Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 3 de março de 2017

"Tempo depois do Tempo" - Alfredo Cunha

O mundo a preto e branco tal como o vê Alfredo Cunha

Os 47 anos de carreira do fotógrafo apresentam-se nas 500 imagens de "Tempo depois do Tempo" que se revelam na Cordoaria

A primeira fotografia mostra uma rapariga a assistir a um concerto de Procul Harum, em Cascais, em 1962. Foi assim que tudo começou. Alfredo Cunha era um "miúdo hippie" que gostava de fotografar. "A fotografia sempre esteve na minha vida", diz. O avô e o pai eram fotógrafos, tinham um estúdio e faziam retratos. Alfredo devia ter uns 7 anos quando começou também a fotografar, lembra-se de ir com o pai fazer casamentos. Mas quando cresceu e se tornou um "miúdo hippie" sabia que gostava de fotografar, mas que não era bem aquilo que queria fazer. Começou por fotografar os amigos, os festivais de rock na Amadora, as viagens que fazia, o que via na rua. E depois surgiu o fotojornalismo. Primeiro ainda de forma muito incipiente no Notícias da Amadora e logo a seguir n"O Século, em 1970.

De então para cá passaram 47 anos. Dos mais de três milhões de imagens catalogadas de sua autoria, Alfredo Cunha escolheu perto de 500 para a exposição Tempo depois do Tempo, que se inaugura na sexta-feira no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa. Uma exposição retrospetiva que é "uma viagem no tempo", como ele mesmo diz. Demorou um ano e meio a prepará-la. Como fez a seleção? Ele sorri e responde apenas: "Com muito cuidado."

Não poderiam faltar as fotografias do 25 de Abril nem da descolonização, as imagens do Portugal profundo na crise dos anos 1980, as reportagens no estrangeiro, as festas em Vila Verde, a sua terra. Todas a preto e branco. Alfredo Cunha passou da película para o digital sem dramas e permaneceu no preto e branco por opção. "A minha linguagem, a minha forma de expressão é o preto e branco. Eu nem vejo a cores, é que não vejo mesmo, só me interessa o gradeante de cinza e mais nada."

Uma parte da exposição já esteve na Maia, no ano passado. Mas há dois núcleos novos. Há uma sala só com retratos: são 160, de Cruzeiro Seixas a José Luís Peixoto, de David Mourão Ferreira a Joana Vasconcelos, de Cunhal a Mário Soares (descalço, à secretária), de Salgueiro Maia a José Alves da Cosa, o homem que não disparou o tanque contra Salgueiro Maia, de Marcelo Rebelo de Sousa novo a Marcelo Presidente da República.

E há outra sala com o tema "Três décadas de esperança", evocando o trabalho do fotógrafo com a AMI - Assistência Médica Internacional, que o levou a sítios como o Haiti, o Sri Lanka, o Nepal, Bangladesh... "Um grande trabalho feito por conta de uma organização humanitária e não por um jornal, porque os jornais agora já não estão interessados nestes trabalhos", diz, sem esconder a desilusão.

Alfredo Cunha trabalhou na agência Lusa, no Público, na Visão, Comércio do Porto, Tal & Qual, 24 Horas, Jornal de Notícias, Global Media. Até 2012. "Já não sou jornalista", diz, para mais tarde corrigir: "Eu saí do jornalismo, mas o jornalismo não saiu de mim. Fui muito feliz no jornalismo, fiz muitas coisas e deu-me bagagem para agora ter projetos editoriais e fotográficos meus."

Projetos não faltam. A 1 de abril vai lançar, ali mesmo, no cantinho da Cordoaria onde estão as fotografias de Fátima, um livro dedicados aos 100 anos das aparições. Na Feira do Livro apresenta um outro livro sobre Mário Soares, que acompanhou durante 12 anos. Pelo meio há de voltar à Índia e depois irá a Cuba e ao Brasil, em outubro regressa à Guiné.

Alfredo Cunha tem 64 anos e continua a trazer sempre ao ombro a mala castanha onde carrega as máquinas fotográficas. E nunca esquece o que o pai lhe dizia: "Guarda tudo, fotografa bem, não sejas vulgar e faz coisas compreensíveis, para ti e para o resto das pessoas." "Esta exposição", diz, "é o resultado um bocado dos conselhos do meu pai, ele tinha um conceito muito utilitário da fotografia e encarava a vida dessa maneira. Eu tentei seguir esses conselhos. E embora tenha preocupações de ordem social, sou sempre muito otimista, acho que as coisas vão sempre melhorar."

http://www.dn.pt/artes/interior/o-mundo-a-preto-e-branco-tal-como-o-ve-alfredo-cunha-5696199.html

Alfredo Cunha fez uma "viagem no tempo" para mostrar o poder da fotografia


 | País
Porto Canal com Lusa


Lisboa, 01 mar (Lusa) - O fotógrafo Alfredo Cunha fez uma "viagem no tempo", de 1970 até à atualidade, para mostrar o poder "cada vez mais forte" da fotografia, numa exposição com 480 imagens que percorre a sua carreira, em Portugal e pelo mundo.

