Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui
“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)
«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Paço de Arcos e a Festa do Senhor Jesus dos Navegantes 01
* Victor Nogueira
Nesta soalheira tarde de domingo o objectivo era fotografar os Chafarizes em Carnaxide e as Fontes de Maio, da Travessa da Ermida e a Velha, estas três últimas em Paço de Arcos e todas elas no Concelho de Oeiras.
No caminho para a Fonte Velha na Estrada Marginal de Lisboa para o Estoril deparei com carros de bombeiros vedando o trânsito automóvel e a partir de certa altura comecei a ouvir lá longe o rufar compassado de tambores e cânticos religiosos, um dos quais reconheci. Lembrei-me que este é o tempo das Festas do Senhor Jesus dos Navegantes, da devoção dos pescadores e mareantes que outrora existiam em Paço de Arcos. Olhei para o Tejo e lá vislumbrei algumas poucas embarcações a primeira das quais transportando a imagem devocional. Similares em Oeiras são as Festas em Honra de Nossa Senhora de Porto Salvo, mas a essas creio que nunca assisti.
Mirones amontoavam-se agora junto à antiga Ermida do Senhor Jesus dos Navegantes, hoje aberta, e defronte à Capela do Paço que foi dos Condes de Alcáçovas, de cuja varanda D. Manuel I teria assistido à partida das naus em demanda do caminho marítimo para a Índia, capitaneadas por Vasco da Gama.
Entro na Ermida onde anteriormente nos meus longínquos 21 anos, na juventude, com a minha tia-avó Esperança assistia à Missa, a excepção no ramo paterno alentejano, de ateus ou agnósticos, contrariamente ao que sucedia no católico e nortenho ramo materno. Assisti pois nesse tempo à missa, umas vezes aqui, outras na capela do Paço. De nada me lembrava e chamo-me a atenção uma galeria donde o pessoal grado outrora deveria assistir à missa, a exemplo do que sucedia na capela do Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras. Irmãos em Cristo, sim, mas com peso, conta e medida, sem misturas.
Ao rufar dos tambores os fiéis encaminhava-se para e ermida, muitas pessoas idosas e alguns jovens, a maioria dos Escuteiros. Mas nada de parecenças com a Procissão de António Lopes Ribeiro, outrora declamada por João Villaret.
Este é pois o tempo das Festas de Paço de Arcos, de Feira anual no Jardim Público com o seu coreto, com as barracas de comes e bebes e das diversões, por onde em tempos mais recentes se passeava Isaltino de Morais, cumprimentando tudo e todos, até este escriba que votava em Setúbal, mas isso desconhecia ele, mesmo quando me dirigia um cumprimento e ao restante pessoal quando entrava neste ou naquele café da vila ou misturado com a multidão no Jardim Público da Vila de Paço de Arcos.
Sobre esta Festa, que escrevia eu outrora, em 1972 ?
Hoje não vamos a Lisboa. Passearemos apenas aqui em Paço de Arcos. Sairemos aqui de casa, apreciarei a casa [vivenda] onde moram as minhas tias [na Avenida Conde S. Januário], que tem um jardim pouco cuidado, que pertence à senhoria [a D. Manuela], que mora no r/c - nós moramos no 1º andar. Atravessamos a linha férrea, iremos até ao Paço dos Condes de Qualquer Coisa - na foto - um recanto bonito e antigo. Tomaremos a rua Costa Pinto - com prédios que devem ser do tempo do Marquês de Pombal e, junto à tabacaria, viraremos para o jardim, onde agora está a "feira" [Festa do Senhor Jesus dos Navegantes]. Veremos os cartazes do cinema [Chaplin] [1972] e as pessoas que passeiam. Sentamo-nos no jardim, trocando ideias sobre as notícias do jornal. Ali um jovem casal de namorados troca de vez em quando uma beijoca (quando o polícia não olha!). Esperemos que nenhuma das duas velhotas se escandalize. Retomaremos o passeio pela marginal, ultrapassaremos a doca e iremos até à praia tomar banhos de sol. De mar não, por causa da poluição. E como o tempo falta - a tiragem do correio é às 17 horas - regressaremos passando pelo Mercado e rumo aos CTT, apreciando os prédios do J.Pimenta, junto à Igreja nova [e de estilo moderno], onde nunca entrei. (MCG - 1972.08.02)
Encontro-me no jardim, rodeado de pessoas, digo, de crianças brincando e do trânsito automóvel. O chão está coberto de folhas secas e amarelecidas, que o vento transporta. Esse vento fresco que me fará ir embora mais cedo porque se torna desagradável. Ultimam se os preparativos para a Festa do Senhor Jesus dos Navegantes (Paço de Arcos), que se realizará nos últimos dias deste mês de Agosto, pelos vistos mês das feiras e festarolas. (MCG - 1972.08.23)
Ou em 1997 ?
A Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, para além
do arraial, inclui uma procissão que percorre as ruas da vila e a benção dos
barcos (de pesca), tradição abandonada, retomada e de novo abandonada pois a
pesca ... foi um ar que lhe deu! (1997.09.16)
Paço dos Arcos, dos Condes de Alcáçovas, actualmente unidade hoteleira
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