Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Tempos religiosos 66 - Belmonte, Manteigas e Valhelhas

 * Victor Nogueira

Belmonte, Manteigas e Valhelhas

Serra da Estrela

A neve parece esferovite e de vez em quando um tipo enterra-se até aos joelhos. Antes do cume a serra é negra, salpicada de branco; no cimo é um manto branco, que o nevoeiro confundia, tornando fantasmagóricos os vultos. Estava frio, mas suportava-se. Encontro-me num café da Covilhã   que parece um do Porto, enquanto as ruas lá para trás lembravam Sintra. Almoçámos no Fundão, na Escola Secundária, um prédio de habitação adaptado - onde as pessoas tinham um ar seráfico e beatífico, falando com um sotaque de seminaristas, padres ou de freiras de Santa. Zita; - será que a maioria deles são destas bandas? - As miúdas desta região têm um ar rude ou agreste - serrano ? - Demos liberdade aos miúdos e até agora não tem havido problemas. Estou é maçado, pois a camioneta não é cómoda e por causa da reunião na Escola só me deitei às 3 da matina para levantar-me às 5 1/2. (MCG - 1975.02.26) 

(...) Perguntas-me se gostei da Serra?   Digo-te: vira o postal, e diz-me se essas pedras negras e essa erva amarelecida têm alguma beleza ou alegram o espírito! Imagina esta paisagem embranquecida pela neve, por entre rochas negras! E vai daí compreenderás que tenha arrefecido um pouco o meu entusiasmo... pela Noruega. (MCG - 1975.03.05)

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Muita casa abandonada e arruinada na encosta. Encosta agreste, despida, com estrada serpenteante embora com guardas, bordejada por enorme precipícios, como na Madeira. Grandes e rudes afloramentos graníticos, um deles parecendo uma tartaruga. De repente um sítio frondoso com grande casa arruinada (hotel ou sanatório?)

Pequenos chalets nas Penhas da Saúde

Nos ouvidos começo a sentir a pressão e o zumbido das altitudes. Na encosta um memorial aos trabalhadores mortos na construção da estrada.

A Torre é uma zona ventosa, com vegetação raquítica. Duas construções, de forma cogumélica, que pertenceram ao Centro de Radares da NATO que funcionou aqui até 1971. Centro Comercial com “recuerdos”, enchidos, mel e queijo, mas fechado à hora que chego. Estou a cerca de 2000 m de altitude. (Notas  de Viagens 1998.07.09)

Vale glaciário do Zêzere

Encosta contrastante com a meridional, arborizada, havendo um  pequeno riacho de águas rumorejantes e um nicho. Rebanhos de cabras e casas de colmo. Numa curva da estrada um tendeiro vende chapéus de coiro, enchidos e queijo, acompanhado dum enorme cão. (Notas  de Viagens 1998.07.09)


Belmonte



Igreja de Santiago e Panteão dos Cabrais

Monumento de traço romântico, foi sofrendo modificações ao longo dos tempos, apresentando alguns elementos góticos e maneiristas. Foi talvez construída em 1240, por intermédio da D. Maria Odil Cabral, por disposição de D. Gil Cabral. No interior do monumento, pode observar-se uma Pietá, em granito e policromática e pinturas murais, pelo menos de duas épocas, encontrando-se vestígios de um tríptico construído por figuras que representam Nossa Senhora, São Tiago (orago) e S. Pedro.

Adossado à Igreja está o Panteão dos Cabrais, ainda em construção em 1483. A renovação deste deve-se a Francisco Cabral, primeiro Alcaide de Belmonte após a Restauração, como a ele se devem alguns dos túmulos renascentistas ali existentes (1630). Situada num dos caminhos portugueses de peregrinação a Compostela, a Igreja de Santiago seria um local, onde os Peregrinos encontravam um conforto espiritual no decurso da sua jornada. (in https://cm-belmonte.pt/diretorio/igreja-de-santiago-e-panteao-dos-cabrais/)





Castelo, Paço dos Cabrais e cruzeiro
 
Janela da antiga Casa da Câmara


Janela manuelina



Brasões do Cabrais


Belmonte no horizonte

A vila de Belmonte teve foral em 1199 e está situada no panorâmico Monte da Esperança (antigos Montes Crestados), em cujo morro mais rochoso foi construído nos finais do séc. XII o seu castelo que juntamente com os castelos de Sortelha e Vila de Touro, formaram até à assinatura do Tratado de Alcanices (1297), a linha defensiva do Alto Côa, apoiada na retaguarda pela muralha natural da Serra da Estrela e pelo Vale do Zêzere.