"Foi uma viagem no tempo. A última foto foi feita há cerca de 15 dias. Há aqui muitos trabalhos inéditos, que, por um motivo ou outro, não foram mostrados", disse, numa entrevista à agência Lusa.

Intitulada "Tempo depois do tempo. Fotografias de Alfredo Cunha 1970-2017", a retrospetiva partiu de um convite da EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, e é inaugurada na sexta-feira, às 19:00, na Galeria Municipal do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa.

É a maior exposição que Alfredo Cunha já fez, com imagens que evocam momentos históricos em Portugal, desde o 25 de Abril, o país, rural, profundo, o santuário de Fátima, e também as ex-colónias portuguesas, a descolonização, os retornados.

"O 25 de Abril, para mim, parece que foi ontem. As pessoas falam, por vezes, da Revolução, com uma distância que eu não consigo ter. Já fiz palestras para pessoas que não fazem a mínima ideia do que foi esse momento", comentou, sobre as históricas fotos daquele dia, com o capitão Salgueiro Maia, soldados, populares.

Fazer a seleção de imagens "foi muito difícil", confessou Alfredo Cunha, de 63 anos, à agência Lusa.

"Inicialmente tinha 5.000 fotografias, e todos os dias me lembro de fotografias que não entraram", referiu, comentando que, das 500 finais, acabaram por ficar 480, "por falta de espaço".

Fora do país, trabalhando para jornais, esteve nas ex-colónias, na Roménia, no Iraque e, mais tarde, nos 30 anos da Assistência Médica Internacional, percorreu países como o Níger, o Bangladeche, a Índia, o Haiti, o Sri Lanka, a Guiné-Bissau e o Nepal.

Escolher as fotos mais importantes é também muito difícil para Alfredo Cunha: "As minhas favoritas são umas 150. Podia referenciar a Guiné, os refugiados, o 25 de Abril, a descolonização. Mas ficam tantas pequenas histórias por contar, que são tão importantes".

Acaba por destacar uma foto que fez em Moçambique, com um menino, o Jeremias, que vivia com cerca de 50 cães, por baixo do Cinema Império.

"Foi um trabalho que fiz 1993, para o jornal Público, com o jornalista César Camacho, já falecido. Chamava-se 'Jeremias os Cães e a Guerra'. É uma das fotografias que mais me tocam", indicou, entre muitas.

Na mostra há também muitos inéditos, sobretudo na secção "Retratos", com personalidades da política, como Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares, Ramalho Eanes, e da cultura, como os escritores José Saramago e António Lobo Antunes, o ensaísta Eduardo Lourenço, o pintor Nadir Afonso, o compositor Bernardo Sassetti e, a mais recente, "feita há 15 dias", da historiadora de arte Raquel Henriques da Silva.

"Esta exposição estava parcialmente feita, e eu completei-a exatamente com esta secção, dos retratos, com muitos inéditos, parte de um trabalho que vou publicar no próximo ano", revelou.

Alfredo Cunha é a terceira geração de uma família de fotógrafos: "Começou com o meu avô, Alfredo Cunha, depois o meu pai, António Cunha. Para mim é uma tradição de família, que está comigo desde os sete, oito anos", disse o fotógrafo, que começou a fazer fotografia com o pai.

"É uma coisa que está comigo desde sempre. Não imagino não ser fotógrafo", comentou, acrescentando que não utiliza muito o termo fotojornalista.

"Eu era um jornalista que fazia fotografia. Vivi sempre nos jornais. Hoje já não estou nos jornais, mas os jornais não saíram de mim", sublinhou o fotógrafo, acrescentando que "o poder da imagem continua a ser cada vez mais forte, e com uma nova geração de fotógrafos fantástica. Do melhor".

Parte da coleção de fotografia de Alfredo Cunha encontra-se no Centro Português de Fotografia do Porto e no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, de que é o maior doador, tendo contribuído com mais de 500 fotografias em papel e mais de 5.000 digitalizadas.

AG // MAG
Lusa/Fim

http://portocanal.sapo.pt/noticia/115880/

500 fotografias da vida de Alfredo Cunha para ver na Cordoaria

26 fev, 2017 - 10:53
Da revolução de Abril à descolonização, exposição retrospectiva de cinco décadas de carreira de Alfredo Cunha apresenta imagens que ficaram na história do país, mas também retratos das expedições fotográficas realizadas noutros pontos do planeta em situações difíceis.

