Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 20 de junho de 2017

As Fontaínhas, em Setúbal 01

* Victor Nogueira

Pobre tem por vezes a possibilidade de estar pertinho do céu com amplos e desafogados horizontes para lá deste beco, viela, pátio ou canto esconso, insalubre e sombrio, subindo ou descendo escadinhas e ladeiras estilo quebra-costas. Tal é o Bairro das Fontaínhas ou das pequenas fontes, na extrema oriental da vila medieval, bairro de pescadores, de fábricas conserveiras, de operariado explorado e mal pago, que a partir do século XVII passou a estar protegido pelos baluartes de S. Domingos e das Fontaínhas.

 Satubal, Portugal. Desenho a bico de pena, Pier Maria Baldi (c. 1630-1686).(pormenor)

A maioria das casas para lá da zona dos restaurantes estão decrépitas ou em tuínas, por vezes com as paredes escoradas com barrotes, a roupa estendida desassombradamente nos largos ou na frontaria dos edifícios de habitação, alguns com vasos de flores, por vezes latas, e gaiolas de pássaros trinando. 

As fábricas conserveiras foram na sua esmagadora maioria demolidas, aqui e além restando o testemunho de esguia e altaneira chaminé. O poço comunitário das Fontaínhas  foi "privatizado" em benefício dum restaurante que o transformou em balcão. Mais adiante um fontanário construído pela Câmara Municipal em 1911 é simples adorno, pois também já não deita água.

A linha férrea separou o barro e o rio, o viaduto rodoviário emparedou as vistas, a praia desapareceu, ficando apeas a doca/ marina e o cais dos ferry-boat. As ruas ainda contam histórias escondidas ou não nos seus nomes: Escadinhas e Rua das Barrocas, Beco, Terreiro e Rua do Forte, Rua da Fantazia, Beco da Praia, Rua, Beco e Ladeira das Fontaínhas, Rua de Brás Martins (quem terá sido ?) ...

Aqui e além, nesta escada ou naquele muro, pelo meio da rua, espriguiçadamente ao sol os gatos pavoneam-se, indiferentes aos transeuntes.

antiga fábrica adaptada a edifício de habitação






Rua das Barrocas


Ladeira das Fontainhas


Rua do Quebra-Costas




Ladeira das Fontainhas







Rua das Fontainhas



O poço das Fontaínhas




Rua das Barrocas



Rua das Barrocas



Travessa da Fantazia


Ladeira das Fontainhas



Rua das Fontainhas





Rua das Fontainhas


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