Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 8 de março de 2022

Fotos de capa em março 08 - dia internacional da mulher

 * Victor Nogueira


2022 03 08 - Dia Internacional da Mulher - Refugiados do Iraque e do ISIS


Fernando Pessoa - O MENINO DA SUA MÃE
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No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —
Jaz morto, e arrefece.
.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
.
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
.
s. d.
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 217.
1ª publ. in Contemporânea , 3ª série, nº 1. Lisboa: 1926.

.https://tvi24.iol.pt/internacional/iraque/fugiram-ao-estado-islamico-mas-perderam-quase-tudo



2022 03 08 Dia Internacional da Mulher cartoon

VER

António Gedeão - Calçada de Carriche


2021 03 08 100 Mil Anos de Lutas Mil - Álvaro Cunhal - Desenhos da prisão


2020 03 08 Foto victor nogueira. em Évora, no 21 - 2º dto da Rua Serpa Pinto.

Aqui os livros eram menos, e ainda se vê o nicho de que falei em post anterior. Muitos dos objectos ainda existem: o pote alentejano, (oferta dum casal amigo, os Armindo Gonçalves),a xilogravura do meu irmão, o candeeiro (agora no Mindelo), o gira-discos (emprestado ao Rui Pedro), o garrafão de cerâmica (agora com a Susana). e o armário, desenhado por mim.
A escultura em madeira no nicho (oferta do meu irmão) entretanto e há uns anos foi por mim oferecida a uma pessoa amiga, aqui no prédio onde actualmente moro. O gravador portátil, esse há muito que foi para o lixo.
Embora as estantes fossem de metal, a junção das varas verticais eram frágeis, em plástico, e com tantas mudanças, um dia, já aqui nesta casa em Setúbal, ao remontá-las com a ajuda do meu amigo Gilberto Santos, desabaram. De repente disse: "Gilberto, isto vai cair" e só houve tempo de nos afastarmos e para não termos ficado debaixo dum monte de livros e ferros retorcidos.


2019 03 08 Foto victor nogueira - Alcácer do Sal - Monte da Arouca (Enidade Colectiva de Produção Soldado Luís) - 1975 - arrozais


2018 03 08 Foto victor nogueira - Rio Ave e Azurara vistos de Vila do Conde, ao entardecer


Setúbal - pôr-do-sol

2017 03 08 * Victor Nogueira - CANTILENA COM MAU GOSTO

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Quem quer ver a moça bela
Que na rua vai passando,
Florida, com sentinela,
0 meu sossego roubando?
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0 meu sossego roubando
Sem leveza d'andorinha,
Em má prisão esvoaçando
Não te vendo, Oh! sinházinha!
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Não te vendo, oh! sinházinha,
Um deserto vai nascendo;
Bem longe da minha vinha
Por ti mal, vou fenecendo,
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Por ti mal, vou fenecendo
Nesta casa sem calor;
Não quero ficar sofrendo
Como trigal sem verdor,
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Como trigal sem verdor
Não me deixes tu ficar;
É bom ter calma d'amor
No mar alto a navegar,
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No mar alto a navegar
Remando àquele porto,
Com roussinol a cantar
Mui cantante, sem desgosto.
.
Mal cantante, com desgosto,
Vou deixando de cantar;
Ficando mal, mal disposto,
Pela companh'a a fugar!
.
1992


2016 03 0 - Foto victor nogueira - campos do Alentejo, depois do incêndio

ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE
Lembro a tua lábia, seio moreno,
Tua feição que muito me agradou;
A pele, doce ardor despertou
Que na barca me fez vogar, sereno,
Porém não está o meu coração pleno
De alegria, que por vós soou:
Nem grã Camões ou milionário sou
Para contigo navegar, no Reno.
Erros meus, má fortuna, amor ardente,
Não fazem da jornada bom soneto
Nem do navegante melhor "gineto"
Pois em ti está meu pensar, descontente'
Assim na Luísa Todi jazente,
Vogando entre o lume e o espeto,
Bem vivo, com meu bom ou mau "aspêto"
Buscando tua razão e paz, somente.
setúbal 1989.09.10
CANTAI OLIVAIS, CANTAI DE ALEGRIA
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Oh! Mil-Sóis, teu aspecto bem cativa;
O andar, o sorriso radiante,
Doce, valerosa como diamante,
Que pena tu pareceres tao altiva.
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Pode a tristeza andar-me fugitiva
Se tu, trigueira, de ar tão sonante,
Me pões em terra, mal esvoaçante,
Sem por isso ficares pensativa?
.
Há bem grande alegria se te vejo
Nesta minha sala, mesmo calada,
Com teu jeito manso e delicado.
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Céus e terra cantam vero desejo
De me convidares p'ra jantarada,
Com fogo mal preso, estralejado.
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1989


2014 03 08 Foto victor nogueira - Crianças no Bairro Azul da Belavista, em Setúbal

CORAÇÃO ROSA DOS VENTOS

A tua carta é um pássaro pintado
…………………………com emoção e alegria!
Cada folha é uma seara dividida em quatro e
na delicadeza do teu olhar
sou um rio
……. leve rumor
….... suave brisa que passa e canta!
(Setúbal, 1992)


2013 03 08 Foto victor nogueira - a chegada à estação de Campanhã (Porto) aguardando o desembarque do carro


O Quarto Estado, de Volpedo

* Victor Nogueira (2012.03.08)
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Dia da mulher
é dia do homem
Haja o que houver
A noz não nos comem
.
Dia da mulher
é dia da mentira
boa p'ra esquecer
nos dias com ira
.
Dia da mulher
é pura assombração
sem adão na colher
é tudo negação
.
Dia da mulher
é tempo de comércio
tempo de colher
na bo£$a com ob$€quio
.
Dia da mulher
é tempo que não existe
se não for o crescer
da Humanidade que persiste
.
Dia da mulher
é dia sem fim
haja o que houver
em canto de alecrim
.
Dia da mulher
não é hora;
é tempo de vivencer
sempre e agora
.
Não há verso nem rima
nem varinha de condão
mas dia que arrima
varrendo a escuridão
.
dia da mulher
dia do homem
dia do homem
dia da mulher
.
dia da mulher
dia do homem são
dias dos homens
dias das mulheres
.
.
2012.03.08 Setúbal

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