A bravura e a lealdade da família dos Cabrais, foi sempre lendária e temida, sobretudo a do seu primeiro Alcaide-mor – Fernão Cabral, que uma vez nomeado a título definitivo e hereditário, em 1466 por D. Afonso V, transformará o castelo numa Residência Senhorial Fortificada, onde seu filho Pedro Álvares Cabral viverá os seus primeiros anos de vida. (Wikipedia)


Torre de Centum Cellas, um  conjunto de ruínas romanas que remonta o século II


Caria - Capela de Santo António

Acredita-se que a Capela de Santo António seja a mais antiga, tendo sido construída entre o século XV e o século XVII, e que a Capela do Calvário date do século XIX. Na Capela de Santo António são ainda visíveis as armas das famílias Queiroz, Gouveia e Cabral.

Belmonte 
Na vila, castelo em obras, com janela manuelina e torre de menagem. Três igrejas, tendo a matriz (de Santiago) uma um torre sineira lateral separada e outra o panteão dos Cabrais. Lenda do pastor.

Centro  histórico - Judiaria, pelourinho, casas de granito. - Refúgio dos judeus perseguidos no século XVI, que mantiveram as suas tradições. Fotos da vila ao longe, brasões, igreja  matriz e torre sineira


Centum Cellas
Perto uma construção de aspecto insólito, vestígio de origem romana, de aspecto rude e deselegante, com as fachadas esventradas de portas e janelas: a chamada torre de Centum Cellas.


Caria 
Situa-se na margem esquerda da  ribeira homónima e na freguesia do Casteleiro. Perto as termas de água rádio (Águas Radium), muito radioactivas.

Foto da capela. Igreja matriz com nada de especial. Capela com púlpito exterior. Janelas manuelinas. Casas antigas. Casa brasonada  com  capela privativa. Casas de pedra aparelhada e com escadaria exterior.

Toponímia: Ruas do Açougue, Direita, do Forno, do Canto, do Jacinto, das Lameirinhas, da Fonte do Prior. Travessa das Lameirinhas.

Nesta zona há muitas árvores em pequenos agrupamentos  e erva seca e grandes extensões de terreno plano, com pequenas elevações no horizonte, e muitos rebanhos. Ponte estreita e  comprida, com semáforos, atravessando o milheiral

De Caria para o Sabugal a estrada está coberta pelas árvores, que formam aprazível túnel verdejante. Para além de milho os campos têm videiras  e árvores de fruto para além de se verem algumas ovelhas pastando e fardos de palha aguardando o transporte.



Manteigas


Igreja de Santa Maria e coreto

Vista geral

Igreja de S. Pedro e coreto 

Coração da Serra da Estrela” - surge lá no fundo do desfiladeiro. cercada de altas montanhas.  Duas igrejas, uma em cada extremo, cada uma com seu coreto. Casas brancas, janelas de guilhotina, caiadas e degradadas. No centro histórico  as ruas são muito estreitas, com 2/3 pisos, o granito coberto por cal branca. O tempo não chega para visitar as “maravilhas” naturais. Fica na margem do Rio Zêzere. (Notas  de Viagens 1998.07.09)


Valhelhas








Igreja de Santa Maria Maior e pelourinho



Capela de Santo Antão

Capela datada de 1577, composta por uma planta longitudinal simples, com um alpendre e uma nave. Apresenta coberturas diferenciadas, em telhado de três águas no alpendre, e em telhado de duas águas na nave. A fachada principal é em cantaria, sendo rasgada por um portal de arco de volta perfeita. (in All about Portugal)




Brasões de armas

Na margem arborizada  do rio Zêzere. Outrora terá sido importante povoação, pertencente à  Ordem dos Templários. Largo com chafariz de duas bicas, pelourinho e igreja com campanário, de granito e com escadaria exterior. Algumas casas de  2 pisos são de granito, não caiado. Gente nas esplanadas da Praça Dr. José de Castro. No chafariz uma citação de Corrêa Garção: “Que eu desta glória ficarei contente / Se a minha terra amei e a minha gente.” Houve um castelo que foi demolido e as pedras aproveitadas para outras construções como a cerca do cemitério, como demolido foi o convento após a extinção das ordens religiosas.

Rua do Castelo, travessa do Castelo, que foi mas já não existe. Parte da pedra é o muro do cemitério  e outras foram utilizadas em prédios da vila. Em  muitas localidades se deu este “aproveitamento”, por necessidades de expansão  urbana ou para angariar receitas para o município. Em Serpa a falta de compradores preservou as muralhas. Capela de Santo André, com galilé e púlpito exterior.  (Notas de Viagens  1998.07.10 /11)

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