Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 13 de novembro de 2021

Templos religiosos 63 - Braga

 * Victor Nogueira

Braga - Estação ferroviária perto do centro histórico, que agora ficou excêntrico face ao desenvolvimento urbano. Porta Nova, dando acesso ao centro histórico e ligando a outra praça, no outro extremo. Edifícios característicos, predominando o granito nos cantos ou em todo o edifício, e janelas de guilhotina. Ruas relativamente largas. Fachadas em pedra trabalhada, poucas c/ azulejos. Sé com duas torres sineiras, não com telhados mas sim com espécie de coros. Obras em parte da parte velha -» calcetamento -» rede de ferro coberta com cimento. Tábuas para peões passarem. 

Largo do Conde de Agrolongo - em tudo o que é beiral e cornija dormem pombos à noite. Estátua de bronze com verdete, do Marechal Gomes da Costa, olhando em frente, botas de cavalaria, o pé direito sobre uma pedra, em pose de caçador, pingalim na mão direita - resistiu ao 25 de Abril, tal como a ponte Marechal Carmona, em Vila Franca de Xira. Lar do Conde de Agrolongo, emigrante no Brasil no século XIX

Aqui foi o antigo campo da vinha, rectangular, com enorme edifício numa face, noutra uma igreja e convento e nas duas restantes casas como no Porto antigo. Edifício "moderno", dissonante, espelhado, no centro, da Pizza Hutt. Estacionamento subterrâneo.  Janelas com molduras brancas de madeira, trabalhadas. 

No alinhamento da avenida central, arborizada, lá ao fundo, o monte verdejante do Bom Jesus. Nesta avenida edifícios pesados, de granito. Um tem dois cães alados. É a rua das sapatarias e da moda. Café Sporting em frente à Casa do Benfica. (Note-se que perto do Hotel da Estação fica o Café ... Benfica).

Em vez de adufas as janelas têm gradeamento de ferro trabalhado até meia altura. 

Fonte do Raio - acesso temporariamente interdito, por motivo de obras. Nas fotografias parece-me esteticamente desinteressante. Só vi verdura e o rumor de água a correr. Ao lado será instalada a videoteca municipal, num edifício também em obras.  A seguir ao edifício "rocaille" fica o Largo Carlos Amarante - 2 igrejas - uma pertencendo ao antigo Hospital de S .Marcos - e uma fonte estilo obelisco. 

Não há livrarias no Centro, onde se situa a Universidade do Minho (!). Igreja do Carmo, insólita com a sua torre sineira central. Igreja da Senhora a Branca, com  azulejos na fachada - no interior o padre celebra a missa para um único assistente, um miúdo. Igreja de S. Victor, com duas estátuas na fachada, talha dourada no interior, azulejos historiados; a assistência à missa é mais numerosa.

Rua dos Chãos, 48/50. Igreja de S. Vicente (fachada e interior). Rua de S. Marcos (Casa das tabuinhas) Porta de S. Tiago e Igreja dos Jesuítas, despojada face ao barroquismo da maioria das restantes igrejas.

Rua D. Frei Caetano Brandão - casa com torre "romântica" + 3 casas.

À confusão da cidade moderna, o sossego do centro histórico merece referência. O que deveria ser talvez designada por Rua Direita dá origem às ruas D. Diogo de Sousa e do Souto, ligando respectivamente o Campo das Hortas (e Arco da Porta Nova) ao Largo do Barão de S. Martinho (Café a Brasileira) e à Praça Central. Paralela, uma rua mais pequena, de D. Paio Mendes, no topo da qual se encontra a , como que “encravada” nos edifícios. Fundada pelo Conde D. Henrique e anterior à fundação de Portugal, foi embelezada por sucessivos arcebispos que nela também queriam deixar marca e memória, numa simbiose de vários estilos, desde o românico ao gótico passando pelo barroco. 

