* Victor Nogueira
Vila Nogueira de Azeitão - monumento ao poeta Sebastião da Gama, da autoria do escultor Francisco Salter Cid, inaugurado em 2007.06.09
Há em Vila. Nogueira de Azeitão um pequeno museu (municipal) a ele dedicado e, na minha biblioteca, na secção de autógrafos, um livro de poemas com dedicatória à minha tia-avó Esperança, que esta me ofereceu, livro que lhe autografou quando esta passou férias no Forte de Santa Maria da Arrábida, no Portinho da Arrábida, então estalagem explorada pelos pais do poeta.
Monumento evocativo do poeta Sebastião da Gama, com excerto dum poema (Avenida Luísa Todi, em Setúbal)
O agoiro do bufo, nos penhascos,
foi o sinal da Paz.
O Silêncio baixou do Céu,
mesclou as cores todas o negrume,
o folhado calou o seu perfume,
e a Serra adormeceu.
Depois, apenas uma linha escura
e a nódoa branca de uma fonte amiga;
a fazer-me sedento, de a ouvir,
a água, num murmúrio de cantiga,
ajuda a Serra a dormir.
O murmúrio é a alma de um Poeta que se finou
e anda agora à procura, pela Serra,
da verdade dos sonhos que na Terra
nunca alcançou.
E outros murmúrios de água escuto, mais além:
os Poetas embalam sua Mãe,
que um dia os embalou.
(Sebastião da Gama - Serra Mãe - excerto)
Mural (pormenor) n Rua das Oliveiras, em Setúbal
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
(Sebastião da Gama - 1953)
“Monumento de Homenagem aos Pescadores de Setúbal” da autoria de António Pacheco, inaugurado em 2006, situa-se na Doca dos Pescadores. (fotos em 2012) A embarcação com a imagem de "N. Sra da Arrábida" retratada recebeu o nome de "Nossa Senhora Estrela-do-mar" e, numa placa, está contido o poema "Naufrágio", de Sebastião da Gama.
NAUFRÁGIO
Não era por mal …
A onda que vinha
não vinha por mal.
Mas veio, mas veio…
E logo a barquinha
partiu pelo meio.
Nem homem, nem velas.
Quando a bordo ia,
com fé abalara,
morreu já sem ela.
Mas, se a onda veio,
não veio por mal:
era irmã daquela
que chegou à praia,
que embala barquinhos
de meninos pobres.
Os meninos brincam.
Navegam em barcos
Feitos de cortiça,
Feitos de jornal.
Quase à mesma hora,
longe, os pais naufragam
sem nenhuma ajuda.
Mas não é por mal…
In ‘Cabo da Boa Esperança’
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