Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Fotógrafo faz negócio com arquivo dos anos 60


Fotógrafo faz negócio com arquivo dos anos 60

Foto Studio tem proporcionado "reencontros" intergeracionais

Jornal de Notícias - 2010-02-21

LILIANA COSTA
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Uma loja de fotografia, a única na localidade durante décadas, recuperou negativos de fotos tiradas a partir de 1960 e o negócio virou sucesso. Há quem não se reconheça a si próprio, quem encontre uma imagem do pai ou da mãe ainda na flor da idade.
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Hoje, basta um "clique" e já está. A fotografia digital e, sobretudo, a incorporação de câmara nos telemóveis, veio revolucionar o mundo da imagem mas há 60 anos as fotografias, geralmente tiradas para documentos oficiais, eram produzidas a partir de negativos de vidro, num processo moroso e artístico.
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Hoje há várias lojas de fotografia em Vizela, mas até há uns anos a Foto Studio, na Rua Dr. Abílio Torres, era o único laboratório. Abriu em 1942 e durante décadas foi registando milhares de rostos em fotos tipo-passe para documentos de identificação. O estabelecimento foi, entretanto, vendido e o novo proprietário, Manuel Monteiro, encontrou no arquivo uma nova fonte de receitas. O que não deixa de ser curioso numa altura em que a substituição do Bilhete de Identidade pelo Cartão do Cidadão [a fotografia passou a ser tirada na própria Conservatória do Registo Civil] está a acabar com o negócio.
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"Temos milhares de fotografias em arquivo e já fizemos cerca de cinco mil. Tem-se revelado um bom negócio", confirma Manuel Monteiro. São reproduzidas a partir dos negativos, alguns com cinquenta anos, e vendidas em formato postal por cinco euros. As fotos vão sendo expostas, cronologicamente, na vitrina da loja e não há quem resista a espreitar por uns minutos todas as caras de homens e mulheres da década de 60 que lá fizeram pose para o "passarinho". Foi mais ou menos por essa altura que "as mulheres começaram a trabalhar fora de casa, nas fábricas, e a cortar os cabelos", assinala Manuel Monteiro.
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A cada passo, alguém encontra um rosto familiar. "Aqui há uns tempos, houve um caso de sete irmãos que descobriram o pai que não chegaram a conhecer. Tinha morrido novo. Nestes casos, geralmente são vizinhos e amigos que identificam a pessoa", conta.
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Desde que Manuel Monteiro começou a explorar a ideia, já assistiu a casos de pessoas que reencontram os pais, avós, tios e outros familiares, alguns já falecidos. "Essas são as que se vendem mais, de pessoas que já morreram", revela. Mas há também quem não se reconheça a si próprio. "Sabe que hoje tira-se fotografias com o telemóvel, mas há uns anos não era assim. E as pessoas, porque não têm fotografias de quando eram novos, já nem se lembram de como eram. São os amigos que lhe dizem: 'Oh pá, este és tu!'", brinca. Não tarda e aparecerão na frente da loja as fotos dos anos 70, a década dos cabelos pelos ombros e dos colarinhos grandes e redondos.
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À loja da Foto Studio têm chegado pessoas de todo o lado. Gente com raízes na terra que, alertada para a descoberta, vem à procura de imagens dos seus ascendentes. "Chegam de Viana, do Porto e de outras localidades para onde migraram e às vezes esperam um dia inteiro para que as fotografias fiquem prontas", diz. Depois discute-se quem se parece com quem e recorda-se outros tempos.
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"Foi a melhor coisa de que se podiam ter lembrado", afirma, com grande satisfação, Guilhermino Ribeiro Cunha. Este vizelense de 72 anos já levou para casa vários exemplares da sua figura aos 18 anos e por aí adiante. 
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