Na praça do Município destaca-se o barroquismo do edifício dos Paços do Concelho tendo defronte o antigo edifício do Paço Episcopal, hoje arquivo e biblioteca municipal. No interior do edifício municipal painéis de azulejos representam e perpetuam a memória de monumentos já desaparecidos. A praça, outrora dos Arcebispos e depois dos Touros, das touradas a que os prelados assistiam das sacadas do seu palácio, é hoje ajardinada, com a Fonte do Pelicano ao Centro. Outra Fonte se encontra no Largo do Paço, quase defronte da Igreja da Misericórdia e numa reentrância da Rua m. Diogo de Sousa. Aliás fontes é que não faltam no centro histórico. Não faltam fontes e largos, diga-se em abono da verdade, consequência da demolição de prédios que atravancavam a cidade e os caminhos, cada bispo procurando fazer mais, melhor e mais lindo que o seu antecessor. 

Contudo na Sé nem sempre os resultados  terão sido os melhores: o actual claustro é pobre, o frontal do altar mor, em pedra de anção, com delicadas e expressivas figuras, é apenas uma parte do primitivo que se perdeu, os túmulos dos fundadores do condado portucalense foram desalojados para que o sítio albergasse a nobre capela mortuária dum  bispo. Também o claustro não tem grandeza, substituindo o primitivo românico, e nele se encontram várias capelas tumulares, entre as quais as de D. Teresa e D. Henrique. Aliás são de referir pela sua beleza os túmulos do Príncipe D. Afonso (gótico-flamengo), do conde D. Henrique (sec. XVI), do Bispo D. Gonçalo Pereira (séc. XIV). Por um pátio exterior acede-se à chamada capela de S. Geraldo, sob cuja arca tumular se encontra o corpo incorrupto do bispo homónimo.

O recheio do Museu de Arte Sacra, anexo, é exemplificativo do luxo e sumptuosidade que cercavam a maioria dos bispos bracarenses, contrastando com a pobreza doutros bispados como os de Castelo Branco ou da Guarda.

Na referida rua do Souto, ladeada pelo comércio, se realiza pela Semana Santa uma impressionante procissão, com homens vestindo de negro, encapuzados, batendo matracas e transportando fogaréus. Ou não tivesse sido Braga conhecida como a Cidade dos Arcebispos ou a Roma Portuguesa.

Para lá da Praça do Município, a NNE,  um novo jardim, de Santa Bárbara, florido, com fonte e ruínas góticas. (foto à rua Eça de Queiroz, nocturna). Para NNO o Campo de Agrolongo, outrora da Vinha, onde coexistem edifícios antigos com mobiliário urbano moderno e, ao centro, um dissonante edifício espelhado para mais um restaurante de “pronto-a-comer de plástico”. Espelhos de água e esculturas de pedra, abstractas, convivem com uma estátua do General Gomes da Costa, de botas de cavalaria, que daqui partiu em alegre passeata até Lisboa onde ajudou a pôr termo à I República, substituída pelo Estado Novo, inspirado no fascismo italiano. Nesta praça destacam-se um longo edifício, o asilo do Conde de Agrolongo, de seu nome José Francisco Correia, “brasileiro” enriquecido de torna-viagem que desta maneira perpetuou a memória do seu nome e da sua existência, doutro modo condenados ao anonimato. E mais igrejas, como as do Salvador e o convento do Pópulo.

Do castelo, demolido em 1906, restam apenas três torres, uma delas a de Menagem, pouco visível, por detrás do edifício de arcarias que dá para a Praça Central onde começa a Avenida dos Combatentes, onde se construiu a cidade dos séculos XIX e primeiro quartel do seguinte. Mais para cima, na rua dos Chãos e na rua de Santo André as fachadas das casas estão recobertas de azulejos polícromos, contraste com a escuridão pesada dos edifícios de granito. Mas também na parte velha a Casa dos Coimbras, deslocada do seu chão primitivo, é um contraste, com as suas paredes brancas, os cunhais de cantaria e as janelas manuelinas profusamente decoradas, as suas singelas portas góticas.


