Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 11 de março de 2017

Espólio do Museu da Imagem, em Braga

Duzentos mil negativos de um lado para o outro

Na última semana, o ex-director do Museu da Imagem, Rui Prata, deu início a uma guerra de palavras com a Câmara de Braga por causa das condições estruturais e funcionais daquele equipamento. Este fim-de-semana, o edil bracarense anunciou a transferência do espólio do Museu para uma antiga escola.
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Na última semana sucederam-se as trocas de acusações entre a Câmara Municipal de Braga e Rui Prata a propósito do Museu da Imagem, do qual este foi responsável entre 1999 e 2015. As primeiras críticas vieram de Prata, que, em declarações à Rádio Universitária do Minho, acusou a autarquia de não resolver os problemas estruturais do museu e com isso pôr em causa o espólio de cerca de 200 mil negativos que estão à sua guarda.


CEP embarcando em Braga para Lisboa rumo a França em 1917 - Arquivo Aliança


Brasileira, em Braga - Arquivo Pelicano


Carnaval, Braga - Arquivo Aliança


Theatro Circo, Braga - Arquivo Pelicano


CEP embarcando em Braga para Lisboa rumo a França em 1917 - Arquivo Aliança


Arquivo da Casa Pelicano


Grupo de pândegos, Braga - Arquivo Aliança


Largo dos Penedos, em Braga, onde funcionou a Photographia Aliança - Arquivo Aliança

“O edifício carece de obras estruturais na fachada e telhado que evitem infiltrações de água. Quem lá entrar consegue ver o estado lastimável das paredes no rés-do-chão”, afirmou o antigo responsável por aquele espaço, para quem “a imagem positiva do museu foi-se desmoronando ao longo dos anos e a sua credibilidade, hoje em dia, é inexistente”. Ao PÚBLICO Rui Prata reiterou estas críticas e acrescentou: “O local onde se encontra o acervo, no último piso, não é o ideal. A máquina que faz o controlo de temperatura e humidade avariou e, tanto quando sei, não foi ainda reparada. O espólio está à mercê das alterações de temperatura. Isso é extremamente prejudicial para os negativos”. Para além desta máquina, segundo Prata, que esteve no Museu em Janeiro deste ano, tanto os desumidificadores como o ar condicionado também estão avariados. Contactada pelo PÚBLICO, a vereadora da Cultura da Câmara de Braga, Lídia Dias, garantiu que à medida que vão sendo reportadas avarias nestes equipamentos há lugar a reparações, mas admitiu que as “deficiências” naquele espaço “sempre foram uma constante” e que a hipótese de mudança de instalações está em cima da mesa.

Depois das primeiras denúncias de Rui Prata, a Câmara a respondeu através de um comunicado garantindo que os arquivos em depósito no Museu da Imagem “encontram-se nas melhores condições de conservação", deixando duras críticas à gestão de Prata. O município afirma ter feito obras na cobertura do edifício entre Dezembro de 2014 e Fevereiro de 2015, depois de “alertas provindos da sociedade civil”. Mas, já este sábado, citado pelo Correio do Minho, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, afirmou que “as condições estruturais [do Museu] não são as melhores”. Durante a inauguração da exposição Lausperene, o edil anunciou que o espólio do Museu será transferido para a antiga Escola do Bairro Nogueira da Silva, para onde será também transferido o depósito do Arquivo Municipal. Por seu lado, Lídia Dias adiantou ao PÚBLICO que, no final do ano, este local já estará em condições para receber este e outros espólios documentais da cidade.

O acervo do Museu da Imagem de Braga é sobretudo constituído pelo arquivo do estúdio de fotografia Aliança (cerca de 120 mil negativos), que funcionou naquela cidade entre 1910 e 1980, e pelo arquivo da Casa Pelicano (cerca de 80 mil negativos), em actividade entre cerca de 1930 e 1990. Há ainda cerca de 3000 provas fotográficas e dezenas de placas de zinco gravadas que serviam de matriz para postais. O Museu da Imagem está situado perto do Arco da Porta Nova e foi construído a partir de um edifício do século XIX e de uma torre do século XIV da antiga muralha medieval.

https://www.publico.pt/2017/03/07/culturaipsilon/noticia/200-mil-negativos-de-um-lado-para-o-outro-1764202#&gid=1&pid=1


Museu da Imagem Braga foto de Hugo Delgado.

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