Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Monumentos ao 25 de Abril

 * Victor Nogueira

As fotografias que se seguem referem-se a três monumentos comemorativos do 25  de Abril, a saber: 25 anos da Revolução de Abril, do escultor João Cutileiro (Lisboa - 1999), Monumento à Resistência Antifascista, à Liberdade e à Democracia, do escultor José Aurélio (Setúbal - 2005) e Monumento ao 25 de Abril e às Nacionalizações, dos escultores Virgílio Domingues e António Trindade (Setúbal - 1985). No final figura uma hiperligação ao Monumento a Humberto Delgado, na Cela (Coutos de Alcobaça), do escultor alcobacense José Aurélio  (1975).

Escreveu Alexandre Pomar: «João Cutileiro construiu uma fonte no cimo do Parque Eduardo VII. A evocação e homenagem ao 25 de Abril só podia ser um antimonumento.  (...)  Para Cutileiro, «o 25 de Abril é anti-monumental por definição», no acto do derrubar um regime imóvel e autoritário (como um monumento) e de recolocar um destino colectivo nas mãos de um povo. E a sua intervenção de escultor também não quis ser um monumento no sentido tradicional de consagração formal de um momento congelado no tempo, de sacralização da distância entre os símbolos de um poder, divino ou heróico, e o espaço comum da cidade. A sua «Evocação do 25 de Abril», título presente na necessária lápide inaugural, é bem uma fonte, tipologia construtiva que põe em evidência quer o significado da permanente agitação da água em movimento quer a ideia de que «a fonte é a origem» (J.C.).

A abordagem dos emblemas formais e dos seus sentidos seria inesgotável: a fonte e o cravo, o derrubar de uma forma prévia autoritária, a ideia de inacabamento de um processo em construção, a recusa de uma «mensagem» escrita (mas estão lá sinais de trabalho trazidos da pedreira), a mobilidade da água, a forma fálica presente em qualquer obelisco ou coluna, e que aqui remete para a configuração dos megalitos alentejanos. E teria ainda de prolongar-se com absoluta coerência no equacionar da problemática da escala.

A opção do escultor foi a de contrapor uma dimensão humana ao gigantismo autoritário das colunas pré-existentes, transformando um lugar votado à representação do poder (com maiúscula, tal como em algumas concepções da arte) num espaço de uso público, de lazer e de prazer. Os degraus que limitam um dos lados do lago são um convite directo a mergulhar os pés na frescura da água corrente; o arranjo do espaço envolvente é propício à permanência, inventando uma praça num lugar privilegiado da cidade mais ainda inóspito. Às memória romanas que as colunas transportam, com sentido imperial, contrapõe-se a lembrança das fontes de Roma, mas despidas das suas mitologias de Neptunos e sereias, que também não poderiam ter lugar na evocação do 25 de Abril.» (in   Cutileiro, Evocação do 25 de Abril - Alexandre Pomar)




Fotos Victor Nogueira Lisboa (Parque Eduardo VII - escultura 25 anos do 25 de Abril, por João Cutileiro  (rolo 237 - 1998 05))

O monumento comemorativo dos 25 anos da Revolução de Abril fica situado no cimo do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Concebido a partir do pedestal destinado à estátua equestre do Santo Condestável, este conjunto escultórico é constituído por fragmentos de pedra, por vezes em bruto. Quer a partir do núcleo vertical, quer sobre as traves corre a água de uma fonte aí instalada.  O núcleo desdobra-se por outros pedaços de pedra que se dispersam pelo espelho de água, onde a obra se localiza. Em frente a este núcleo, sobre um plinto em dois patamares, encontra-se um outro elemento cuja coloração e discurso formal o aproxima da estilização de um cravo.






Fotos Victor Nogueira - Setúbal (Avenida Luísa Todi) - Monumento à Resistência Antifascista, à Liberdade e à Democracia, do escultor José Aurélio, inaugurado em 25 de Abril de 2005. "Aos resistentes que com a sua acção lutaram e lutam contra o fascismo, pela Liberdade, pela Democracia e pela Paz. 25 de Abril sempre!".

O monumento é constituído por três tetrapodes de ferro, idênticos aos que são utilizados na protecção das zonas portuárias e costeiras, que serão amarrados com centenas de metros de cordas e correntes, pesa mais de 10 toneladas e tem cerca 12 metros de altura.

O projecto, elaborado nos anos '70 mas nunca concretizado, foi oferecido pelo escultor José Aurélio à Câmara Municipal de Setúbal na sequência do interesse manifestado por uma comissão pró-monumento, que se propôs homenagear os antifascistas setubalenses que lutaram contra o antigo regime do Estado Novo.

Para o autor, José Aurélio, os tetrapodes, que resistem ao avanço da mar nas zonas costeiras, simbolizam a resistência ao regime totalitário e as cordas e correntes representam o elemento humano, essencial a essa resistência.  Na base pode ler-se: "Aos resistentes que com a sua acção lutaram e lutam contra o fascismo, pela Liberdade, pela Democracia e pela Paz. 25 de Abril sempre!".(in https://momentoseolhares.blogs.sapo.pt/197130.html)





Fotos Victor Nogueira - Ao centro da rotunda da Praça de Portugal, em Setúbal, ergue-se o Monumento ao 25 de Abril e às Nacionalizações.  É constituída por um cubo, pintado a azul, que simboliza a solidez e estabilidade das estruturas do Estado, e por um conjunto de lâminas vermelhas que evocam a força e a criatividade laboral.

O monumento resulta de três mil horas de trabalho voluntário dos operários dos Estaleiros Navais da Setenave para financiar a criação artística dos escultores Virgílio Domingues e António Trindade e do arquitecto Rodrigo Ollero, inaugurada a 1 de Outubro de 1985. A escultura ostenta no topo a palavra “Abril”.

O projecto foi escolhido através de um concurso público lançado pelo município de Setúbal, em Março de 1985, ao qual se candidataram oito projectos. Segundo o júri, “a qualidade plástica, a melhor adequação aos materiais propostos e a exequibilidade foram as principais razões, que contribuíram para a escolha da candidatura por unanimidade”. (in https://newinsetubal.nit.pt/na-cidade/cubo-a-arder-a-historia-do-monumento-mais-polemico-de-setubal/)


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