Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Fotojornalismo que futuro? - Egídio Santos

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quinta-feira, 9 de Dezembro de 2004  

Fotojornalismo que futuro?

Este foi o século dos fotojornalistas. Eles ofereceram-nos uma história visual sem comparação com qualquer período da existência humana.
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Onde antes tínhamos a pintura, tentando retratar os acontecimentos históricos, temos agora a fotografia, ultrapassando tudo no registo da realidade.
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O Fotojornalismo fornece-nos imagens de um poder e informação sem precedentes sobre o mundo em que vivemos. As imagens da Segunda Guerra Mundial, do Vietnam, do Biafra, da Etiópia, ou mesmo da chegada do Homem à Lua são referências incontornáveis deste século.
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O Fotojornalismo foi a principal fonte de documentos históricos e antropológicos do nosso tempo. Ignorar o fotojornalismo é ignorar a história do século XX. No entanto, uma série de questões continuam actuais.
Em Portugal, os fotojornalistas, salvo raras excepções, continuam a ter pouco controlo sobre o seu trabalho. A falta de editores fotográficos ou o pouco poder que têm leva a que as fotografias sejam seleccionadas por pessoas sem qualificação para tal. Além disso, não há sensibilidade para questões essenciais, como o respeito pelo enquadramento, a autoria, a legendagem. Uma legenda pode deturpar completamente a intenção do fotógrafo ao realizar uma imagem.
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Por outro lado, é importante que o fotojornalista tenha liberdade de executar o seu trabalho como entende sem ser condicionado na sua criatividade, nem na sua forma de interpretar os acontecimentos que fotografa.
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Deve-se trabalhar igualmente no sentido de criar condições para que haja espaço nas revistas e jornais para uma publicação de fotoreportagens completas e não apenas de imagens isoladas a "ilustrar" textos.
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Os últimos anos têm sido marcados pelo desenvolvimento técnico na área da fotografia: a digitalização, o envio de fotos por métodos informáticos, o tratamento de imagens... As mudanças são radicais!
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Os fotojornalistas pôem de lado os químicos, os ampliadores e trabalham agora com scanners e photoshop. Todas estas alterações têm vantagens mas também levantam alguns "fantasmas".
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Se, por um lado, a tecnologia veio disponibilizar mais tempo aos fotógrafos para fotografar, não estando mais agarrados ao laboratório, por outro, vem lançar algumas sombras sobre a veracidade das fotografias que surgem nos jornais. Os novos programas de tratamento de imagem permitem não só limpar sujidades ou riscos dos negativos e corrigir tonalidades, como dão ao fotógrafo a capacidade de alterar completamente uma imagem.
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É obrigatório levantar algumas questões colocadas por estes novos instrumentos de trabalho:
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- Quem garante ao observador que a imagem que está a ver retrata, de facto, o que se passou e que não houve alteração de nenhum elemento importante ?
- Quem manuseia o tratamento digital das imagens ? O fotógrafo ou um informático sem formação jornalística ?
- Quem define os limites do que deve ser permitido na manipulação das imagens (se é que ela deve existir) ?
- Quem controla e garante a veracidade da imagem ?
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Por outro lado, o fotojornalista corre o risco de começar a ser encarado como um técnico de máquinas, entre a câmara fotográfica, o scanner ou o computador e já não como um jornalista com opinião, intenção e criatividade.
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intrevenção de Egídio Santos na 1ª Convenção de Jornalistas - Guimarães 1999


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