Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Templos religiosos 28 - Azurara - igrejas

 * Victor Nogueira

Azurara foi sede de concelho até ás reformas admnistrativas liberais.do século XIX. A vila havia recebido foral do conde D. Henrique (confirmado por D. Afonso) ainda em 1102. Com Vila do Conde era um importante porto marítimo cujos estaleiros navais deram um notável  contributo para os descobrimentos portugueses. Apesar disso, ao contrário de Vila do Conde, não teve foral manuelino. Mas a passagem de D.Manuel em peregrinação, a caminho de Santiago de Compostela, teve como consequência a autorização para a construção duma Igreja, a de Santa Maria a Nova, em substituição do templo anterior (Nossa Senhora da Apresentação). No seu adro encontram-se o cruzeiro e o pelourinho (século XVI), este defronte da antiga Casa da Câmara, sede actual da Junta de Freguesia. 

A vila possuia uma Santa Casa da Misericórdia, fundada em 1566, com a Igreja de S. Nicolau e o Hospital de S. João.


Igreja de Santa Maria a Nova












Escudo de D. Manuel I



 

(VIII Centenário da Fundação  / III da Restauração da Independência / 1940)

Cruzeiro

Em 1502 a população de Azurara, aproveitando a passagem de D. Manuel por aquelas terras, solicitou-lhe permissão para edificar uma nova igreja paroquial, que substituísse a então existente.   A cruz e latina, de braços largos, sendo os três superiores rematados em flor-de-lis. Nas faces anterior e posterior ficam as imagens de Cristo e da Virgem, o primeiro em posição hierática, com a face voltada para a esquerda e os pés assentes na peanha, e a última de mãos postas. Ambas as imagens são de talhe algo ingénuo, bastante rígidas e inexpressivas, apesar de alguma atenção ao talhe dos panejamentos.

«A construção da nova matriz, dedicada a Santa Maria a Nova, ter-se-á iniciado nesse mesmo ano, tendo sido provavelmente terminada em 1522, data de conclusão do espaço da capela-mor O templo tem grande semelhança com a Igreja de S. João Baptista, em Vila do Conde,

A estrutura manuelina, de grande sobriedade, é decorada com um portal principal decorado com motivos de grotesco, cujo conjunto é rematado por um nicho com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação, vinda da primitiva capela de Azurara com a mesma designação. Este conjunto de linguagem ao romano derivou certamente dos modelos traçados na Matriz de Caminha, e que a partir das primeiras décadas do século XVI se alastraram a todo o Noroeste português.

Do lado esquerdo da fachada foi construída no final do século XVII a torre sineira, com balcão no segundo registo e oito aberturas sineiras no topo, cujo modelo é decalcado da torre da matriz de Vila do Conde, edificada pelo mestre João Lopes o Moço durante a década de 80 do século XVI. » (Catarina Oliveira, IPPAR/2005)

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No adro defronte do templo encontra-se o cruzeiro, manuelino, similar a outros que tenho encontrado nas minhas andanças, como em Óbidos, Mértola e Cabeço de Vide: as faces anterior e posterior da cruz que encima a coluna são decoradas com as imagens de Cristo e da Virgem.


Pelourinho e antiga Casa da Câmara



Pelourinho 


Casa da Câmara


Escudo de D. Manuel I
 

Igreja de S. Nicolau (Santa Casa da Misericórdia)



Igreja da Misecórdia, gravura em  "O Archeologo Português" , 1911





















Hospital de S. João (Misericórdia)



«À semelhança do que aconteceu por todo o reino ao longo do século XVI, estas duas povoações [Vila do Conde e Azurata] viram crescer no seu meio urbano as Misericórdias, irmandades de carácter assistencial, com estatutos a nível nacional, que habitualmente se afirmavam como o mais poderoso grupo urbano em todas as cidades e vilas em que eram fundadas.

A Misericórdia de Azurara foi fundada em meados do século XVI, e autorizada por carta régia de D. Sebastião, escolhendo para sua sede a capela pertencente à Confraria de Nosso Senhor dos Passos, que devido às suas reduzidas dimensões foi então ampliada pela irmandade, sendo a traça também transformada.

Cerca de 1604 o piloto Francisco Gonçalves Vila Chã e sua mulher mandaram construir, a expensas próprias, uma nova capela-mor, onde mais tarde seriam sepultados em campa rasa. Para além desta obra, legaram à irmandade a casa para o hospital, dotando-o com rendas para permitir o funcionamento do mesmo.(...)  A igreja apresenta uma fachada eclética, que combina elementos de diferentes campanhas de obras. Mantém alguns elementos seiscentistas de modelo chão, como o portal principal e a estrutura vertical da fachada, que no século XX foi revestida a azulejos. O conjunto é rematado em empena e lateralmente foi edificada a torre sineira, com porta, que interiormente se prolonga pela nave. » (Catarina Oliveira, IPPAR/2005)

"O Archeologo Portiguês", 1911 

1_azurara.pdf

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