Perto a Casa dos Crivos ou das Rótulas, com a fachada coberta de janelas de madeira de tabuinhas ou gelosias, que outrora - nos séculos XVII e XVIII seriam comuns, artefacto mais para proteger as mulheres dos olhares indiscretos dos passantes do que propriamente para aliviar dos rigores da quentura estival, atendendo ao clima da região. O nome da movimentada rua em que se encontra, de S. Marcos, (fotos) resulta do facto de desembocar no Largo Carlos Amarante, antigo Campo dos Remédios, da igreja e convento homónimos demolidos, onde se encontram ainda várias igrejas, uma delas do hospital de S. Marcos e outra de Santa Cruz, com fachada granítica barroca  profusamente decorada. Diz a lenda que quem encontrar rapidamente os dois galos esculpidos na fachada mais depressa se casará.

Perto fica o Palácio do Mexicano ou Casa do Raio, obra prima do rocaille, que surpreende pelo azul forte da sua fachada barroca, nesta cidade granítica de pedra escura e pesada. Não podemos visitar a fonte romana do Ídolo ou do Raio, por se encontrar o respectivo espaço em obras.

Não há na cidade velha memória dos saborosos topónimos de outrora. Reparo apenas nas Ruas das Capelistas, dos Chãos e da Violinha, esta estreita e adossada ao que resta da antiga muralha, tão estreita que o sol nela não penetra e os vizinhos se tocam com os da fachada defronte.

Contrastante e prosseguindo a viagem a partir da Fonte do Ídolo, desembocamos na Avenida da Liberdade, oitocentista, que parte da Avenida dos Combatentes. Naquela apenas trânsito e bulício, nesta o relativo sossego duma longa placa central ajardinada, na qual se encontra um coreto. (Notas de Viagens 1998.06.03)



Igreja de S. João do Souto e Capela dos Coimbras (rolo 349)



Igreja da Lapa e antiga torre de menagem


Basílica dos Congregados



Igreja de S. Victor

Capela de N. Sra das Neves ou da Senhora a Branca


Igreja de Santa Maria do Povo (Pópulo)


Igreja de S. Marcos






Igreja de S. Vicente




Igreja de S. Paulo e Capela de N. Sra da Torre


(foto jj castro ferreira)


Sé Catedral

Igreja de S. Frutuoso -  Situada nos arredores de Braga, na freguesia de S. Jerónimo do Real., o que resta da capela bizantina são a cúpula e uma das quatro naves. .Adossada uma igreja mais recente, do Convento de S. Francisco, em cujo coro está um cadeiral renascentista proveniente da Sé de Braga. Não é permitido tirar fotos - o que de resto sucede na maioria das igrejas do Norte, por decisão dos respectivos párocos. No exterior um cruzeiro e uma fonte de carranca.(Notas de Viagens 1998.06.07)









Igreja de S. Francisco de Montélios, Capela de S. Frutuoso e cruzeiro

Cemitério de Real (Montélios)

De Braga fomos ao Sameiro, que é bonito. Não gosto muito do estilo do Santuário.  Fomos depois ao Bom Jesus, que é muito bonito, com tudo arborizado, havendo água por todo o lado. Interessantes as capelas com imagens [conjuntos escultóricos] da vida de Cristo. Braga é uma cidade com bastantes edifícios modernos. Recentemente os eléctricos foram substituídos por trolley carros. As estradas estão bonitas, os campos cobertos de verdura e as bermas com umas flores chamadas "granjas" (1963.07.06 - Diário III) 

Outro santuário é o da N. Sra do Sameiro, nos arredores de Braga, no alto dum monte, com um templo de traça desinteressante e uma vista deslumbrante pelas cercanias. (Memórias de Viagem, 1997) 


Francisca CB no Santuário da Imaculada Conceição do Monte do Sameiro  (1945 03)

Sem comentários: