Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Todas as cores e nuances de Luiz Braga em oficina


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Diário de Pará - Quinta-feira, 08/04/2010, 08h29

Todas as cores e nuances de Luiz Braga em oficina


Luiz Braga ministra oficina na programação do Prêmio Diário de Fotografia 
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Foi na conturbada e frenética Estrada Nova onde tudo começou. Em meados da década de 1970, o fotógrafo Luiz Braga percorria o itinerário comum para ir à Universidade Federal do Pará, quando cursava Arquitetura e Urbanismo. Via naquele cenário o que certamente poucos conseguiam enxergar. O olhar aguçado daquela paisagem suburbana se tornou o que considera o seu primeiro ensaio, “No Olho da Rua”, de 1984. “A visão que eu tinha quando ia para a UFPA foi o que me encantou. As cores, as pessoas, a forma cabocla de ser, seja na forma de pintar as casas, de vestir”, diz.

Procurando sempre fotografar aquele cenário desordenado de maneira sutil, o fotógrafo percebeu que poderia aproveitar as fontes de luz daquelas casas espremidas e dos bares coloridos. Surgia o desejo de descobrir e experimentar as possibilidades de usar a cor como elemento artístico em suas imagens. O período era complicado. Na década de 1980, a composição em preto e branco dominava e era difícil mostrar que poderia ser diferente. “Nos anos 80, quando fiz minha primeira exposição em cores, lembro que tinha que ficar defendendo que não era apenas a foto em P&B que tinha possibilidades artísticas”, recorda.

E ainda bem que Luiz não desistiu. É incrível a maneira como ele descreve o processo de aproveitamento das luzes para compor as matizes de suas fotografias. Ele fala de algumas fotografias feitas em Mosqueiro, como “Vendedor de Balões”, de 1990, revelando que é como “olhar para as nuvens e saber que elas se transmutarão para um cinza violeta no resultado final”. Ou mesmo que “os capim-marinhos da praia do Farol explodirão em verde banhados pela luz de vapor de mercúrio que aguardei acender”, referindo-se à fotografia “Babá Patchouli“, de 1986.

Por conta das pesquisas técnicas na linguagem fotográfica, explorando principalmente as fontes de luz, Luiz Braga é considerado hoje um dos principais coloristas da fotografia brasileira. Ele ministra a oficina “Margem da Cor”, de hoje até o dia 10, como parte da programação do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. As inscrições estão encerradas. Durante a oficina, ele vai realizar atividades que mostram o uso da cor como forma de expressão artística na linguagem fotográfica, fazendo um breve percurso pelo próprio trabalho. Além disso, Luiz mostrará como é possível realizar diferentes efeitos obtidos por meio da utilização e do conhecimento de diferentes fontes de luz, naturais ou artificiais, e suas temperaturas em situações do cotidiano. “Vou exibir exemplos dessas situações onde a cor foi usada com precisão e vai haver um dia para tomadas no ambiente livre da cidade”, antecipa o fotógrafo. Além disso, ele aconselha: “a cor é parte integrante da linguagem e por isso não deve ser usada de forma gratuita ou abusiva”.

NIGHT-VISION

Inquieto, Luiz Braga começou também a sondar novas perspectivas poéticas na linguagem fotográfica com o uso de tecnologia digital. Há pelo menos cinco anos ele pesquisa técnicas para criação com o modo “night-vision”, dispositivo para fotografias em ambiente escuro. Atualmente ele desenvolve o projeto “Verde-Noite, 11 raios na estrada nova, fotografia, night vision”, por meio do prêmio Marcantônio Vilaça, da Fundação Nacional de Artes (Funarte). São 11 imagens na já conhecida Estrada Nova, endereço que ele já conhece bem, em um percurso que abrange desde a Universidade Federal do Pará até o Mangal das Garças. “É onde se concentra o modo de vida ribeirinho e resolvi fazer uma revisita, usando a técnica que o Paulo Herkenhoff definiu como ‘night vision’, que são imagens de visão noturna adaptadas para a câmera fotográfica e que produzem um efeito que subverte a realidade”, diz. “A proposta do prêmio, cujas imagens realizei há três semanas, foi de retornar a esse lugar de descobertas e de encantamento. O que me deixou muito triste foi perceber que muito daquele encanto foi soterrado pela violência que cada vez mais domina um lugar onde antes eu caminhava despreocupado em busca de luzes e gestos”, lamenta.

As obras produzidas dentro do projeto ‘Verde-Noite’ farão parte do acervo do Museu das Onze Janelas e vão compor a primeira coleção de fotografias de Luiz Braga no Estado.

FOTOGRAFIA, LUZ E COR

Para conseguir a cor ideal em uma fotografia, deve-se observar com muito cuidado as fontes de luz disponíveis. O sol e as demais fontes artificiais de iluminação interferem diretamente no padrão da tonalidade da foto. Certamente você já notou diferenças quando saiu para fotografar em diferentes horários do dia. No início da manhã ou final de tarde, matizes avermelhadas tendem a aparecer; se a fonte for uma lâmpada doméstica, o efeito é um alaranjado, e com lâmpada fluorescente, azulado ou ainda esverdeado. O sol, ao entardecer, apresenta uma dominante vermelha, enquanto que o mesmo sol, ao meio-dia, terá aos olhos do filme colorido, uma intensidade maior de azul. As nuances diferenciadas aparecem justamente por conta das diferentes fontes de luz, que emitem gradações de cores dominantes, que podem variar do violeta ao vermelho, dependendo das suas características.

SALÃO

A Mostra Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, com as obras dos 25 artistas selecionados, segue em cartaz até o dia 30 deste mês no Museu da UFPA. O salão presta ainda uma homenagem aos fotógrafos Dirceu Maués e Cláudia Leão, que participam do projeto como artistas convidados e expõem trabalhos inéditos em Belém. A entrada é franca.

PARA SABER MAIS

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