Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 21 de fevereiro de 2010

deVERcidade - No exercício do olhar

Vida & Arte

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Fotografia

No exercício do olhar

Começa no próximo dia 24, a quarta edição do evento de fotografia mais significativo do estado. O deVERcidade -dentro e fora do olhar discute questões como fotografia autoral, mercado de arte, curadoria e os caminhos da fotografia contemporânea
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Elisa Parente elisa@opovo.com.br 20 Fev 2010 - 18h05min
http://www.noolhar.com/opovo/vidaearte/955544.html
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(Divulgação)
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De cima para baixo, os fotografias Prelúdio, de Adriana David; Uma Panorâmica de uma Cidade Inventada, de Natalia Tonda; Voar é Preciso, de Aziz Ary; e Despalavras, de Haroldo Saboia . Nas paredes, o tijolo aparente, as pichações e resquícios de um abandono distante. No lugar do teto, um céu amplo e sem limites. A iluminação que brota das paredes é feita de pensamentos, ideias e sentimentos. É nesse ambiente pouco convencional e ao mesmo tempo inspirador que a partir da próxima quarta, 24, as ruínas de um galpão abandonado na Praia de Iracema abrigam a quarta edição do deVERcidade. O evento de fotografia, que durante cinco dias movimentará o entorno do Mercado dos Pinhões, é capitaneado pelo Instituto da Fotografia & IFoto e vem discutir questões sobre a fotografia contemporânea e sua relação com o mercado de arte, a autoria, a Internet. Até o dia 28, passam por aqui curadores, produtores e pesquisadores e uma mostra com ensaios de 43 fotógrafos de 11 estados brasileiros e do Distrito Federal. Serão expostas ainda obras dos artistas visuais José Tarcísio, Alexandre Veras e Milena Travassos, dos coletivos Balbucio e Alumbramento, além de uma homenagem ao fotógrafo baiano Mário Cravo Neto, falecido em agosto de 2009. O evento, que conta com patrocínio do Governo do Estado do Ceará e Prefeitura Municipal de Fortaleza, recebeu seu primeiro apoio cultural da Oi Futuro. . Com o tema ``Dentro e fora do olhar``, o deVERcidade traz na sua programação questionamentos pertinentes à prática da fotografia atual. Que imagens são criadas hoje? Quem são seus autores? Na efemeridade da produção para a rede, o que permanece como memória? Que rumos a fotografia contemporânea está tomando? ``A gente costuma dizer que o deVERcidade não é um festival com caminhos fechados e definidos. É um trabalho em progresso. O que tentamos fazer é questionar e intervir. É um espaço inusitado e não convencional, que tem uma amplitude maior e que dá acesso às mais diversas pessoas``, destaca o fotógrafo e curador do Ifoto, Tiago Santana. . Longe de buscar respostas, o deVERcidade lança interrogações para que público e convidados botem em xeque questões como produção autoral, lugar da fotografia no mercado de arte, curadoria. Enriquecendo o debate, o evento convidou três dos mais importantes curadores de fotografia do Brasil. Eder Chiodetto, que atua no cenário independente, palestra no dia 25 sobre ``Curadoria e fotografia no Brasil``; Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, fala no dia seguinte sobre ``De como se faz um curador (?)`` seguido do monólogo ``Eu quem? Um retrato em preto e branco``. No sábado, 27, a curadora de fotografia especializada em mercado, Rosely Nakagawa, detalha esta relação. . Arte da fotografia O jornalista, fotógrafo e curador independente Eder Chiodetto, explica que a fotografia passa a merecer o status de obra de arte colecionável a partir dos anos 1990. ``É quando museus como o MAM-SP e o Masp, por meio da Coleção Masp-Pirelli, passam a formar um acervo específico de fotografia. A criação do Instituto Moreira Salles também tem uma importância fundamental. Esse período corresponde, em escala global, à ampliação do interesse dos artistas pela fotografia, pela forma como ela foi sendo reestruturada como linguagem a partir das novas tecnologias``. A curadora Rosely Nakagawa, que coordena as mostras das galerias Fnac Brasil, defende que a fotografia de arte é realizada pelos fotógrafos que a pensam como tal. ``Mesmo nas áreas de fotografia documental, jornalística ou de publicidade, a fotografia pode ser pensada como arte. O tempo e sua força é que determinam se ela sobrevive como imagem independente de um fato ou época``, sustenta.
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Embora se perceba que o espaço direcionado para a fotografia autoral é mínimo diante de sua produção, a fotógrafa e diretora do IFoto, Bia Fiuza, acredita que este direcionamento da linguagem tem espaço para ser trabalhado no mercado de arte. ``Queremos discutir como a fotografia autoral pode se viabilizar. O grande problema de quem desenvolve projetos autorais é a dificuldade de se viver com isso. De não precisar ter um trabalho paralelo para sustentá-lo. É importante a gente apresentar as diferentes ferramentas e possibilidades para fazer isso acontecer, porque hoje é possível. Existe um circuito, que envolve críticos, curadores, galeristas, salões e publicações, que sustenta e torna tudo isso possível``, defende. Quando o olhar se volta para o cenário local, o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e curador do IFoto, Silas de Paula, encara a possibilidade como remota. ``Falar sobre um mercado autoral para a fotografia no Ceará é um sonho ainda distante. Os artistas visuais que estão aí há mais tempo continuam sofrendo. Só alguns conseguem se manter. Porém, em outros locais isto é uma realidade e espero que isto, algum dia, aconteça por aqui``, analisa.
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