Obrigado, muito obrigado
obrigado por todos os presentes que hoje me ofereceste
obrigado por tudo quanto vi, escutei, recebi
obrigado pela luz que me despertou
obrigado pela roupa que me veste, pelas cores que ela
tem e pelo corte que a faz bela
obrigado pelo jornal, pelas histórias do Tintin, sorriso semanal, pelas reuniões
austeras, pela justiça que se fez, pela partida ganha
obrigado pelo camião do lixo e pelos homens que o acompanham,
pelos gritos que soltam de manhã, pelos ruídos da rua que acorda
obrigado pelo metal, entre os dedos apertado, pelo longo lamento que
ele solta sob o aço que o morde, pelo olhar satisfeito do contramestre,
pelo carinho cheio das peças terminadas
obrigado pelo Camilo e pelo Carlos que se sentaram à minha mesa, pela simplicidade
do Rocha, pela mão do director no meu ombro, pelo
sorriso - sempre é sorriso - do Rola, pela malta de Económicas
que me reconheceu, pela amizade do Artur e do Luís Filipe
obrigado pela rua acolhedora que recebeu os meus passos, pelas
montras das lojas, pelos automóveis, pelos transeuntes, por
toda a vida que escorria lenta, entre as paredes das casas,
manchadas de sol
obrigado pela comida que me sustentou, pelo copo de café com
leite que há pouco me matou a sede
obrigado pelo autocarro que facilmente me levou onde eu queria
pela gasolina que o fez funcionar, pelo vento que
me afagou o rosto, pelas árvores que me saudavam quando
eu ia a passar
obrigado pelas miúdas que encontrei hoje
pela graça marota da Isabel., seu sorriso-riso sonoro
que alegra a gente
pelo ar sereno da Noémia
pelo sorriso da garota do Chiado, aquela que tinha uma
covinha no queixo,
pelas travessuras da Microbianas
pelo olá da puta que se cruza comigo diariamente
obrigado pela alegria do Jorge perante os brinquedos que comprara
obrigado pelos bons dias que me desejaram
pelos apertos de mão que reparti
pelos sorrisos com que me brindaram
obrigado pela mãe que em casa me acolhe, pela sua presença
obrigado pela amizade do pai, apesar do seu silêncio
obrigado pela amizade desajeitada do Zé Luís
obrigado pelo tecto que me abriga, pela luz que me ilumina,
pela música que ouço
obrigado pelo Zeca Afonso, pelo Vivaldi
obrigado pelos livros, pelo Steinbeck pelo Jorge Amado,
pelo Manuel Alegre e pelo António Reis
obrigado por tantos eles
obrigado pelo ramo de flores,
pela erva no telhado, pequenas florestas galgando montes
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