birmingham. E o mapa não continha apenas informação. Havia também pedidos de ajuda: "Se tiverem informações sobre a situação no Curral das Freiras, partilhem", lê-se ao clicar num ponto de interrogação sobre a localidade de Curral das Freiras, que esteve incontactável até ontem.
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Os vídeos e fotografias dos amadores misturaram-se na Web com os dos profissionais. Nos sites de informação, nas televisões - e também na blogosfera - conviviam com as imagens captadas pelos cibernautas as imagens que iam sendo registadas pelos jornalistas em serviço. 
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