quinta-feira, 9 de Dezembro de 2004
Fotojornalismo que futuro?
Onde antes tínhamos a pintura, tentando retratar os acontecimentos históricos, temos agora a fotografia, ultrapassando tudo no registo da realidade.
O Fotojornalismo fornece-nos imagens de um poder e informação sem precedentes sobre o mundo em que vivemos. As imagens da Segunda Guerra Mundial, do Vietnam, do Biafra, da Etiópia, ou mesmo da chegada do Homem à Lua são referências incontornáveis deste século.
O Fotojornalismo foi a principal fonte de documentos históricos e antropológicos do nosso tempo. Ignorar o fotojornalismo é ignorar a história do século XX. No entanto, uma série de questões continuam actuais.
Em Portugal, os fotojornalistas, salvo raras excepções, continuam a ter pouco controlo sobre o seu trabalho. A falta de editores fotográficos ou o pouco poder que têm leva a que as fotografias sejam seleccionadas por pessoas sem qualificação para tal. Além disso, não há sensibilidade para questões essenciais, como o respeito pelo enquadramento, a autoria, a legendagem. Uma legenda pode deturpar completamente a intenção do fotógrafo ao realizar uma imagem.
Por outro lado, é importante que o fotojornalista tenha liberdade de executar o seu trabalho como entende sem ser condicionado na sua criatividade, nem na sua forma de interpretar os acontecimentos que fotografa.
Deve-se trabalhar igualmente no sentido de criar condições para que haja espaço nas revistas e jornais para uma publicação de fotoreportagens completas e não apenas de imagens isoladas a "ilustrar" textos.
Os últimos anos têm sido marcados pelo desenvolvimento técnico na área da fotografia: a digitalização, o envio de fotos por métodos informáticos, o tratamento de imagens... As mudanças são radicais!
Os fotojornalistas pôem de lado os químicos, os ampliadores e trabalham agora com scanners e photoshop. Todas estas alterações têm vantagens mas também levantam alguns "fantasmas".
Se, por um lado, a tecnologia veio disponibilizar mais tempo aos fotógrafos para fotografar, não estando mais agarrados ao laboratório, por outro, vem lançar algumas sombras sobre a veracidade das fotografias que surgem nos jornais. Os novos programas de tratamento de imagem permitem não só limpar sujidades ou riscos dos negativos e corrigir tonalidades, como dão ao fotógrafo a capacidade de alterar completamente uma imagem.
É obrigatório levantar algumas questões colocadas por estes novos instrumentos de trabalho:
- Quem garante ao observador que a imagem que está a ver retrata, de facto, o que se passou e que não houve alteração de nenhum elemento importante ?
- Quem manuseia o tratamento digital das imagens ? O fotógrafo ou um informático sem formação jornalística ?
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