Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 3 de junho de 2017

Luísa Todi em Setúbal


* Victor Nogueira










Casa onde terá nascido Luísa Todi, na Rua da Brasileira nº 49








foto Américo Ribeiro (?)



Glorieta a Luísa Todi (1753 / 1833), cantora lírica setubalense, na avenida homónima. O monumento inaugurado em 1933 foi desenhado por Abel Pascoal, esculpido por Leopoldo de Almeida e construído por Abílio Salreu


Painel de azulejos no Palácio Salema, na Praça do Bocage


Painel de azulejos na Pastelaria Bambi na Travessa do Marquês de Pombal



Luísa Todi, por Sérgio Vicente, no Forum Municipal Luísa Todi  (escultura doada pela Fundação Buehler-Brockhaus) - foto Roteiro de Setúbal


O Cine-Teatro Luísa Todi antes da remodelação - toto CMS


Teatro  D. Amélia, rebatizado como Luísa Todi após a implantação da República em 1910 - foto Américo Ribeiro


Forum Municipal Luisa Todi O anterior Cine-Teatro Luísa Todi (1960),  adquirido pela Câmara Municipal de Setúbal e entretanto profundamente remodelado e com funções polivalentes, tem no seu último piso uma cafetaria de cujas varandas corridas se tem uma deslumbrante vista sobre a cidade, o Estuário do Sado e a Serra da Arrábida. Com a implantação da República o Theatro Rainha D. Amélia  (1897) foi em 1911 rebaptizado como Teatro Avenida até 1915 quando tomou o nome de Luísa  Todi. Rm 1958 o Cine-Testro Luíza Todi foi demolido, em seu lugar erguendo-se um edifício de traça modernista, inaugurado em 1960, da autoria do aquitecto Fernando Silva  (in http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2015/04/cine-teatro-luisa-todi.html)


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foto AMBALT

Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi 
Largo de Jesus - foto CMS




Mais prosaico existe o Grupo Luísa Todi, que exerce a sua actividade de ● Aluguer de Autocarros ● Agência de Viagens ● Ambulâncias e a Residencial Todi, na Avenida homónima, fundada em 1974




Avenida  Luísa Todi -  Entre as Fontaínhas e a Quinta da Saboria, traçada à beira rio, em terrenos de sapal e bordejando a norte com a muralha medieval, f oi concebida como "boulevard" ou passeio público da burguesia novecentista, em co-vizinhança com fábricas conservera de peixe, sobretudo a leste. Como passeio público e de lazer tinha a placa central ajardinada, com o seu coreto e casas de espectáculos, como o Theatro Rainha D. Amélia, o Grande Salão Recreio do Povo (anos 20 do séc XX), o Club Setubalense  (1853) e o Casino Setubalense (1908)


Mme Todi (óleo sobre tela)  Artista  Louise Elisabeth Vigée Le Brun; Data 1785 Localização Museu da Música, Lisboa


Luísa Todi, uma das maiores artistas líricas do seu tempo, nasceu em Setúbal a 9 de Janeiro de 1753 e faleceu em Lisboa a 1 de Outubro de 1833. Filha de Ana Joaquina de Almeida e do mestre de música Manuel José de Aguiar, recebeu no batismo o nome de Luísa Rosa de Aguiar.

Ainda na sua terra natal, entre 1758 e 1763, Luísa e três dos seus irmãos familiarizam-se com a arte de representação frequentando a residência de uma dama setubalense que organizava espetáculos teatrais em privado. Com dez anos de idade, ingressou no teatro profissional por mão de seu pai. Por contrato firmado a 6 de Julho de 1763, Manuel José de Aguiar e quatro dos seus filhos mais velhos (Cecília Rosa, António José, Isabel Ifigénia e Luísa Rosa) passavam a integrar a companhia do Teatro do Bairro Alto.