Uma exposição com mais de 500 fotografias de Alfredo Cunha, que cobrem quase 50 anos de trabalho, é inaugurada a 3 de Março na Galeria Municipal do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa.
Intitulada "Tempo depois do tempo. Fotografias de Alfredo Cunha 1970-2017" a retrospectiva apresenta diversas imagens que ficaram na história do país ainda antes do 25 de Abril de 1974, de acordo com a organização, a cargo das Galerias Municipais de Lisboa.
Momentos que ficaram na memória colectiva dos portugueses, como as imagens do capitão Salgueiro Maia no dia da Revolução dos Cravos, ou dos contentores chegados das ex-colónias africanas portuguesas ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, vão ser integradas nesta exposição.

Salgueiro Maia, durante o 25 de Abril. Foto: Alfredo Cunha
Ao longo de 47 anos, Alfredo Cunha captou, não só factos históricos como rostos anónimos pelo mundo inteiro: a queda do ditador Nicolae Ceausescu, na Roménia (em 1989), a guerra no Iraque, país onde esteve em 2003 e ao qual regressou várias vezes na última década.
Em 2012 tornou-se fotojornalista freelancer e participou no projecto comemorativo dos 30 anos da Assistência Médica Internacional "Três Décadas de Esperança", que o levou a percorrer países como o Níger, a Roménia, o Bangladesh, a Índia, o Haiti, o Sri Lanka, a Guiné-Bissau e o Nepal.

Funeral em Bucareste, na Roménia (1999). Foto: Alfredo Cunha
No quadro destas viagens criou o livro "Toda a esperança do mundo", tendo também publicado reportagens nos jornais Expresso e Público.
Nascido em 1953, em Celorico da Beira, neto e filho de fotógrafos, Alfredo Cunha foi cedo influenciado pelo pai António, que começou a levá-lo a fotografar casamentos com cerca de 10 anos.

Mãe e filho, no Níger, um dos países mais pobres do mundo, onde há aldeias de escravos (2014). Foto: Alfredo Cunha
O seu trabalho também foi inspirado na obra de fotógrafos como Philip John Griffiths, Eugene Smith, Cartier-Bresson, Ferdinando Scianna, James Natchwey, Eugene Richards, Cristina Garcia Rodero e Josef Koudelka.
Reconhecido pela crítica como um dos maiores fotojornalistas da actualidade, foi distinguido com prémios nacionais e internacionais, entre as quais a Comenda do Infante D. Henrique, em 1995.

Vindimas no Douro (1997). Foto: Alfredo Cunha
Parte da sua colecção encontra-se no Centro Português de Fotografia do Porto e no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, de que é o maior doador, tendo contribuído com mais de 500 fotografias em papel e mais de 5.000 digitalizadas, segundo o comunicado das Galerias Municipais.
Alfredo Cunha iniciou em 1970 a sua carreira profissional em fotografia publicitária e comercial e, no ano seguinte, em 1971, a carreira de fotojornalista no "Notícias da Amadora".

Vila Verde (1999). Foto: Alfredo Cunha
Trabalhou para o jornal "O Século" e para "O Século Ilustrado" (1972), na Agência de Notícias Portuguesa - ANOP (1977), nas agências de Notícias de Portugal (1982) e Lusa (1987).
Adicionalmente, trabalhou no jornal "Público" como fotógrafo e editor entre 1989 e 1997, na revista semanal "Focus", na RTP, no "Jornal de Notícias" e na "Global Imagens".

Guiné Bissau (2015). Foto: Alfredo Cunha
Publicou diversos livros de fotografia entre os quais "Raízes da Nossa Força" (1972), "Vidas Alheias" (1975), "Disparos" (1976), "Naquele Tempo" (1995), "O Melhor Café" (1996), "Porto de Mar" (1998), "Cuidado com as crianças" (2003), "Cortina dos Dias" (2012), "O grande incêndio do Chiado" (2013), "Os rapazes dos tanques" (2014) e "Felicidade" (2016).
A retrospectiva - organizada por décadas e em núcleos, desde o nacional, internacional, retratos e AMI - vai ser inaugurada no dia 3 de Março, às 19h00, e ficará patente até 25 de Abril.
http://rr.sapo.pt/noticia/77071/500_fotografias_da_vida_de_alfredo_cunha_para_ver_na_cordoaria


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Por PÚBLICO
A retrospectiva do fotojornalista Alfredo Cunha (n.1953, Celorico da Beira) compreende mais de três centenas de trabalhos produzidos ao longo de 46 anos – um conjunto de imagens que ilustram a sua carreira, mas também momentos marcantes da História portuguesa.

http://lazer.publico.pt/exposicoes/361696_tempo-depois-do-tempo-fotografias-1970-2016


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