Da prestação de Luísa no teatro declamado, que se cingiria à fase inicial do seu percurso artístico, há registo do seu desempenho como “Faustina” em (versão da comédia de Molière realizada por Manuel de Sousa), provavelmente em 1768. Pouco tempo depois, a cantora de Setúbal, com a sua voz de “mezzosoprano”, seguiria a via operática. Na temporada de 1770-1771 do Teatro do Bairro Alto, cantou em três “drammi giocosi per musica”, dois dos quais musicados por Giuseppe Scolari. Na sequência de uma querela que surgiu, durante a execução de Il bejglierbei di Caramania, entre aquele compositor e o napolitano Francesco Saverio Todi, primeiro violinista da orquestra e casado com Luísa desde 28 de Julho de 1769, a artista e o marido desligaram-se da Casa da Ópera do Bairro Alto. Escriturada para o Teatro do Corpo da Guarda, a cantora apresentou-se nesta casa de espetáculos do Porto entre 1771 e Janeiro de 1776, com um interregno no período compreendido entre Setembro de 1774 e finais de Janeiro do ano seguinte, em que, de regresso à capital, permaneceu incorporada no elenco do Teatro da Rua dos Condes, composto quase em exclusivo por artistas italianos. Em Lisboa cantou apenas em Il Calandrano, saindo do Condes a meio dos ensaios de outra ópera cómica, em virtude de desentendimentos com os corpos diretivos da Sociedade instituída para a subsistência dos Teatros Públicos da Corte. A última atuação de Luísa Todi em salas públicas do território português ocorreria na cidade do Porto, em 1775. Antes disso, em Junho de 1772, os frequentadores do Teatro do Corpo da Guarda puderam assistir ao seu desempenho em Demoofonte, uma ópera do género sério a que melhor se ajustavam as suas características vocais e a expressão do seu canto. Para trabalhar e apurar os dotes canoros de Luísa terá contribuído o próprio marido e, acima de tudo, outro napolitano, o compositor David Perez, seu mestre dos tempos do Teatro do Bairro Alto e autor da partitura daquele Demoofonte de 1772.

Os Todi saíram de Portugal em 1777 a fim de Luísa atender a convites que lhe chegavam do país vizinho para se exibir em recitais privados, o que viria a suceder com relativa frequência em outros países ao longo do seu percurso artístico. A estreia pública no estrangeiro só viria a ocorrer em Londres, no King’s Theatre (Haymarket), no mês de Novembro do mesmo ano de 1777. Aí atuou, até Junho de 1778, em seis “drammi giocosi per musica”. Após o exórdio londrino, começou a dedicar-se ao género operático sério vindo posteriormente a pôr termo aos desempenhos na ópera cómica.

Durante vinte e dois anos, a contar de 1777, a Todi construiu uma brilhante carreira internacional, acumulando sucessos de público e da crítica nas muitas cidades europeias de diferentes áreas linguístico-culturais onde a sua voz se fez ouvir. Em França participou em quatro temporadas dos “Concerts Spirituels” parisienses (1778-1779; 1779-1780; 1783, 1789) e realizou uma digressão pelo sul do país que se estenderia também a terras suíças (1779). Na área de língua alemã, atuou em cidades austríacas (Viena, entre outras) e germânicas (1781-1782), tendo sido escriturada por duas vezes para cantar na capital da Prússia, Berlim (1783-1784; 1787-1789). Na Rússia apresentou-se em São Petersburgo e Moscovo (1784-1787) ao serviço de Catarina II, a quem dedicou a “festa teatrale per musica” Pollibia (1784), com libreto da sua autoria. Após uma curta digressão nos Países-Baixos, durante alguns meses da primavera de 1790, a Todi chegava a Veneza, no outono desse ano, mas a sua estreia na Península Itálica tivera lugar na cidade de Turim, cerca de oito anos antes. A temporada veneziana (1790-1791) no Teatro di San Samuele, que registou um tão memorável triunfo a ponto de ficar conhecida como “anno Todi”, marcava o início da digressão italiana da cantora, que a levaria a Pádua, Bérgamo (1791) e novamente a Turim (1791-1792).

Antes de concluir o périplo italiano e assim, também, a sua carreira internacional, viajou até à Península Ibérica, a fim de cumprir um contrato para atuar num teatro madrileno por duas temporadas (1792-1793; 1793-1794). Entre estas duas estações teatrais, deslocou-se a Lisboa onde cantou na Real Casa Pia, a 14 de Maio de 1793, num espetáculo integrado nas festas pelo nascimento da infanta Maria Teresa, e participou, ainda em Maio, num sarau no palácio de Anselmo José da Cruz Sobral. No dia 12 de Janeiro de 1799, Luísa Todi terá atuado pela última vez numa sala pública, na récita que rematava três temporadas triunfais (de 1796 a 1799) no Teatro di San Carlo. Foi isto em Nápoles, uma das mais importantes praças operáticas da Europa.

Ainda em 1799, os Todi regressaram a Portugal, fixando residência no Porto. Em finais de 1811, Luísa, já viúva desde 28 de Abril de 1803, instalou-se definitivamente em Lisboa. Cerca de dez anos antes do falecimento, cegou por completo, derradeira manifestação de uma grave doença ocular que se declarara durante a temporada veneziana e já lhe fizera perder a visão de um dos olhos (1813). Vitimada, ao que se sabe, pelas sequelas de um acidente vascular cerebral, faleceu no 2º andar do nº 2 da Travessa da Estrela (Rua Luísa Todi, desde 1917), artéria situada bem perto do local onde outrora se erguera a casa de espetáculos em que se apresentara pela primeira vez em público, o Teatro do Bairro Alto.

in http://cvc.instituto-camoes.pt/pessoas/luisa-todi.html#.WTK66mjyvIU

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